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Música

Uma História Oral do Neu

Depois de oito anos de existência, uma das principais baladas indies paulistanas fecha as portas nesta terça-feira (1). Falamos com os três sócios e mais alguns frequentadores para tentar traçar o legado da casa do Água Branca para as noites de São Paulo.

Foto por Ananda Deckjii

​​Faz mais ou menos um mês que a página do Facebook do Neu​ trouxe uma notícia triste pra noite indie paulistana: os três sócios Dago Donato, Guilherme e Felipe Barrella anunciavam que, nesta terça-feira (1), eles fariam a última festa da casa​ e, depois, fechariam as portas do lugar definitivamente.

Foram oito anos de existência do Neu, nos quais esse sobrado aconchegante do bairro Água Branca conseguiu se diferenciar do resto das baladas de São Paulo, principalmente, por causa de: 1) sua curadoria musical das festas — que iam desde aquelas com uma seleção dos maiores hits indies da vida, como a Indie Colosso, até aquelas em que só tocavam música 100% BR, como a Brasa (herdada do também extinto Berlin);  2) ser um pico em que "você pode ir sem marcar com ninguém, porque é certeza que você vai encontrar algum amigo lá" e 3) conquistar um número considerável de habitués fiéis que acabaram "virando parte do Neu".

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Muitas personalidades da cena underground da capital paulista (e até de outras cidades) dançaram muito Animal Collective nas pistas do Neu e deram muito PT na sarjeta da Rua Dona Germaine Burchard.  Mas é aquele negócio: tudo que é bom acaba um dia e, com o Neu, infelizmente não foi diferente. Para o Noisey tentar fazer jus ao legado da casa para a noite paulistana, falei com os três sócios e mais com uma porrada de frequentadores e de outras pessoas importantes para o Neu, a fim de escrever uma história oral do lugar. Todas as fotos que ilustram a matéria são de autoria da fotógrafa (e habituée) da casa Ananda Deckjii, que fotografava quase todos os finais de semana de lá de 2009 até 2014 mais ou menos e que me cedeu gentilmente as imagens. Leia abaixo:

Peligro e o começo do Neu

Entrevistados
Dago Donato: DJ e sócio
Guilherme Barrella: Também produtor de festas e sócio
Felipe Barrela: Irmão do Gui e sócio

Dago Donato: A gente (eu e o Gui Barella) fazia festa no Milo, a Peligro​. Ao mesmo tempo, o Guab fazia festa lá também, no sábado, e o Felipe (irmão do Gui) era gerente do Milo. Eu e o Gui começamos a pensar em abrir um lugar, porque a gente tava um pouco cansado daqueles rolês Augusta e Vila Madalena. Falamos com o Felipe e o Guab e eles toparam.

Guilherme Barrella: Nessa época, eu morava com os meus pais e com o meu irmão, que também é sócio do Neu e trabalhava no Milo. E a gente sempre voltava pra casa conversando sobre como seria o nosso bar, a nossa balada, etc. Mas a gente não tinha grana, só tinha as ideias, né. Enfim, um dia, nós quatro, eu, o meu irmão, o Dago e o Guab,  achamos que conseguiríamos dar esse passo. A gente abriu com três festas geridas por nós mesmos, sem promoter. Acho que isso foi o diferencial.  O Guab acabou saindo depois de um tempo, mas ele sempre se manteve próximo de nós e ainda continuou fazendo festas no Neu até agora.​

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Felipe Barrella: Eu fui o primeiro bartender da história do Milo, onde o Gui, o Dago e o Guab discotecavam. Treinei todo mundo lá e tal, então eu já tinha uma experiência nessa área, na época. Por isso, quando o Gui e o Dago vieram com a ideia, o processo inteiro foi meio que dando certo naturalmente.

André Paste e Dago Donato. Foto por Ananda Dejckii.

A casa, a rua Dona Germaine Burchard e o nome "Neu"

Entrevistados
Guilherme Barrella
Dago Donato

Dago Donato: Começamos a pensar sobre o que a gente gostava ou não gostava na noite paulistana. Primeiro, a gente queria que fosse numa casa. A gente não queria que fosse nem na Vila Madalena, nem na Augusta. A real é que a gente queria que fosse em algum lugar agradável para nós quatro mesmo frequentarmos. Aí, o Gui falou que conhecia essa rua, Dona Germaine Burchard, só que não tinha nenhuma casa lá pra alugar. Acho que ficamos mais de seis meses esperando aparecer algum lugar. Quando a gente tava quase desistindo, apareceu essa casa aí, do número 421, e a gente alugou.

