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Música

O The Muffs não Quer Ser Lembrado só por ‘As Patricinhas de Beverly Hills’ e Fruitopia

Seu novo disco, Whoop Dee Doo, é cheia de pop punk animado, rock de garagem feminino e power-pop melodioso, sob a liderança dos vocais roucos de Shattuck.

Durante os anos 1990, o trio punk de Los Angeles The Muffs esbarrou na cultura pop ao invés de cortejá-la deliberadamente. Sua canção “Everywhere I Go” tocou em comerciais de uma bebida da moda que durou pouco, a Fruitopia. Eles apareceram no filme de 1997 de Robin Williams/Billy Crystal 1 Dia, 2 Pais. (Incidentalmente, os caras do Sugar Ray também). E talvez o mais notável, fizeram um cover do hit oitentista fútil de Kim Wilde, “Kids In America”, que entrou na trilha sonora de As Patricinhas de Beverly Hills – o que lhes garantiu um disco de ouro.

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Mas o The Muffs não é só uma nota de rodapé no rock alternativo – eles continuaram fazendo o que sabem de melhor: rock’n’roll melódico e enérgico. Seu novo disco, Whoop Dee Doo – o primeiro de inéditas em uma década – é cheia de pop punk animado, rock de garagem feminino e power-pop melodioso, sob a liderança dos vocais roucos de Shattuck. O disco não soa nostálgico – fãs de Speedy Ortiz, prestem atenção em "Paint By Numbers"- mas ainda assim é atemporal de um jeito refrescante.

Recentemente, durante uma tarde antes de Shattuck ser entrevistada pela equipe de um documentário – o diretor Steve Stone, que dirigiu um documentário sobre a banda britânica The Wedding Present intitulado Drive, está fazendo um filme sobre os Muffs –ela e o baixista Ronnie Barnett participaram de uma entrevista ao telefone comigo para uma conversa descontraída. Dentre outras coisas, a dupla lembrou de como rolou o comercial de Fruitopia, que efeito participar de 1 Dia, 2 Pais teve na carreira da banda, porque sua nova gravadora Burger Records é foda e porque você não ouvirá a banda fazer um cover de St. Vincent tão cedo assim.

Eu era o tipo de criança que assistiu ao clipe de “Sad Tomorrow” no programa 120 Minutes da MTV americana e logo comprei seu disco [Blonder and Blonder, de 1995], então sou uma fã de longa data. Fico feliz de verdade que vocês finalmente estão lançando algo novo.
Kim Shattuck: Pode crer, estávamos ansiosos pra lançar esse negócio, e finalmente ele saiu. Ontem à noite eu tava tipo “saiu, meu deus do céu”. Rolou uma ansiedade enorme; é tipo sexo ou sei lá o que. Fico radiante depois.

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Ronnie Barnett: Estamos trabalhando nesse disco há quase quatro anos, é incrível que ele tenha sido lançado. Muito desse tempo foi só burocracia, arrumando contratos, essas coisas. E aí esperando os fornecedores entregarem tudo.

Kim: Pelo visto tem rolado um surto com discos de vinil, então o distribuidor que a Burger usa estava meio abarrotado com toneladas de pedidos de discos, então tivemos que ficar na fila.

Ronnie: Gosto do fato de você ter descoberto a gente pelo clipe na MTV e não em, você sabe, As Patricinhas de Beverly Hills. Só passaram nossos clipes duas vezes no 120 Minutes, então você deu sorte.

Kim: [Quando estreou o clipe de "Sad Tomorrow"] nós estávamos em turnê. Toda a nossa equipe, Ronnie, Roy e eu nos reunimos na frente da TV num quarto de hotel e esperamos o programa passar. E quando passou, todos gritamos, tipo “AAAAH!”, foi divertido. Acho que foi a primeira vez que tocamos na TV.

Ronnie: E tivemos que correr atrás de um hotel que tivesse MTV, o que também foi um baita esforço.

Kim: Ah é! Lembra como antigamente os hotéis costumavam dizer “nós temos HBO”?

Ronnie: Era mais romântico do que só procurar no YouTube.

E por falar em TV: tenho que perguntar a vocês sobre aquele comercial do Fruitopia. Como aconteceu aquilo?
Kim: O diretor daquele vídeo – ou todos que viraram comerciais – era fã dos Muffs na faculdade. Na real, eles fizeram os comerciais com a nossa música antes mesmo de pedir permissão – e então tiveram que falar com o pessoal do jurídico da Warner pra resolver tudo. Aí nossa gravadora disse “vocês têm que nos pagar uma tonelada de dinheiro”. Conseguimos nos manter por um tempo com aquilo, o que foi ótimo.

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Ronnie: É, tinham umas quinze versões diferentes daquilo, fomos os responsáveis pela música-tema do Fruitopia por uns quatro anos, até que o barco afundou e nós fomos juntos.

Kim: Costumávamos receber cheques pelo correio do pessoal da Coca-Cola. Alguns menores iam se empilhando, como moedas de dólar, uns engraçadinhos assim. Mas outros eram maiores. Eu ia até o banco com pilhas destes cheques bizarros de valores menores, que iam somando. Nunca jogue fora cheques de valores pequenos! [risos] Se bem que um dia desses joguei no lixo um cheque de dois centavos.

De quem você recebeu um cheque de dois centavos?
Ronnie: Eu recebi um cheque de seis centavos, por conta daquele filme 1 Dia, 2 Pais.

