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Música

Entrevistando o Exhale The Sound: ROT

Em outubro rola a segunda edição do festival mineiro dedicado à música pesada e extrema; até lá, vamos trocando ideia com as bandas do line-up, a começar com o quinteto mais fera do grindcore nacional.

Depois de entrar para a história da música radical brasileira como um dos pioneiros conjuntos de grindcore, o ROT, formado em 1990, encerrara suas atividades em 2008. Para o desgosto de quem curte uma boa desgraceira, aquilo parecia mesmo o fim de uma banda que mudou para sempre o jeitão tupi de fazer barulho acrescido de boas ideias. Alguns encontros ocasionais embalados por umas brejinhas, no entanto, motivaram os caras a se reunirem novamente no ano passado para testes, ensaios, e o que se pode afirmar agora é que o ROT está de volta para rachar o assoalho mais uma vez. Com a seguinte formação: Marcelo e Marcolino nos vocais, Mendigo na guitarra, Alex “Bucho” no baixo e Rafael na bateria.

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A volta do ROT é uma das atrações mais aguardadas da segunda edição do festival mineiro dedicado ao som pesado Exhale The Sound. Em 2014, o evento vai ocupar o Espaço 104, referencial casa de cultura de Belo Horizonte, na região central da cidade. Nos dias 10 e 11 de outubro, 24 bandas de todos os cantos do país passam pelos dois palcos do festival. Vai rolar ainda uma feira de publicações independentes, selos e distribuidoras de discos, além da exibição de vídeos e documentários.

Iniciamos aqui uma série de entrevistas com as pauleiras mais destacadas do evento. Representando o ROT, conversei com a dupla que formou a banda lá nas antigas, o Marcelo e o Mendigo. Eles já eram ativos no underground punk e metal quando montaram o grupo, fosse tocando em outros atentados sonoros, editando zines, trocando fitas-demo pelo correio ou organizando shows. Um lance curioso e admirável do ROT é que, a despeito de suas letras ácidas e seu modo de atuação do it yourself, eles nunca foram representantes deste ou daquele movimento. O ROT, afinal, representa os pensamentos, estética e ideais caros aos seus integrantes. Nada além. Ainda assim, e talvez justamente por isso, são uma das bandas mais respeitadas do rolê punk-hc-death-thrash.

Noisey: O que motivou o retorno e o que vocês têm produzido desde então? Estão rolando novas composições, algum lançamento nesse período?
Marcelo: Olha, eu sempre fui meio avesso a esse papo de retorno, porém confesso que a ideia de poder fazer algo diferente, que ainda não havíamos feito, ou simplesmente dar uma roupagem nova a algumas coisas, é empolgante! Estamos compondo e gostaríamos de gravar algo esse ano, mas como na maioria das vezes as coisas não acontecem do jeito que queremos, acho que lançar algo novo vai ficar para o ano que vem.

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Mendigo: Tem o fato de sermos amigos há muito tempo e de acreditar que seria a hora certa para tocar juntos novamente.

O ROT é uma banda que atravessou os anos 1990 e 2000 sem nunca se desviar, digamos, da ética underground. Isso se deve ao fato de vocês terem ideais muito sólidos, ou porque fazem um tipo de som cuja estética é extrema até mesmo em comparação ao tipo de punk/hc/metal que a cultura de massa está pronta para acolher?
Marcelo: Acho que, nisso, o que prevaleceu foi mesmo o caráter da banda. Veja, de uns anos pra cá muita coisa mudou. Esse termo “extremo” foi completamente absorvido e perdeu o seu sentido de radicalização, e hoje só parece dizer respeito ao tipo de som que é tocado e não mais às ideias por trás disso. Muitas bandas “extremas”, cujo objetivo era esse acolhimento pela grande mídia no intuito de conseguir uma exposição maior e, consequentemente, status de banda “grande”, foram e até conseguiram, nada contra, cada um escolhe o que acha que é melhor, mas essa nunca foi a estrada que desejamos trilhar com o Rot. Também não vejo nada de errado em usar alguns desses meios para divulgação desde que a essência seja preservada, mas mais uma vez isso só depende de cada um.

