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Música

Falamos com o Dj Premier Sobre Kanye West, Disclosure, e Aquela Vez em que Ele Flagrou o Biggie Comendo Frango Frito só de Cueca

Nos quatro anos que se passaram desde a morte de Guru, ele também tomou para si a tarefa de manter o legado do Gang Starr vivo.

A longevidade de DJ Premier não é por acaso. Durante minha conversa com o mais importante herdeiro da era de ouro do hip hop, frequentemente ele citava a extensão de sua carreira e o apelo duradouro de seu estilo. Enquanto alguns artistas envelhecem discretamente rumo à irrelevância, Primo encontra-se em estúdio com Kanye West e trabalhando num remix para o Disclosure. Nos quatro anos que se passaram desde a morte de Guru, ele também tomou para si a tarefa de manter o legado do Gang Starr vivo. Logo, Premier trabalha em sua divulgação como é feito nos dias de hoje: lançando um site, uma série no YouTube e valendo-se de merchandising agressivo.

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Estes fatos compõe de forma ostensiva a base de minha conversa com DJ Premier. E tudo isso são boas novas e coisas bacanas para qualquer um que se considere fã de sua música ou do trabalho do Gang Starr. Então dê um confere no seu site, que conta com alguns produtos exclusivos bacanas tendo Guru como temática em homenagem aos seus dias anteriores ao Gang Starr, quando se apresentava como Keithy E. Aproveite pra sacar sua série Bars In The Booth, que conta com a participação de vários rappers rimando sobre batidas originais (e novas) de Premier, com destaque para o barbudo de Filadélfia Jakk Frost. Espere também por projetos vindouros com NYG’Z, MOP(!), Lady of Rage (!!) e MC Eiht (!!!!). Ele também acompanhou Dave Chappelle no Radio City Music Hall.

Mas o DJ Premier é cheio de histórias, sacadas e opiniões fortes as quais não tem medo de compartilhar. E ele dispara palavras sem parar. Então o grosso desta entrevista acabou sendo sua ampla visão de Kanye, como Sting adora Disclosure, e quão bom o Jeru tha Damaja era no caratê em 1994. Peço que você divirta-se com esta entrevista, feita ao telefone na semana passada, e vá até premierwuzhere.com pra ficar por dentro do que há de novo.

Noisey: Como foi o seu 4 de julho?
DJ Premier: Ah cara, foi massa, passei um tempo com meu filho. Ele acaba de completar três anos, é um moleque bobo como eu.

Você disse que ele tem três anos?
É, eu comecei tarde.

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Melhor que começar cedo.
Sem dúvidas Eu seria um bom pai independente disso, mas no mundo do hip hop você não amadurece tão rápido quando os outros, ainda mais com uma carreira como a que eu e Guru tínhamos.

Como assim?
Aos dezenove anos já tinha um contrato com gravadora. E nunca fomos artistas daqueles com discos de platina, mas nos respeitavam como se tivéssemos. Então as coisas que vem junto do sucesso da indústria, coisas com as quais sempre sonhamos, as groupies e toda a farra, todo o sexo, drogas e rock’n’roll, nós passamos por isso. Quando você é mimado por esse estilo de vida… Fica difícil arrumar uma namorada séria quando você sempre encontra garotas que só querem tem pegar porque você é uma estrela ou pela fama. Acaba-se desenvolvendo uma defesa diferente; elas me amam pelo que sou ou é por causa da minha fama? Meu radar sempre funcionou assim, então pra mim, ter filhos e tudo mais, demorou mais pelo fato de que desconfiava das garotas com quem havia ficado e as que conheci. Você procura por aquela pessoa que te completa e, até que isso aconteça, você tem que continuar vivendo e curtindo.