Guilherme Barrella: Eu, quando era criança, fazia natação no ginásio esportivo do governo do estado, que fica atrás do Neu. Agora, esse ginásio está reformando, mas na maior parte da existência do Neu, ele tava funcionando. E tem uma piscina muito legal. Eu sempre fiz natação na minha infância e é daí que eu conheço essa rua, né. Um dia, eu tava passando por ali, com essa ideia de abrir o nosso negócio, e percebi que aquela rua, que antes era toda residencial, tinha virado quase tudo comercial. Por isso, pensei que seria um lugar legal pra abrir uma balada. Mas demorou um ano mais ou menos pra gente achar aquela casa.

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Quando a gente finalmente concretizou a ideia, começamos um brainstorm de nomes, porque a gente não podia escolher qualquer nome, né? Afinal de contas, íamos carregar esse nome pelo menos por um tempo, né? Nós gostávamos de krautrock. Daí, pensamos em "Neu", porque é "novo" em alemão. Então, além de carregar a ideia que a gente queria mesmo passar — a de ser um lugar, uma opção nova pra noite paulistana —, era um nome curtinho. Só tem a questão da pronúncia, né. Várias vezes vi a galera na fila discutindo: "Não, se pronuncia 'Neu'". "Não, é 'Nói'". Isso virou um assunto clássico da fila.

Boca a boca

Entrevistados
Dago Donato
Felipe Barrella

Dago Donato: O dia da abertura foi numa quinta-feira. Meio que só pra amigos. Não tinha nem iluminação direito. Lembro que tava tendo show no Studio SP, na Vila Madalena. Todo mundo tava lá e caiu pro Neu depois. Bem, eu não lembro em detalhes, porque fiquei bêbado nesse dia. Mas isso foi na quinta, daí já rolou um primeiro fim de semana. Na sexta, a gente recebeu umas 150 pessoas, mas no sábado a casa já tava lotada. Rolou um boca a boca gigante.

Felipe Barrella: No começo, a gente fazia tudo, né? Desde a produção da música, até a limpeza. Então, acho que isso fez a gente ter mais amor pela casa, conquistamos um bom número de habitués em pouco tempo. Gente de todos os cantos que tava vindo atrás de coisa diferente mesmo. Nós não tínhamos o nome na fachada da casa, por exemplo. Desde antes de existir lei proibindo, a gente já proibia a galera de fumar na pista. Então, acho que muita gente ficou interessada por causa disso. Em menos de seis meses que abrimos, já tínhamos um público bem grande. Acabamos saindo em alguns veículos jornalísticos na época, o que acabou aumentando a curiosidade da galera. Mas o boca a boca foi fundamental pro começo da casa.

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Rolezinho no Neu. Foto por Ananda Deckjii.

A música, as festas e as feirinhas

Entrevistados
André Paste: DJ de Vitória (ES) e amigo do Dago
Pedro Bruno: baixista do Holger 
Amauri Filho: ex-bartender e gerente do Neu desde maio de 2015
Fernando Dotta: Sócio do selo paulistano Balaclava e da casa de shows Breve

André Paste: Eu sou de Vitória e desde 2009 ou 2010 eu acompanho o Neu pela internet. Gostava demais dos flyers e sempre ficava muito impressionado com a curadoria das festas. Todos meus DJs favoritos do mundo todo tocavam por lá. E eu conhecia o Dago do Twitter. Nosso primeiro contato foi trocando MP3 de tecnobrega, que na época chegava muito pouco no Sudeste. Depois de um tempo, ele me convidou pra tocar na Explode, que era a festa dele de global bass/música eletrônica dos guetos do mundo todo. Já tocou muita gente da galera da ZZK, selo de cumbia eletrônica da Argentina, entre outros, nessa festa. Então, eu fiquei super honrado quando o Dago me convidou.

Foi no dia 16 de julho de 2010 a minha primeira Explode. Existe um André antes dessa festa e um André depois dessa festa. Foi através dela que conheci grandes amigos que vou levar pro resto da vida, e descobri que existe muito mais música foda no mundo do que eu com 17, 18 anos  imaginava. Tenho as melhores lembranças do mundo de lá. A pista é sempre muito foda, toquei do lado de grandes ídolos como Fauna, DJ Marfox, Li Saumet do Bomba Estéreo, Villa Diamante, Waldo Squash e fiz meio bilhão de amizades no quintal.

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Bomba Estéreo no Neu. Foto por Ananda Deckjii.