Em algum momento de sua trajetória o ROT teve ou tem ligação com algum tipo de movimento? Tipo o anarco-punk?
Marcelo: Na verdade, nunca. Nós sempre tocamos juntos e tivemos (e ainda temos) amizades com indivíduos de diversos grupos, mas como banda, sempre andamos com as próprias pernas e seguimos nossas próprias ideias. Revendo isso hoje em dia, foi uma das melhores coisas que fizemos, pois nos mantivemos independentes.

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Mendigo: Acredito que o Rot, modestamente falando, foi uma das poucas bandas que em uma gig reunia pessoas de vários grupos dentro da cena e nunca precisou hastear uma bandeira ideológica ou participar de um coletivo ou grupo. Porque o que sentíamos e expressamos estava latente em nosso som e letras, sempre procuramos ser bem transparentes.

Quantos discos oficiais o ROT tem lançados? É certo dizer que a banda já teve diferentes fases? Ora pendendo mais para o grind, ora para o trash/death, ou algo do tipo?
Marcelo: Boa pergunta! Se ela fosse feita dias atrás eu não saberia te responder, mas andei fazendo um levantamento da discografia da banda para o site e posso te responder sem medo: ao todo são 27 títulos, entre EPs, LPs e CDs, além de várias participações em coletâneas e fitas cassete. Sobre o som da banda, não acho que ora pendemos para isso ou para aquilo, sempre soubemos dosar tudo e encaixar dentro de nosso estilo.

Mendigo: Esta é uma das vantagens de tocar grindcore, de não estar preso ao estilo, o que nos dá uma certa liberdade de dosar outros gêneros dentro da música experimental e subversiva.

Vocês têm alguma crítica, positiva ou negativa, ao estado das coisas no cenário atual?
Marcelo: Ando meio desatualizado e desinteressado sobre o que está acontecendo de bom e de ruim nesse meio.

Mendigo: Ouvi algumas coisas, confesso que pouco me agradou, parece que as pessoas adquiriram técnica e esqueceram o feeling, tudo parece ser uma tábula rasa, onde qualquer coisa que soe “extremo” é taxado de grindcore. Mas acho que tudo que é feito com honestidade dentro da proposta de cada um é o que vale, não sou o dono da verdade e nem estou aqui para julgar ninguém.

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Já rolaram umas coisas doidas nos shows de vocês em todos esses anos de banda?
Mendigo: Em quase 25 anos de banda, muitas coisas aconteceram. Vou tentar elucidar uma gig feita em Osasco, no começo deste século, quando estávamos tocando nosso set e, de repente, um maluco deu um mosh na bateria desmontando-a inteira. Quando olhamos para trás, imediatamente o Ricardo (batera na época) montava sossegadamente seu instrumento, enquanto o autor do salto (Jabá, ex-Ratos de Porão e atual Periferia S/A) se lamentava e pedia desculpas, todo machucado… Foi engraçado para quem estava lá e inusitado ao mesmo tempo.

Vocês têm na manga alguma coisa diferente ou inédita para apresentar no Exhale? O que podem adiantar sobre o que vão levar ao palco do festival?
Marcelo: Estamos ensaiando alguns sons que há anos não tocamos ao vivo e devemos adicioná-los ao set que já é composto de sons que resumem bem a trajetória da banda. Nada de efeitos com laser e/ou pirotecnia por enquanto galera!

Mendigo: Estamos muito ansiosos para esta gig, e cuidando do set com muito carinho!

Exhale The Sound 2014

Dia 10/10, a partir das 19h; 11/10, a partir das 15h.

Espaço 104. Pça Ruy Barbosa, 104, Centro, Belo Horizonte/MG.

Ingressos: R$ 20, para o dia 10; R$ 35, para o dia 11; R$ 45, para os dois dias.

À venda no Espaço Veg: R. Fernandes Tourinho, 441, Savassi, Belo Horizonte.

Pela internet: Sympla / Noise Stuff