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Música

Entrevistando o Exhale the Chaos Metalpunk: Gracias por Nada

Conversamos com a banda que representa a engajada cena anarcopunk de Brasília.

Seguimos com a nossa série de entrevistas com as atrações na escalação do festival Exhale The Chaos Metalpunk, que rola no dia 8 de fevereiro em Belo Horizonte apresentando o melhor da recente geração de bandas barulhentas brasileiras e que contará com os alemães do Wojczeche do Who's My Saviour no headline. Semana passada, demos a letra do avassalador grind/noisecore feito pelos paulistas do Meant to Suffer. Agora, levamos até você um pouco do que tocam e pensam os ultra-politizados membros do Gracias por Nada.

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O grupo, formado atualmente por Alex Afonso (voz), Cled (baixo), Felipex (guitarra), Berns (guitarra) e Manga (bateria), é cria da cena anarco-punk de Brasília e surgiu com a proposta de fazer um som crust mais arrastado e compassado, bem na linha do que vêm fazendo as bandas new crust lá de fora. No fim, as faixas que eles vêm soltando na internet, integrantes do EP Sangue Latino, assumem essa estética, mas não deixam de entregar aquela pegada levadona que só as bandas anarco daqui têm, tipo o Metropolixo, Amor Protesto y Ódio, Abuso Sonoro e Discarga Violenta.

Militantes como todo anarquista que se preza, os malucos do Gracias por Nada não só produzem uma crítica social feroz em suas letras, como fizeram parte de quase todas as movimentações libertárias do ano 2000 para cá. A base política da banda vem justamente da participação deles nas células locais de coletivos como o MPA (Movimento Punk Anarquista) e o KRAP (Koletivo de Resistência Anarco-Punk), onde todos eles se conheceram. Antes do Gracias…, o Alex e o Berns tinham uma banda chamada Blasfêmia, e o Cled conheceu o Alex por conta de uma distro independente que ele tinha, chamada Carótica. Já o guitarrista Felipex ficou amigo do pessoal durante a campanha "Existe Política Além do Voto", em 2006, enquanto o batera Manga entrou para a banda assim que se mudou para o DF, em 2009, depois de deixar a formação do Vingança, de Fortaleza.

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Enquanto eles se preparam para lançar o EP "Sangue Latino", em fase de pós-produção, e ensaiam para fazer bonito no Exhale, bati um papo com o baixista Cled. Se liga aí no que eles têm a dizer:

Atualmente, como está a cena hc/punk aí em Brasília? Tem uma galera ativa organizando eventos, produzindo crítica social, frequentando shows? Como é a integração das bandas de diferentes vertentes independentes?
A cena musical punk/HC do DF é bem movimentada, tem sempre uma banda nova surgindo ou alguém organizando algum show, lançando discos. Aqui a cena é muito integrada com outros estilos, a ponto de ser quase a mesma cena musical. É comum ter shows com bandas de estilos muito diferentes.

No Bandcamp de vocês tem duas tracks muito boas, "Sangue Latino" e "Na Natureza Selvagem". Tem alguma coisa que vocês estejam preparando aí pra lançar num futuro próximo? Quais os planos da banda para esse ano?
Nosso plano é que esse seja um ano bem movimentado pra banda, depois do show em Belo Horizonte a gente já combinou que vai trabalhar no lançamento do nosso EP Sangue Latino, que já gravamos e está quase todo pronto. Paralelo ao lançamento, nós vamos entrar pra gravar mais alguns sons novos.

Essas faixas que estão disponíveis para streaming e download foram gravadas/produzidas de que forma? Vocês mesmo que gravam e produzem o som?
Esses sons foram gravados de forma bem tradicional, em estúdio com técnico e tudo mais, mas é um horizonte nosso nos apropriarmos desse tipo de conhecimento, pelo menos de uma parte desse processo. Na real, a nossa vontade é estudar para gravar os sons, mixar, ou pelo menos nos aliar a pessoas que estão produzindo da forma mais DIY possível.

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É curioso observar que as ramificações mais politizadas e fiéis à proposta outsider do punk foram migrando progressivamente para o grind e para o crust, sendo que atualmente se fala numa cena "new crust". Queria saber o que essa tag traz de diferente para a música extrema e se o Gracias por Nada se encaixa nesse filão.
O que a cena underground deve fazer é ser criativa e continuar experimentando. No mercado não existe espaço para experimentação, ele precisa de fórmulas que, sem sombra de dúvida, vão dar dinheiro, por isso é preciso subverter os gêneros e não ficarmos presos a nenhum cânone do underground. Olha, a gente gosta bastante das bandas new crust, mas não sei se a gente se encaixa bem nessa categoria, mas também não estamos preocupados em ser ou não ser. Quando começamos, queríamos tocar um som mais arrastado tipo Provocazione, e, a partir disso fomos criando coisas, principalmente sons que a gente gosta de tocar, hora mais rápidos, hora mais lentos.

Fora a música, quais são as outras influências e inspirações da banda? Digo, na literatura, no cinema, na filosofia, outros campos das artes e da expressão contra-cultural.
Cara, a gente tem muita influência do cinema, e algumas músicas tem nomes de filmes, como Onde os Fracos Não tem Vez e Na Natureza Selvagem. Além disso, eu e o Berns trabalhamos com cinema e audiovisual. Na literatura acho que a principal influência tanto pelo encantamento quanto pela identidade latina é o Eduardo Galeano, mas o Howard Zinn é uma boa influência. Pra além disso, acho que todo mundo da banda é louco por artes plásticas, em especial o Manga por ser tatuador, então isso tá sempre no nosso cotidiano.

Um ou mais integrantes da banda fazem parte dos movimentos que tomaram as ruas no ano passado, detonados pela ação do Movimento Passe Livre? Como vocês avaliam tudo que aconteceu e o que esperar daqui pra frente? Com que outras frentes vocês estão envolvidos fora a banda, tanto no DIY como na militância política?
Eu e o Felipex fazemos parte do MPL-DF há um bom tempo. O ano de 2013 foi com certeza um ano marcante pra todo mundo, em especial para as pessoas do Movimento Passe Livre. Foi um ano de muitos avanços políticos dentro da pauta da mobilidade urbana, mas que também escancarou a crise da representatividade desse modelo de democracia e mandou um recado para velha esquerda sobre suas praticas engessadas. Foi um ano que testou a nossa capacidade de organização, e daqui pra frente a tentativa é estar cada vez melhor organizado. Fora isso fazemos parte de vários outros projetos: o Felipex faz parte do Caferó, que é um espaço auto gestionário onde se vende comida vegetariana e trabalho justo; o Manga tem uma distro/selo chamado Kafaca, por onde ele ajuda a lançar as bandas, e bem recentemente ele tá se envolvendo num projeto de produzir cartazes pros coletivos e movimentos e sociais; e o Berns tem um projeto de fazer vídeos e animações pras bandas.

Acompanhe o Gracias por Nada pela rede mundial de entretenimento digital:

graciaspornada.bandcamp.com
graciaspornadacrust.wordpress.com
facebook.com/pages/Gracias-por-Nada/211263605562183

Exhale the Chaos Metalpunk
8 de fevereiro @ Espaço Rock Bar
Rua Hoffman, 723, Barreiro, Belo Horizonte/MG
R$ 15, a partir das 16h.