Pedro Bruno: Eu só não fui na festa da inauguração da Neu porque tava viajando. Mas no segundo fim de semana da casa, eu estava lá. E  inaugurei em grande estilo, dando PT e sendo carregado pra fora por uma amiga de faculdade. Minha primeira noite lá também foi minha primeira sarjeta na Germaine Burchard. Durante os primeiros meses, ou anos, aquele lugar foi mágico pra mim: era a única casa capaz de colocar fãs e gente que não fazia ideia de quem era o Animal Collective de joelhos no chão, batucando a batida de "Brother Sport" até as mãos sangrarem. Lá, eu vi amigos e ídolos tocarem, DJs, bandas, mitos do indie nacional se pendurarem no teto. Vi diversas danças da cordinha tirando a vergonha dos mais retraídos. Vi um balcão do bar com uns 17 jagerbombs cortesia para os amigos que resistiram até às 07h da manhã. Vi uma ponte de cadeiras que ligava o toldo aos banheiros numa tempestade. Vi festas juninas com quitutes e decoração. Eu já fui pra lá depois da ceia de natal de chapéu de papai noel. Vi casais se conhecerem, acabarem e até casarem lá. Discotequei, toquei (com o Holger) e tive festa. Nos primeiros anos, ficava até os portões fecharem, pois voltava de carona com o Dago. Nos últimos, muitas vezes, chegava a tempo de tomar uma última cerveja (ou Jagerbomb), pois morava ali do lado e não resistia ao passar na frente e ver o Marcelão, o segurança, na porta, me convidando para entrar.

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O Holger teve uma relação muito forte com o Neu também. Tivemos a Holger Nightz lá por um belo tempo. Era uma festa que a gente chamava amigos e bandas para tocarem o que bem quisessem. No começo tinha concurso de dança, mas logo desistimos disso porque a gente queria mesmo era curtir sem regras. Conseguimos trazer várias bandas de fora de São Paulo pra tocar lá, além de ter sido convidados para tocar (como DJs) em várias outras festas e cidades. Além, claro, dos shows que fizemos lá, que foram sempre muito legais de se fazer pois estávamos jogando em casa.

Pedro Bruno e Marcelo Altenfelder, do Holger. Foto por Ananda Deckjii.

Amauri Filho: Comecei como bartender na Neu em 2013, mas virei gerente em maio de 2015. Vi várias festas legais. Uma noite que foi bem maneira foi o aniversário de 2014, quando o Dago trouxe um produtor chamado JSTJR como atração internacional. Mas todos os aniversários da casa sempre foram muito bons, porque os "amigos do Neu" vinham em peso e a gente sempre ficava até bem depois do fechamento da casa, bebendo e dando risada.

A real é que não existe outra casa em SP com a estrutura do Neu. Enquanto discotecagem, hoje a maioria das festas são itinerantes, né? Nada impede que elas aconteçam com a mesma curadoria em outros clubes, mas elas não vão reunir as mesmas pessoas com aquele clima de festa na casa dum amigo que o Neu proporciona.

Fernando Dotta: Acho que eu tava sempre bêbado demais pra lembrar, mas fui em  muitas festas incríveis no Neu. O clima lá é bom demais. Lembro de uma noite de Freedom 90's, que só fiquei eu e mais dois amigos, a Babee e o Mitkus, na pista inteira gritando todas músicas que rolavam. Foi uma sequência foda de Spoon, Guided by Voices, Built to Spill, Flaming Lips, Mercury Rev. Isso dava nostalgia das festas da Peligro, onde eu conheci o que era música boa.

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Marcante também que a Neu foi o lugar que recebeu a nossa primeira feira de selos independentes em 2013, que ainda não tinha o nome de Sacola Alternativa, mas era um embrião da ideia. A partir dali,  vimos que dava pra ir além da função do selo e que conseguiríamos atuar como uma produtora também.

Fernanda Cardoso e o marido. Foto de arquivo pessoal.

Casamento no Neu

Entrevistada
Fernanda Cardoso: diretora artística e "herdeira" da festa Brasa

Fernanda Cardoso: Eu frequento a Neu desde o dia 1, mesmo. Fui na festa de inauguração e tal. É que eu já conhecia o Dago, porque a gente tinha trabalhado junto. Então, eu acompanhei a concepção da Neu. Antes, o Dago e o Gui faziam uma festa de música brasileira no Berlin, a Brasa. Quando eles foram pra Neu, acabou que eu herdei a festa.
 