Logo, vocês não amadureceram porque puderam fazer o que bem entendiam desde os 18 anos e aí você desenvolveu esse nível extra de cinismo com relação às mulheres.
Exatamente… Mas, além disso, me sinto abençoado só de ter sobrevivido à selvageria. Algumas pessoas não conseguiram, não só no nosso meio, mas no rock, no pop, tudo. Alguns atores, todo mundo no entretenimento, os Heath Ledgers, os DJ AMs… A depressão toda que envolve a indústria. Passei por tudo, não pela depressão, mas todas as tentações. Algumas pessoas têm aquele botão de desligar e outras não. Uns precisam de terapia, outros não. Sempre consegui me desligar porque sei conversar comigo mesmo e dizer “já deu, hora de voltar a trabalhar” e sempre fui assim. Por isso nunca apareci nos tabloides nem nada nessa pegada. Eu só estou me divertindo e aproveitando isso.

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Falando sobre gente que teve problemas com a fama, como é a sua relação com o Kanye? Sei que você esteve em estúdio com ele.
Faz alguns anos que não falo com ele. A última vez que conversamos foi quando ele e Jay Z gravaram Watch the Throne, porque levei até lá o filho de Guru, meu sobrinho, que agora tem 19 anos, porque ele queria conhecer o Jay Z. Tivemos passe livre. Então ele acabou conhecendo os dois. Kanye estava em turnê com a gente quando o Common começou sua tour do Electric Circus [em 2002], que contava com o próprio Common, Gang Starr, Floetry e Talib Kweli. Kweli chamou o Kanye pra tour na metade dela, e todos pensamos “Que que o Kanye tá fazendo aqui?”. Ele ainda nem era rapper, só produtor. Perguntei ao Kweli e ele respondeu “Cara, o Kanye me deu meu primeiro hit no rádio com ‘Get By’ e nem me cobrou nada. Me deu a música de graça. Então estou retribuindo o favor”.

Lembro de ir aos bastidores em uma noite qualquer e Kanye disse: “E aí Premier, tô pra lançar um disco chamado College Dropout e faço rimas nele inteiro. Assim que sair vai ser platina dupla”. Olhei pra ele respondi: “Essa é uma declaração muito ousada de se fazer se você nunca fez rap antes”. Todo mundo sabia que ele mandava bem nas batidas. De qualquer forma Kanye sempre foi daquele jeito desde a primeira vez que o vi, antes mesmo de ter um puto no bolso. Quando as pessoas começaram a falar “Ah, ele é arrogante, ele é um cuzão”, eu sempre dizia, honestamente, que ele sempre foi assim, antes de ficar famoso. Sendo assim, nem me incomodo. E bicho, o disco saiu e foi platina dupla!

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Sabe o que gosto nele? O cara é muito passional com o seu trabalho. Pode-se dizer que ele é doido e perdeu as estribeiras, com a Kim e tudo mais, mas ele é passional e por isso que você tem que amá-lo por quem ele é. De verdade, me lembra o Guru com toda essas emoções selvagens e como ele pensou e tirou as coisas do coração e surtou pra cacete. Eu vi isso tudo rolar durante minha carreira com o Gang Starr. A paixão dele é tão grande… E ele é gente boa… Ou ele gosta de você ou não. O mesmo com os fãs e quem o observa, ou você gosta ou não. Mas ele sempre me deu uns mimos de graça, perguntei sobre o Yeezus e ele respondeu: “Já tenho uma caixa, vou mandar pra você”. A única coisa que não ganhei foi o quadro de Graduation… Estou ficando meio puto com isso!

Em algum momento você se sente limitado pelas pessoas que te chamam pra produzir algo e esperam aquele som característico do DJ Premier?
Que nada. Eu sei o que meu nome e sonoridade valem pra eles. Além disso, é divertido trabalhar com todos os estilos que faço… Não quero ser só um produtor de hip hop. Quero fazer um disco da Miley Cyrus, um disco do Eminem, um da Iggy Azalea, porque a minha versão desses sons não soará como um bagulho torto, zoado. É esse o tanto que me preocupo com meu nome enquanto artista. Quando trabalho com qualquer outro, parte do meu dever é garantir que tudo funcione mais do que certo. Jay Z, Biggie e Nas sempre ouviram meus conselhos. Me ouviram e aplicaram eles e eu também os ouvi, por isso os discos saíram tão bons. Não foi sorte… Somos todos bons no que fazemos, mas também é sinal de que sabemos quando se trata de um bom álbum pronto pra deixar o estúdio. É disso que gosto no Dr. Dre, ele disse: “Não deixo nada sair do estúdio até que esteja pronto mesmo”.

