Notas de Encarte: O DJ Gilles Peterson Fez uma Compilação de Música Brasileira Exclusiva pra Gente

Notas de Encarte é uma nova série na qual pegamos um artista e pedimos a ele para fazer uma compilação temática. Esta é avez de Gilles Peterson, o DJ, locutor de rádio, chefe de selo, curador de festivais e colecionador de discos que vem consolidando seu nome no cenário musical desde os anos 1980.

A Copa do Mundo da FIFA, o maior evento do calendário esportivo mundial mesmo sendo o que o público americano encara com mais indiferença, acabou de começar. Esse ano a copa é no Brasil – casa do segundo time de futebol favorito de todo mundo e, como temos descoberto, o país favorito de muitos músicos depois de suas terras-natal. Com isso em mente, pedimos ao DJ da BBC Gilles Peterson – que vem apoiando a música global com seu Worldwide Festival sediado na França, seu eclético selo Brownswood e incontáveis outros projetos desde sempre – para fazer pra gente uma compilação de seus artistas brasileiros favoritos. Eis o que ele fez:

Noisey: Ei Gilles, como vão as coisas?
Gilles: Vão bem, estou realmente ocupado com o disco [do Sonzeira] que sai dentro de algumas semanas. Tenho feito outras coisas também, como curar um dia para o Meltdown e dar os toques finais no Worldwide Festival em Sète. Tudo vai indo bem.

Você sempre foi um homem ocupado. Como tem ido a série Brownswood Bubblers?
Já temos umas 50 faixas para a próxima edição, mas o álbum do Sonzeira tem nos mantido muito ocupados. O Mala está voltando de outra viagem interessante, que terei que esperar antes de contar pra vocês. Também fizemos nosso último lançamento da série Brownswood Electric, e eu lancei um disco no Japão, que foi uma coleção de faixas do selo Brunswick. Esse selo era bem grande nos anos 60.

Quais cenas pequenas mundo afora merecem ter um pouco mais de atenção?
Eu de fato não acho que elas querem atenção. Pra mim a última coisa que essas pessoas iriam querer é expor suas cenas. O problema de hoje em dia é que existe uma mídia tão faminta que as coisas acabam não conseguindo se desenvolver antes de explodir e se esfacelar logo em seguida. Na música de hoje em dia, a cultura não tem de fato a chance de se formar completamente antes de ser hypada. Uma dessas cenas foi o broken beat. Os caras que carregavam a bandeira dessa cena eram quase anti-”se tornar grande”, e isso funcionou em certo sentido – a música era realmente descompromissada. Mas em outro sentido isso fez a cena minguar um pouco.

Isso é bem verdade. Agora sobre o Brasil, qual o seu prato brasileiro preferido?
Nas cidades você tem bufês muito bons. Enquanto por aqui nos bufês você acaba comendo a pior comida possível, lá eles pesam o seu prato, mas normalmente é tudo de boa qualidade. Eu diria que todos os tipos de comida de bufê. Se você quiser ir pro alto nível, tem um restaurante ótimo no Rio que serve frutos do mar. Lá eles fazem uma receita de arroz com brócolis que eu não conhecia. Fazem ela no clássico estilo arroz com frango.

Você se lembra de sua primeira viagem ao Brasil?
Minha primeira viagem ao Brasil foi há uns 20 anos, a primeira coisa que notei no Rio foi o cheiro, porque os carros estavam usando algum tipo de fruta como combustível. Pelo caminho você passa pelas famosas referências, incluindo as escolas de samba e campos de futebol: todos os clichês. Mas se você quiser sacar o Brasil você na primeira vez tem que ir ao Rio. São Paulo é quase como chegar em Derby, não é necessariamente o que você imaginaria. É muito industrializado e leva um tempo até se acostumar.

E quanto ao futebol? Você é um torcedor dos Três Leões da Inglaterra?
Eu sou mais um cara de clubes e um comprador de ingressos de temporada inteira do Arsenal por mais de 30 anos. Se você me perguntasse quem eu gostaria que ganhasse a copa entre Arsenal e Inglaterra, eu sem dúvida escolheria o Arsenal.

Quais são suas lojas de discos favoritas?
Tem uma loja chamada Tracks que é bem perto de uns restaurantes de arroz com frango. Eles têm muita coisa brasileira, muitos vinis e CDs no andar de cima e livros também. Você realmente deve dar uma sacada lá.

E finalmente, obrigado por fazer a compilação. No que ela é baseada?
Eu queria dar às pessoas um gosto diferente da música brasileira óbvia. Queria apresentar às pessoas alguns nomes novos e algumas das coisas mais regionais e um pouco de material doido, de compositor. Essas coisas foram uma grande influência pro disco que fiz lá em janeiro. O álbum do Sonzeira foi um grande privilégio para mim; pegar a música brasileira da forma que eu a conheço como DJ e celebrá-la ao oferecer para os não-brasileiros um entendimento mais profundo da riqueza da música. Não se trata de apenas um pessoal tocando bossa nova na praia. Eu quis viajar pela vastidão da música brasileira, e foi um grande prazer incluir alguns dos meus heróis, como a rainha do samba Elza Soares, que também era casada com o grande jogador de futebol brasileiro Garrincha. Aí tem algumas coisas que são mais conhecidas localmente, então é legal expô-las e compartilhar algumas versões peculiares de músicas que gosto muito.

Tracklist:

José Mauro - "O Ninho"

MPB 4 - "Cravo e Canela"

Luiz Eça - "Reflexos"

Naná Vasconcelos - "Aranda"

Sergio Ricardo - "Conversação de Paz"

João Diaz - "Capoeira"

Arthur Verocai - "Boca do Sol"

Haraton Salvanini - "Salamandras"

Golden Boys - "Berimbau"

Gal Costa - "Baby"

Marcos Valle - "Ele e Ela"

José Prates - "Batucada Berimbau"

João de Pife - "Garota de Pife"

Carimbó e Sirimbó - "Pai Xangô"

Hermeto Pascoal - "Mourning"

Sonzeira - "Plum Blossom"

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