FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Entrevistando o Exhale The Sound: Expurgo

O trio anti-música faz grindcore à moda antiga com influências que alcançam o gore, o death e o punk/crust; leia a entrevista que tivemos com o guitarrista Phil, ex-Putrifocinctor.

Os caras do Expurgo apostam numa avalanche anti-música livre de adornos ou quaisquer tratamentos que os enquadrem no panorama do grindcore mais moderno, todo técnico e repleto de influências de outros estilos. Crueza é a palavra mais acertada aqui. E é certamente por isso que a banda se apresenta como “old school grindcore”. “Não que eu tenha algo contra, é só pra diferenciar mesmo”, pondera o guitarrista Philipe. Na prática, isso significa que se você curte umas paradas tensas tipo Carcass, Napalm Death, Extreme Noise Terror e Doom, o Expurgo não vai te decepcionar. Formado atualmente pelo Egon (vocal) e o Anderson (batera), além do Philipe, eles estão por enquanto sem baixista fixo.

Publicidade

O conjunto é de Belo Horizonte e nasceu em 2003. Sua discografia baseia-se numa porção de splits, uma demo (Grey Waste, 2005) e um long-play (Burial Ground, 2010). Depois de uma brutal e vertiginosa performance na primeira edição do festival Exhale The Sound, a curadoria escalou os doidos pra rachar o assoalho mais uma vez em 2014. O Expurgo sobe ao palco na segunda data do evento, que rola no Espaço 104, em BH, nos dias 10 e 11 de outubro, com 24 atrações nacionais dedicadas à sonzeira torta e pesada. Até lá, vamos entrevistando algumas das podreiras mais style no line-up. Dá um bizu no papo que tive como Phil:

Noisey: Bem, vocês foram uma das atrações mais elogiadas da edição do ano passado do Exhale. Para este ano, vão levar um show similar ao que rolou em 2013?
Philipe: Basicamente o mesmo esquema de sempre. E, na hora que começarem a entender do que se trata, o show já acabou. Fica aquele zumbido no ouvido e o gosto de sangue na boca.

O que tem de novidade ou de diferente desta vez para mostrar pro público?
Deve rolar umas músicas novas que compomos para o próximo full, e que deve ser gravado em breve. E o lance do baixo, grandes chances do Bruno, nosso primeiro baixista, vir de São Paulo pra tocar com a gente. Se não der, vai sem baixo mesmo e boa.

Um lance curioso das bandas de grind é que a maioria dos lançamentos seguem o formato split. Estive dando uma olhada na discografia de vocês, e notei que isso rola também com o Expurgo. Desde que a banda se formou vocês lançaram só um full lenght mesmo?
Sim, foi só um full lenght, o Burial Ground, de 2010.

Publicidade

O que motiva essa cultura dos splits entre as bandas de grind? É mais barato ou fácil de divulgar?
Isso vem desde muito tempo atrás. É uma forma das bandas racharem custos e fazer um lançamento simultâneo. Pro pessoal que gosta é o máximo, tipo, um lançamento e duas bandas. Você falou bem, é um lance cultural mesmo, nós achamos isso muito foda. Tem muito da ideia do grind nessa parada, uma delas é a cooperação e não a competição.

Vocês já estão há 11 anos na estrada, correto? Desde que a banda foi formada, o que mudou do tipo de som ou mesmo na tônica das letras em relação à fase atual?
Na verdade, se você ouvir a demo do Expurgo e os primeiros splits vai ver que o som mudou de lá pra cá em algumas coisas. No começo era um desespero, aquela gritaria, meio noise, muita metranquera rapidona com uns pula-pula, afinação mais baixa ainda, umas bases de guitarra meio dissonantes. Com o passar do tempo, o som foi ficando bem mais simples, mais direto. Hoje em dia no set a gente mescla umas veiaria com umas novas, fica bem massa. 107 músicas depois, vocês ainda se sentem inspirados para compor no mesmo ritmo dos primeiros anos de banda? Como é o processo criativo do Expurgo? Às vezes dá umas travadas no esquema, umas crises de querer se superar a cada som novo, esse tipo de coisa?
Cara, a gente custa a compor, mas quando resolve o lance sai muito, mas muito fácil. Pra você ter ideia, neste ano de 2014, em três meses, de janeiro a março, nós fizemos 45 músicas novas. Algumas vão pro full, outras pra split, e outras ficam pra depois. Sei lá velho, nós nos conhecemos há uns 20 anos, rola quase que uma transmissão de pensamento. E o som é bem simples também, não tem outro tipo de recado diferente pra dar.

