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Música

Por Trás das Lentes: O Lendário Fotógrafo Danny Clinch Conta Como Fazer Amizade com seus Ídolos da Música

Danny Clinch trabalha no ramo de roubar almas. Ele retrata seus fotografados com uma tamanha sinceridade que parece que suas almas são desnudadas.

James Brown fotografado por Danny Clinch

Existe uma velha superstição segundo a qual o ato de tirar uma foto rouba a alma do fotografado. Se você acredita nisso, então Danny Clinch trabalha no ramo de roubar almas. Ele retrata seus fotografados com uma sinceridade notável; almas são desnudadas.

Pelos últimos 25 anos, Clinch usou a lente de uma câmera para navegar pelo mundo dos maiores astros da música. Fotografias intimistas são a sua especialidade: Clinch encontra a beleza em situações despreocupadas nos bastidores. Ver as fotos de tantas figuras importantes – Jay Z, Bob Dylan, Patti Smith – andando casualmente pelas ruas, ou esperando para subir no palco, pode ser uma experiência um tanto destoante, mas esse é o dom de Clinch: apresentar os grandes da música como pessoas quase normais.

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Neste mês de setembro, Clinch imortalizará seu portfólio em forma de livro. Danny Clinch: Still Moving é uma coletânea de capas de discos e revistas, fotos tiradas do meio da plateia em shows e nos bastidores, e muita coisa que ainda não foi publicada.

Depois de mais de duas décadas fotografando os astros, ele, é claro, tem algumas boas histórias para contar. Aqui, conversamos com ele sobre fazer amizade com o pessoal do Radiohead, fotografar Ringo Starr para John Varvatos, e sobre como conseguir entrar nos bastidores.

Beastie Boys em foto de Danny Clinch

Noisey: Você alguma vez já convenceu um artista a fazer algo que ele normalmente não faria?
Danny Clinch:Na verdade não costumo pressionar os outros para que façam algo que não os interessa, mas gosto de instigar, deixá-los empolgados com o que estamos fazendo, de modo que eles mesmos comecem a sugerir coisas – e aí o projeto se torna uma colaboração. Como a foto do Radiohead que tirei tempos atrás. Era uma sessão para uma revista, e todos estavam sentados num banco de rua num canto da Sexta Avenida, e Thom Yorke se levantou. Pedi que ele ficasse de pé em cima do banco e tirei algumas fotos. Ele disse: 'que tal isso aqui?', pulou no ar e deu um chutão de karatê, então eu peguei essa imagem, e ele fez isso só uma vez. Ele está flutuando no ar acima do restante da banda, e foi um momento espontâneo. Enterrei o Redman até o pescoço para a capa do Dare Iz a Darkside, mas isso foi algo que tínhamos planejado juntos. É legal que as pessoas estejam dispostas a colaborar e fazer um esforço extra para criar uma coisa legal.

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Quanto ao seu livro que está saindo, quais são algumas das suas imagens favoritas nele?
Eu gosto da composição em pares. Tem um emparelhamento com o Jay Z de um lado e o Tonny Bennet do outro – e por que esses dois estariam lado a lado? Porque os dois são pessoas super interessantes, que não têm vergonha do que são. Tem uma imagem nova do Tupac que vai sair no livro – se é que ela foi publicada, foi em poucos lugares – então estou empolgado com isso. Tem umas ótimas do Tom Waits. E umas do Neil Young que eu adoro.

O Bruce Springsteen escreveu o prefácio do livro, o que é super empolgante para mim. Tem umas fotos boas do Springsteen que vão estar lá também. O jeito que o livro é fragmentado, não são só fotos de shows ao vivo – tem imagens de bastidores, da gente passando tempo junto, amizades que eu adoro e levei dez anos para construir. Coisas como acompanhar o Radiohead numa turnê, estar com eles na traseira de uma barca a caminho do Liberty State Park, isso você não consegue a menos que tenha passado muito tempo e investido muito tempo num bom relacionamento com as pessoas, de modo que elas confiem em você.

