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Música

O Produtor A-Villa Juntou o LIL FAME do M.O.P., Cormega e Killer Mike em ‘The Warrior, The Philosopher, and The Rebel’

A-Villa, o produtor de Chicago por trás de “The Warrior, The Philosopher, and The Rebel”, passou os últimos anos reunindo talentos inacreditáveis para rimarem em cima de suas bases.

Fotos por Andrew Zeiter

Lil Fame (do M.O.P.), Cormega e Killer Mike em uma música parece ser uma escalação tirada diretamente da imaginação de um nerd do rap, o tipo de coisa que eu talvez tivesse feito se houvesse um jogo tipo Liga das Torcidas pra rappers (lembro de ter me cadastrado pra um negócio desses por volta de 2007). No final das contas, parece que foi exatamente assim que essa música passou a existir.

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A-Villa, o produtor de Chicago por trás de “The Warrior, The Philosopher, and The Rebel”, cuja estreia o Noisey traz pra você abaixo, passou os últimos anos cuidadosamente reunindo talentos inacreditáveis para rimarem em cima de suas bases ao “coletar” versos de muito de seus artistas favoritos. Vice-presidente de um banco no South Side de Chicago, A-Villa decidiu começar a fazer batidas após a morte do rapper Guru, integrante do Gang Starr, em 2010, e seu hobby aos poucos foi chamando a atenção de outros rappers, como Mikkey Halsted e Big Pooh (do Little Brother).

O resultado desta adorável coleção é um disco, Carry on Tradition, que será lançado pelo selo conterrâneo de Chicago, Closed Session, no dia 23 de setembro. Entre os colaboradores que A-Villa conseguiu juntar estão Big K.R.I.T., N.O.R.E., Action Bronson, Kool G Rap, Joell Ortiz, Nico Segal (Donnie Trumpet), Freeway, Havoc, Freddie Gibbs, Roc Marciano, AZ, Elzhi, Michael Christmas, Chance The Rapper, e muitos mais. Também conta com essa música, que é caótica pra cacete e se vale de instrumentos de sopro estilo fanfarra dando um efeito clássico, mas sem parecer fora do lugar em 2014. Lil Fame logo dá a deixa: “leave your grill smoking like a barbecue and sure to call a jackass quicker than Obama do”. Cormega leva pro lado pessoal e Killer Mike compara balas voando com manobras de skate e uma bunda com como Louis Armstrong tocava saxofone, resultando em algumas das linhas mais poéticas que você ouvirá esse ano.

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Eu tinha que saber mais sobre a fenomenal história de A-Villa sobre transformar seu hobby em um sonho realizado, então mandei algumas perguntas por e-mail. Ouça “The Warrior, The Philosopher, and The Rebel” e leia sobre a fortuita aquisição de um MPC. Carry on Tradition será lançado no dia 23 de setembro.

Por que você foi inspirado pela morte de Guru para criar música, especificamente?
No começo de 2010 eu trabalhava em um banco e vivia aquela rotina de um emprego em horário comercial. Fiquei meio entediado e precisava de uma válvula de escape criativa, mas não sabia o que poderia ser. Sempre fui fã do Gang Starr, e quando Guru morreu em abril daquele ano, aquilo me atingiu. Não foi como perder uma pessoa próxima. Mas pôs as coisas em perspectiva. Todos nós estamos aqui hoje e podemos não estar mais amanhã, mas pelo que eu serei lembrado? Tenho uma filha, e quero deixar para ela mais do que dinheiro e bens materiais. Que jeito melhor do que fazer música e criar um disco que me representa e que ela poderia usar para lembrar de mim? Não sou cantor ou rapper, mas sempre sonhei em ser produtor e fazer música nos bastidores. É estranho, mas o infeliz falecimento de Guru me deu a coragem para levar meu sonho adiante. Virar pai só solidificou isso ainda mais.

Como foram seus primeiros experimentos?
Nunca tive nenhuma educação musical. Quando comecei a compor, não sabia tocar nenhuma nota ou instrumento caso alguém me pedisse. Eu não sabia nem o que era um compasso ou breakbeat na época. Porém, tinha um bom ouvido pra melodias, e a minha educação veio do fato de ser um fã de música desde quando era moleque. Minha mãe sempre botava algo pra tocar em casa e eu simplesmente absorvi tudo. Quando finalmente decidi fazer música, fui até o Guitar Center e comprei um MPC 3000. Levei para casa, estudei, trabalhei em cima dele, e fazia batidas aleatórias que pareciam cópias ruins de faixas do Pharrell e do RZA. Ouvindo-as de novo, minhas primeiras batidas eram péssimas, mas temos que começar em algum lugar, e eu continuei em cima, me esforcei e fiquei melhor.