Passei vários momentos importantes na Neu, encontrava sempre meus amigos lá, essas coisas, e meu primeiro beijo com o meu marido foi lá (o da minha irmã com o marido dela, também). Então, quando resolvi me casar, comecei a pensar em possíveis lugares pra festa. Daí, pensei: "Putz, e se a gente casasse na Neu? Será que os meninos iam topar?". Acabou que eles adoraram a ideia. Meio que a gente produziu tudo, decoramos a casa. Foi uma festa de dia que meio que estendeu com a balada da noite. Foi uma cerimônia pequena, pra umas 120 pessoas, e a maioria era de amigos. E, claro, tinha a galera da Neu que sempre tava lá: o Amauri, que hoje é gerente, tava no bar no dia. A mina dele estava na função de receber os convidados na porta. O Marcelão e o Ronaldo, que era o time de seguranças, estavam lá também. Eles viraram meio que uma família pra gente, então, foi super legal tê-los conosco nesse momento.

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Inclusive estas luzinhas tinham sido colocadas pro casamento da Fernanda, mas acabaram ficando pra decorar a Neu. Foto de arquivo pessoal.

DJ Moisés

Entrevistado
Gabriel Pessoa Guerra: ex- Dorgas, atual Séculos Apaixonados​ e Crusader de Deus

Gabriel Pessoa Guerra aka "Guerrinha": Em 2013, eu tinha acabado de começar o meu selo, 40% Foda/Maneirissimo​, e tava muito empolgado com a ideia de discotecar. Eu já discotecava no Rio, mas um dia, o Dago me chamou pra tocar em São Paulo, no Neu, e eu fiquei animadasso. Afinal de contas, era na Neu e a festa era a Florida do Badeco, eu acho. Enfim, a festa começa, eu estava doido pra mostrar pro Dago as paradas que eu tava ouvindo e tinha muita gente na pista. Eu ia tocar tipo às 3h da manhã, então era um bom horário, e ainda tinha gente. Só que, antes de mim, o pessoal tava curtindo (muito) algo que parecia um remix de "Obladi Oblada". Devia ter umas 40 pessoas na pista, todas se divertindo. Enfim, entrei e botei a primeira música e NA HORA todo mundo da pista foi em bora… TODO MUNDO, nem uma alma penada para ver. Fiquei meio que com vergonha do Dago me ver fazendo aquilo, mas como eu já estava acostumado a tocar para 0 ou 2 pessoas no Rio, eu me mantive lá, me divertindo e tocando. Uma hora, comecei a usar minha técnica de discotecagem: botei uma música longa pra dedéu e fui tomar alguma coisa no bar. Nessa hora, chega o Dago enfurecido: "MANO, TU CONSEGUIU ESVAZIAR A PISTA TODA". Na hora, achei engraçado tipo "Hahah LOL" e voltei pra discotecar mais. Fim de festa. Número de pessoas na pista na última música: zero.

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Dago então me dá a melhor alcunha: DJ Moisés (sabe o milagre de abrir um espaço no meio da onda? LOL). Enfim, achei que tinha acabado por ai, só uma noite ruim. Meses depois, indo tocar com o Dorgas, depois de um show, sento na mesa de um bar com amigos e vejo amigos de amigos comentando sobre "a vez que viram um DJ esvaziar a pista bizarramente". Pergunto a eles onde tinha sido e eles respondem: "Na Neu". Avisei que tinha sido eu e eles começaram a falar: "Pô, cara. Parabéns, você mandou muito mal aquele dia". Desde aí, o meu nome de DJ é "DJ Moisés".

Geladeiras

Durante a apuração dessa reportagem, eu percebi que um elemento que se repetia em muitas histórias de vários personagens diferentes foram as geladeiras do Neu. Por isso, achei que elas mereciam um capítulo à parte na história da casa. Aprecie abaixo:

Entrevistados
Felipe Barrella
Filipe Giraknob: integrante do Supercordas​, ex-faz-tudo da Casa do Mancha e ex-gerente do Neu
Amauri Filho: gerente do Neu

Felipe Barrella: A gente começou o Neu com pouquíssimo dinheiro. Tanto que, quando a gente abriu, não tinha geladeira. Eu fazia tudo com tina e gelo. O problema é que era meio difícil acertar a quantidade de bebidas e de gelo que íamos precisar na noite. Então, às vezes, eu arrumava as tinas de gelo, ia pra casa, colocava o celular pra despertar, pra poder voltar pra lá e colocar mais gelo, pra não comprometer a bebida.