Publicidade

Quando o Expurgo entra em estúdio para gravar, vocês se apegam aos pormenores de microfonação, efeitos, dobras de instrumentos?

Não somos nada técnicos. Mas assim: existe um grande esforço pra fazer a parada bem feita, isso é verdade, com as marcações certas e tal. Mas não é nada do tipo “preciso de uma sala maior pra ter mais reverberação na captação de som da batera”. Eu nem sei como isso soaria! [risos].

Eu vi que vocês lançaram a discografia toda da banda em k7, não é? Ainda rola uma boa demanda ou fetiche por esse formato entre a galera que curte um grind?
Mais fetiche do que demanda. Tem saída, mas são poucos que compram porque muitos nem têm toca-fitas mais. Mas, velho, como vou te explicar… Parece que o grind foi feito pra tocar em k7, tem alguma coisa naquelas fitinhas que deixa o som cem vezes mais foda! [risos]. Tem também aquele lance da época das fitas que era uma pirataria feita muito na tora, muito antiindústria musical mesmo, saca?!

Essa discografia está disponível em outras plataformas?
Não, a discografia só está disponível nesse formato. Ou seja, não tem com você ouvir somente a música número 75 porque você não vai conseguir rebobinar a fita e encontrar ela certinho. Portanto, abra sua latinha aí e deixa a fita rolar INTEIRA no som. Aproveita pra ir lendo o encarte.

Vindos de Belo Horizonte, um lugar que tem uma tradição de bandas pesadas muito foda no passado, vocês são influenciados, admiram ou mesmo cresceram ouvindo aquelas bandas locais que fizeram história?
Nós crescemos aqui, vivemos intensamente boa parte de tudo o que rolou na cidade naquela época à qual você se refere e isso influencia, sim, com certeza. Não é uma questão de ter orgulho, não somos melhores do que ninguém por isso. E num tô dando de falso humilde, não. Na real, orgulho de quê? Essa parada meio “territorialista” nunca nos pegou muito, não: “Sou de BH!” – foda-se, cara.

Publicidade

Qual é a trajetória musical de vocês antes do Expurgo? Vocês já se conheciam de outras experiências ou vieram de outras bandas?

O Egon (vocal) e eu sempre tocamos juntos desde moleques, parceria velha. Antes do Expurgo tínhamos o Putrifocinctor, talvez alguns se lembrem. Daí veio o Anderson (batera), que era baixista do Sarcasmo… ele resolveu tocar batera e definitivamente fudeu nossa vida de vez, maldita hora que conheci esse rapaz…

Quando não está ouvindo esses sons de louco, que outros tipos de música você curte?
Cara, eu particularmente gosto muito de soul music, break e electro-funk do anos 1980. Escuto bastante isso.

Fique por dentro de outras desgraceiras não indicadas para ouvidos sensíveis:

Entrevistando o Exhale The Sound: ROT

Entrevistando o Exhale The Sound: Abske Fides

Exhale The Sound 2014

Dia 10/10, a partir das 19h; 11/10, a partir das 15h.

Espaço 104. Pça Ruy Barbosa, 104, Centro, Belo Horizonte/MG.

Ingressos: R$ 20, para o dia 10; R$ 35, para o dia 11; R$ 45, para os dois dias.

À venda no Espaço Veg: R. Fernandes Tourinho, 441, Savassi, Belo Horizonte.

Pela internet: Sympla / Noise Stuff