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Como você aborda algo como um remix do Disclosure? Isso foi uma mudança em relação ao que você faz normalmente.
Meu agente disse: “Ei cara, vamos viajar pra compor”. E eu pensei “uma viagem pra compor? Eu não preciso disso…”. Eu estava ficando todo convencido por ser o Premier e tal, daí ele diz “Não cara, vamos mexer numas coisas novas, vamos pra Londres e ficar lá e conhecer gente nova”. Meu selo tinha uma lista de pessoas procurando por [remixes] e lá estava o Disclosure. Estava curtindo o que o Sam Smith estava fazendo, então me deram aquele disco Latch. Eu fiquei tipo “Hm… Não sei se deveria mexer nisso”, mas meu agente continuou me pressionando e os selos disseram que amariam um remix. Eles só queriam que fosse no estilo Premier, não teria que seguir o que rolava no rádio… Há momentos em que um selo chega até você e diz que quer uma versão dance daquilo pro rádio, e eu tenho que deixar claro que não sou esse cara. Mas com o Latch eles me deixaram tomar conta de tudo e ficaram fora do meu caminho.

Deixei-o mais lento, pra que soasse como um disco de R&B, algo que vejo como tendo meu nome. Quando o fiz, eles piraram tipo “uau, nós amamos”. Sam adorou, conheci ele e o Disclosure quando estavam em Nova Iorque. O Sting até apareceu no backstage! E eu fiquei tipo: “Uau, Sting tá vindo aqui conversar com o Disclosure… Isso é importante!” e simplesmente acho fera que procuraram gente de todo canto pra isso.

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Aquela história de que você e Jeru flagraram Biggie comendo frango frito peladão e ele falou ao Jeru “Meu nome é Biggie, não Barkim”… Procede?
Com certeza. Estávamos em um hotel de beira de estrada… Nem era um hotel de verdade, prestes as voltar pra casa após um show na Virgínia. Nossos quartos ficavam um do lado do outro e toda a Junior Mafia estava lá, andávamos juntos e fomos em nossos carros porque Biggie não sabia dirigir. Então lá está ele… de cueca samba-canção, não estava pelado, mas estava lá, com as tetas balançando, sem nem incomodar os caras no quarto, de boa mesmo. E com um puta balde de frango frito. Jeru estava começando a querer perder peso, adotando uma dieta vegetariana e aprendendo artes marciais. Ele e Afu-Ra já planejavam fazer aqueles lances de caratê em seus clipes, e o fizeram. Começaram a frequentar aulas todos os dias e sempre que entravam no estúdio queriam me usar de cobaia. Eu dizia: “Nem vem com essas merdas pra cima de mim”. Enfim, estávamos prontos pra voltar pra Nova York e vamos lá ver se o Biggie também já estava. Jeru entra lá e diz “Cacete, você vai comer todo esse frango? Você deveria se alimentar de forma mais saudável”. Biggie respondeu “Cara, foda-se essa merda. Vou comer essa porra. Meu nome é Biggie, não Barkim!”. Todos rimos pra caralho.

Quando ele, Biggie e Puff estavam brigando, as pessoas sabiam que ele tinha se metido mesmo com artes marciais? As pessoas temiam mais Jeru por medo dele sair distribuindo porrada em alguém?
Naquela época, eles estavam apenas aperfeiçoando sua arte. Estavam aprendendo quando “Ya Playin Yaself” saiu e fizemos aquele disco One Day. Mas não tenho certeza se viram os clipes e pensaram que ele fazia os movimentos, mas os bichos iam pra aula todo dia. Ele entrava no estúdio e levantava a perna até o teto. Levavam a coisa muito a sério. Mas sinceramente, se rolasse uma luta mesmo, todos nós brigamos juntos antes… Tretas do Gang Starr e M.O.P.

Skinny Friedman certa vez flagrou Eric Sundermann fumando maconha de samba-canção. Siga-o no Twitter - @skinny412

Traduzido por: Thiago “Índio” Silva