Kim: Como que você recebeu mais que eu?

Ronnie: Não sei. E descontaram mais três centavos.

Kim: Incrível. Sim, o cheque era por conta desse filme mesmo. Me pagaram dois centavos e eu não entendi nada. Descontaram mais de mim, claro.

O cheque foi pela apresentação ou só pra aparecer no filme? Que demais isso.

Kim: Acho que é pela apresentação no filme.

Ronnie: Deve ser, porque nós nem temos falas nem nada. Antes ganhávamos uns 20 paus.

Aposto que o Sugar Ray ganha mais, eles também estavam no filme. Vocês deviam perguntar do Mark McGrath.
Kim: Eles apareciam mais que a gente.

Ronnie: E tinham falas de verdade [risos]. Pô, bicho, mais um motivo pra odiar o Sugar Ray!

Kim: Ah não, não teve maldade nisso aí.

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Ronnie: Provavelmente eles ganharam um cheque de seis dólares.

O cara com quem vocês trabalharam emWhoop Dee Doo, Steve Holroyd, foi assistente do produtor Glyn Johns. Ele tinha alguma história engraçada pra compartilhar?
Kim: Ele tinha uma muito boa sobre o Sylvester Stallone ter esquecido o microfone ligado. Lembra dessa, Ronnie?

Ronnie: Se lembro – nunca vou esquecer essa. Foi na produção de um filme, e o Stallone ficou com seu microfone e foi até o trailer. Não o desligou – e em algum lugar do mundo existe uma gravação do Stallone sendo chupado. Sylvester Stallone. E dá pra ouvir ele falando “passa a mão na cabecinha”, “acaricia minhas bolas”, e aí ele manda algo tipo “ah, sua puta imunda!”

Kim: [Risos] Essa é a minha favorita das que o Steve já contou. Logo mais vou ajudar a produzir uma banda, e vamos ao estúdio dele de novo, então ouviremos mais uns bons causos.

Como é a cena que a Burger Records ajuda a fomentar em LA agora se compara com o que vocês viveram nos anos 80 e 90?
Ronnie: Até certo ponto dá pra comparar, mesmo ela sendo menor. A Burger tem meio que esse pequeno grupo fiel de moleques que curtem um rock, é incrível. Eles acompanham a marca Burger – a Burger faz um festival, bota o nome lá, e vende ingresso pra milhares de jovens. Meu maior medo é que pensem “a Burger perdeu a mão quando contratou o The Muffs, uma banda velha dessas”. Mas até agora tá tudo bem.

Kim: Eles não perderam a mão; precisávamos nos juntar a uma gravadora que estivesse fazendo algo de bom. Passamos por algumas indies que talvez tenham sido um pouco ineficazes em nos promover. A Burger parece ser bem boa nisso. Tô bem feliz, eles trabalham a gente melhor que a Warner, sendo bem honesta.

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Ronnie: Os caras da Burger moram naquela loja, a grana da gravadora volta pra ela. Eles amam música mesmo. Tipo ontem de noite, que Sean [Bohrman, co-fundador] postou “Iggy Pop falou algo da Burger Records. É o ápice da nossa carreira”. Eles são fãs de música de verdade.

Kim: E são caras muito legais também.

Ronnie: Super legais. Adoramos eles.

Como foi a mudança no processo de composição de vocês ao longo dos anos, já que vocês têm se ocupado com tantos outros projetos? Para este disco aconteceu algo de diferente em termos de composição?
Kim: Paro pra compor geralmente quando estou inspirada. Vez ou outra tento forçar minha inspiração, o que na maioria das vezes resulta em escrever algumas músicas de merda. [risos]. Aí mostro pros rapazes e eles dizem “isso! Quase lá”. Daí trabalho mais um pouco e eles dizem “cê tá com tudo!”. Eles sempre dizem isso. Muitas das músicas eu mesma compus quando voltei à faculdade por um tempo pra estudar fotografia. Quando começamos a tocá-las é que percebemos quais músicas funcionam bem e quais não. Sempre trabalhamos assim; eu só não estava sofrendo aquela pressão de criar um monte tão rápido. Algo que, aliás, até consigo fazer – em 2008 eu pisei no acelerador e fiz um monte de coisa. Muitas delas estão no disco.

Ronnie: A forma como Kim compõe é atemporal. Além de algumas coisas no nosso primeiro disco, que soam meio grunge, todos são meio atemporais. Kim não é influenciada pela Lorde, saca? Nem nada que seja modinha.

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Kim: Sem modinha.

Ronnie: Tipo Lorde ou St. Vincent, o que for descolado na época.

Kim: Eu nem sei quem são essas pessoas que você falou [risos].

Ronnie: O gosto musical dela é bem restrito

Kim: É, eu gosto do que eu gosto.

Ronnie: Acho que é por isso que ainda estamos por aí e nossa música é atemporal.

Kim: O que me motiva a ouvir ou compor música, a coisa com a qual sempre fui obcecada, é a melodia. Nada mais no mundo é mais importante que ela. Não entendo quem compõe sem melodias. Não sei que caralho é isso, é tão esquisito. A minha abordagem toda da coisa se resume a ter que adorar as melodias; tem que ser algo que me emocione. Há diferentes melodias que eu gosto, é divertido, é por isso que o faço, não é por nenhum outro motivo.

Annie Zaleski sente-se orgulhosa por ter descoberto o The Muffs naquele programa da MTV. Siga-a no Twitter Twitter -@anniezaleski.

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