Filipe Giraknob: Eu era mais ou menos um "faz-tudo" na Casa do Mancha​. Bem na época que eu fui sair da Casinha pra virar gerente do Neu, eles estavam trocando as geladeiras de lá. Então, estavam vendendo as geladeiras usadas, e o Mancha pegou uma. Acabou que a galera começou a falar que o Mancha me trocou pela geladeira. (Risos).

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Amauri Filho: Teve também a noite em que fizemos o "Rolezinho no Neu", logo que esse assunto (os rolezinhos) ganhou a mídia. Nessa noite, tinha umas 450 pessoas na casa e tivemos um problema com as geladeiras da casa: das cinco que usamos, três estavam em manutenção. Foi uma noite como no começo: gente pra caralho e tinas de gelo pra manter as bebidas geladas.

Cordinha do Neu. Foto por Ananda Deckjii.

Fim do Neu, começo do Breve e outros investimentos

Entrevistados
Fernando Dotta
Dago Donato
Guilherme Barella
Felipe Barella

Fernando Dotta: Eu e o Rafael Farah, meu sócio da Balaclava Records​, estávamos, no ano passado, começando a procurar um espaço nosso para funcionar como escritório e talvez tentar fazer um ou outro evento. Porém, tava um pouco difícil fechar as contas sozinhos.Na mesma época, o Dago convidou a Balaclava para integrar o time dele do projeto PULSO​, da Red Bull Station.

Depois de umas duas semanas lá, ele veio conversar conosco, dizendo que ele e os sócios do Neu (Gui e Felipe Barrella) estavam a fim de abrir um espaço de shows em São Paulo e ele perguntou se tínhamos interesse em sermos os sócios deles, porque o que estávamos fazendo com a Balaclava e nossos projetos estavam muito dentro do que eles queriam para o novo espaço. Foi aí que a gente teve a ideia do Breve.

Guilherme Barella: Na real, quando a ideia de abrir o Breve surgiu, a gente não pensava em fechar o Neu. Tanto que o Breve​fica na Rua Cléia (número 470), num lugar mais ou menos próximo do Neu. No começo, pensamos que o Neu funcionaria como um "after" pro público do Breve: os caras vão assistir a um show e, depois, vão pra balada. Mas percebemos que estávamos muito mais empolgados com o projeto novo do que em manter a casa funcionando. Aí, começamos a pensar em fechar o Neu.

Dago Donato: Foi tudo bem pensado. A gente já estava com a vontade de tocar projeto novos, mas o Neu acabou ocupando muito do nosso tempo. A partir do momento em que o retorno, tanto financeiro quanto de prazer, é melhor parar, do que continuar uma coisa só por continuar. A gente prefere fechar o Neu do que transformá-lo em um lugar nada a ver só pra ganhar dinheiro.

Guilherme Barrella: A gente ficou mais velho também. Não tô mais tão no pique de ter que ficar acordado até 7h da manhã. Eu tenho filho agora, sabe? E o legal do Breve é que nós estamos voltando às origens do Neu (e até ao que a gente fazia no Milo, na real), que era: show ao vivo com banda. No primeiro ano do Neu, a gente fez show ao vivo regularmente, mas nós logo acabamos abandonando a ideia. Felizmente, retomamos os shows nos últimos dois anos, mas não estávamos mais tão empolgados com o Neu. Então, achamos que era melhor fechar agora. Achamos que foi no tempo certo, que o Neu vai deixar um saudosismo gostoso, sem o risco de ele se tornar um peso pra gente.

Felipe Barrella: No Breve, estamos revivendo o começo da casa, de certo modo, fazendo de tudo: desde a produção até a faxina, de vez em quando. Tamo fazendo muitos shows, muitos eventos e tal. Lá também tem muitas características que levamos do Neu: low-profile, sem 
nome na porta e tal. A única certeza que temos do Breve é que ele é temporário. Até o espaço físico é meio que "inacabado", pra dar essa ideia mesmo. Assim, sabemos que o Breve vai acabar, só não sabemos quando.

Fernando Dotta: Acho que vale só dizer que sobreviver por sete/oito anos sendo uma balada relevante é quase impossível nos dias de hoje e a Neu conseguiu isso, se reinventando algumas vezes. Muito orgulho em abrir um espaço com pessoas que admiro, que ajudaram a construir meu gosto musical e servem de inspiração para o meu trabalho e do Rafael com a Balaclava. Se o público abraçar o Breve como abraçou a Neu, seremos muito sortudos.

Além do ​Breve, o Gui Barrel​la está tocando, junto com a sua mulher, o Kraut​, bar que fica na Vila Buarque, na região central de São Paulo.