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Quando você percebeu que poderia ser mais do que só um hobby?
Finalmente juntei coragem pra mostrar minha música pros outros e obtive uma boa reação. De cara, só fazia isso no meu porão por diversão e pra mim mesmo. Eu não sabia o que tinha em mãos. Além de alguns membros da família, nunca tinha deixado ninguém ouvir nada. Algumas semanas após a morte de Guru, vi um flyer a respeito de uma batalha de beats em Chicago apresentada por Mikkey Halsted. Mandei algumas batidas minhas e fui escolhido, cheguei no local e tinham poucas pessoas, eu estava uma pilha de nervos. Não sabia o que esperar. Achei que ia me foder e seria expulso do palco, mas aconteceu o oposto completo. De cara rolou uma reação boa no primeiro round e fui avançando. Eu estava competindo com outros produtores mais experientes e mesmo assim acabei vencendo. Recebi muito amor naquela noite por parte do público e os artistas que lá estavam, me sentia no topo do mundo e sabia que estava no caminho certo.

De onde veio a ideia de “coletar” versos?
Depois de ganhar aquela primeira competição, continuei competindo e ganhei mais algumas outras. Paralelamente, seguia fazendo mais batidas e o que todo novato faz: as mandava pra todo e qualquer rapper do qual eu era fã, tentando conseguir algum reconhecimento e trabalho. Porém, não recebi nenhuma resposta na época. Não até que Mikkey Halsted me ligou: eu havia dado um CD pra ele na noite daquela primeira competição. Ele gostou das minhas batidas, e entramos em estúdio. Logo depois recebi o contato de um dos artistas por e-mail. O Big Pooh, que fazia parte do Little Brother, veio falar comigo, curtiu as batidas e me enviou metade de uma música, com dois versos sobre batidas minhas. Aí falei com Mikkey, falei pra ele dessa música, e ele deu um jeito no resto. Essa foi a primeira música que compus pro disco e serviu de modelo pra como seria o resto do projeto. Contatei todos meus artistas favoritos, mostrei o que tinha, e disse a eles o que estava tentando fazer. Eles gostaram do que ouviram, o resto foi acontecendo daí em diante.

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De quem foi mais empolgante receber estes versos?
Isso é difícil de se dizer. Antes de tudo eu sou um fã, então falei com todos os meus MCs favoritos e parti disso. Não me abati com as rejeições, porque quem topou trabalhar comigo faz parte de uma lista de lendas e artistas atuais respeitados. Sendo um fã da era de ouro do hip hop, foi demais trabalhar ao lado de um ícone como Kool G Rap. Ainda assim, provavelmente fiquei mais empolgado quando me juntei com o AZ. Ele é mesmo um dos meus rappers favoritos, e acho que nunca lançou uma rima ruim em toda a sua carreira. A música que fizemos talvez seja a minha favorita do disco!

Quais seus objetivos para este projeto?
Fundamentalmente, o objetivo é fazer boa música e deixar minha marca no hip hop com este disco. Fora de Chicago sou relativamente desconhecido, mas sinto que tenho algo único a oferecer. O fato de ter conseguido trabalhar com 40 outros artistas já bem estabelecidos, montar este projeto sozinho e criar um disco coeso como um produtor novato é um testamento do meu propósito de criar boa música independente. Não tenho expectativas de sucesso financeiro na música, e por isso ainda mantenho meu emprego como bancário. A indústria da música mudou, e se o disco se sair bem – ótimo. Mas se não, tudo bem. Ainda assim realizei um de meus sonhos e, no geral, estou confiante de que criei um bom disco que sobreviverá ao teste do tempo. E quando eu me for, minha filha poderá ouvi-lo, lembrar do que fiz e sentir orgulho de mim. Missão comprida.

Kyle Kramer está fazendo inscrições para sua liga de rap de mentirinha. Siga-o no Twitter @KyleKramer

Traduzido por: Thiago “Índio” Silva