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Música

Não Se Desespere, Sua Banda Favorita Virou um Viral

O Future Islands tocou no Letterman e, além de me fazer pirar e acordar meus gatos, virou gif de tumblr

Nos últimos anos, para uma banda indie cruzar a fronteira do mainstream, ou pelo menos para conseguir viver só de música, a primeira aparição na TV aberta era algo como um ritual de passagem. Devido ao hype meio superestimado do Jimmy Fallon e o autêntico interesse incessante do Letterman em buscar novas bandas, regularmente a TV acaba mostrando alguns artistas relativamente desconhecidos. As bandas têm direito a uma música e, no máximo, um aperto de mão, depois são jogadas de volta no limbo onde ninguém realmente se importa se ela faturou um 8.7 na Pitchfork.

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No dia 4 de março, eu cliquei em um link para assistir uma dessas performances de uma banda que eu realmente gosto. Alguns anos atrás eu vi essa mesma banda fazer um show de abertura para uma audiência confusa no Terminal 5, então eu não sabia muito bem o que esperar. Assistindo ao vídeo, eu não consegui acreditar como eles conseguiram traduzir tão bem a sua presença de palco para a TV. Foi um dos momentos mais felizes do meu dia, me inspirando a gritar “SIM!” alto o suficiente para assustar meus gatos e de reproduzir essa felicidade dando soquinhos persistentes no ar (!!!). Postei minha reação no Tumblr e ela foi reblogada milhares de vezes. Isso estava acontecendo em todos os lugares: os números de redes sócias da banda aumentavam cada vez mais e milhares de pessoas de repente encontram sua nova banda favorita. Os publiças se esforçam por anos para tentar descobrir o que “cria” a viralidade. Seja lá o que for, o Future Islands ganhou a noite.

Ninguém que já conhecia a banda deveria ficar surpreso com isso. Toda vez que eu os vi ao vivo (exceto o infeliz evento no T5) foi uma experiência transcendental. O vocalista Sam Herring aparece no palco parecendo o cara mais quadrado que você já viu, usando roupas que só poderiam ser descritas como #papaicore (costuma ser calça caquís e uma camisa pólo enfiada por dentro da calça). Aí a música começa, e ele fica completamente insano. O melodrama que o mundo presenciou no Letterman acontece em todos os shows deles. O que difere é que em vez de você olhar para o Herring, enquanto ele bate no peito e gesticula loucamente , você está lá e quando ele se ajoelha portando o que parecem lágrimas verdadeiras caindo de seus olhos, ele olha diretamente para você. Não é difícil se surpreender com a vasta compaixão presente em suas performances. Se a maioria dos líderes de banda parecem legais, o Sam Herring quer que você entenda sobre o que ele está cantando no nível mais profundo possível e se isso exigir danças bizarras e emoções teatrais, ele está mais que disposto a aceitar.

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Todo mundo tem uma seleção de bandas que são meio pessoais, que quando são expostas para o mundo lá fora é quase como um sentimento de violação, apesar de ser meio irracional. Talvez porque muitas bandas que atravessam essa fronteira parecem possuir um nível de sinceridade e o crescimento do Future Islands dentro dos últimos anos despertou um pouco desse sentimento em mim. Por um lado estou completamente animada por eles que passaram os últimos oito anos viajando por conta própria pelo país em uma van, tocando para seu culto de fãs devotos e ganhando quase nada em troca. Parece que as ambições deles nunca foi fama e fortuna, o que faz tudo ser ainda mais legal em de ver um grupo tão merecedor finalmente ser recompensado.

Originalmente da Carolina do Norte, os Future Islands vivem em Baltimore desde 2008 e são trutas do Whan City, o influente coletivo de arte fundado pelo Dan Deacon. A cena do Wham City sempre se sentiu especial por conta da sua habilidade de combinar a autenticidade e o absurdo, e o Future Islands é o perfeito exemplo desse fenômeno. Um ethos DIY também circula pela cena. Outra coisa que aprecio muito na carreira da banda é a dedicação de tocar em espaços para menores de idade sempre que podem. É triste de pensar que não existe mais nenhum local em Nova York que seja grande o suficiente para abriga-los. A mágica de assisti-los em um lugar sem ar-condicionado com todos os seus amigos e bebidas a quatro dólares acaba se perdendo um pouco quando o show é num lugar limpíssimo onde você quase recebe uma revista completa para entrar.

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Acompanhar a “memeficação” da banda por meio de .gifs do Herring dançando no palco rodando pela internet foi meio desconcertante. Claro que é muito legal ver a persona do vocalista no palco, mas os fãs sempre são respeitosos. Fica claro que você está com eles e não contra eles. É preocupante pensar que a banda está se tornando uma piada, ou que eles podem carregar para sempre o estigma de ser “a banda com o cara doido que dança”, especialmente que o humor ser transformado em .gif passa longe de ser a vibe dominte da arte deles. A maioria das músicas da banda expressam, através de letras lindamente escritas, tristeza intensa, dor e saudade e ver uma apresentação deles pode ser mais um exorcismo coletivo de demônios do que uma balada divertida.

A “memeficação” do Future Islands via NPR.

Apesar de tudo isso, é bom lembrarmos que, quando a banda que você ama fica grande, muitas coisas positivas podem vir junto com as negativas. Uma das melhores coisas saídas de bandas outrora obscuras que estão ganhando atenção é que isso dá a elas a habilidade de trazer outros artistas obscuros com eles. O sucesso do Arcade Fire ajudou o Owen Pallett a se transformar de maluco obcecado por videogame em um ganhador do Grammy, enquanto a escalada da fama da Grimes nos expôs à intensidade maravilhosa do Majical Cloudz. Não ficaria surpresa se o Future Islands fizesse o mesmo, tirando vantagem da sua nova fama para trazer seus amigos de longa data com eles para os holofotes.

Se você é um fã novo, vou recomendar alguns artistas que rotularei como “pop masculino estranho”. Do lar do Future Islands, tem um rapper absurdo chamado DJ Dog Dick e um guitarrista virtuoso chamado Dustin Wong, junto com os seus amigos que sempre fazem turnê com ele, o Ed Schrader’s Music Beat. No outro lado do país, o John Maus apresenta suas odes disassociadas de um jeito feroz bem similar aos Islands, com ainda mais autodestruição. E, no outro lado do mundo, Kirin J. Callinan também está transformado a masculinidade nas suas performances que fariam você se sentir como estivesse em um armazém em Baltimore. Nem todos os artistas estão prontos para a televisão e alguns talvez nunca estarão. Mas quando uma banda ganha a loteria de exposição na mídia, nos dá esperanças que ainda haja espaço para uma estranheza injustificada e emotividade autêntica no reino da música popular.

A Sophie Weiner é uma escritora e uma pessoa que dança em frente dos seus gatos. Siga ela no Twitter. – @sophcw