Há quanto tempo começou a sua relação com o Radiohead?
A gente se conheceu quando eles vieram pela primeira vez aos EUA, com o single "Creep". Íamos fazer uma sessão juntos, e eles ficaram muito contentes com as fotos. Então, quando vinham para a cidade, ligavam para mim e a gente passava um tempo juntos, e eu tirava fotos, quer fosse uma situação social, quer fosse a trabalho. Acho importante ser exigente na escolha das fotos que vão ser publicadas, e ter certeza de que ninguém vai se sentir desconfortável. Tem quem goste de soltar fotos escandalosas e colocar os outros em situações comprometedoras, mas esse simplesmente não é o meu estilo.

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E qual você diria que é o seu estilo?
É a fotografia como um documento, mais para o lado artístico. Um retrato pode ser algo muito poderoso, mas também gosto de recuar e mostrar a atmosfera, captar um momento que torne a coisa real. Não é uma ostentação, é uma coisa autêntica e com alma. A gente ouve essas palavras o tempo todo, mas sinto que elas realmente se aplicam nesse caso.

Nas fotografado por Danny Clinch

Há pouco tempo você fotografou o Ringo para John Varvatos. Poderia contar um pouco sobre essa experiência?
Essa é a minha vigésima campanha publicitária com ele. John é um grande amante da música. O rock 'n' roll com certeza influenciou a sua marca. A gente tinha fotografado Iggy Pop, Alice Cooper, Green Day, Jimmy Paige, Gary Clark Jr. e depois o KISS – o que resta fazer depois disso tudo? Este ano fomos ao Grammy e John retomou contato com Ringo. Acho que ele estava usando alguma roupa desenhada pelo John, e a gente ficou falando: “cara, nós temos que tentar o Ringo”. Falamos com o empresário e com o assessor de imprensa dele, e os dois deram o sinal verde. Construímos a campanha em torno da instituição beneficente do Ringo, a Peace Rocks. O Ringo com certeza não precisa do dinheiro, ele queria poder ajudar a sustentar a instituição, e chamar atenção para ela. Está empolgadíssimo com o projeto. Publicaram uma frase em que ele dizia que sempre quis ser modelo masculino.

O legal dos trabalhos com John Varvatos é que foi uma das coisas que me ajudaram a entrar na carreira de diretor de filmes. Venho fazendo filmes desde o início dos anos 90, como o documentário sobre Ben Harper, mas decidi me aventurar a dirigir filmes quando comecei a campanha com John Varvatos. Comecei a levar minha câmera Bolex. Eu disse a John: “se você não se importar, vou só filmar algumas coisinhas aqui para colocar no meu site", e ele falou, “claro, sem problema”. Acabou que hoje nós realmente pensamos as campanhas não só da perspectiva das imagens estáticas, mas também de filmes, para mim como diretor.

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MILKT é a empresa de produção com que trabalho, e conheço Linda, a produtora executiva, desde quando ela tinha 15 anos. Ela é um pouco mais nova do que eu, mas já trabalhamos juntos há muito tempo, e ela me ajudou a cultivar minha carreira, o lado de fazer filmes da minha carreira. Fazer projetos como essa campanha de John Varvatos com Ringo é super maneiro, porque não só posso tirar as fotografias como também posso criar a parte das imagens em movimento, e desta maneira a campanha fica mais coesa.

Se você fosse dar dicas para quem está começando na fotografia, quais seriam?
Noite passada, quando eu estava no show do Action Bronson, tinha um fotógrafo lá que tinha dado uma foto emoldurada de presente para alguém. Quando comecei a fotografar, você encontrava o tempo todo gente que deixava você entrar, dizendo “ah sim, pode ficar aqui atrás onde não tem mais ninguém e tirar uma foto”. Ou então um assessor de imprensa que dizia, “vou deixar você fotografar o show inteiro em vez de só as três primeiras músicas”. Você vai topando com pessoas que te dão uma mãozinha, e sempre achei legal presenteá-las com uma foto impressa. É claro que o artista vai receber uma foto dele mesmo, mas tem também as pessoas que te ajudam na sua caminhada, e elas vão ficar muito gratas se ganharem uma também. Dê de presente uma foto emoldurada, eles valorizam isso, e quando virem você da próxima vez, vão deixar fotografar o show inteiro de novo, e aí é o começo da relação.

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Danny Clinch: Still Movingserá lançado em 23 de setembro. Você pode fazer a pré-compra agora, na Amazon gringa.

Aliza Abarbanel com certeza vai comprar o livro de Danny. Ela está no Twitter – @AlizaAbarbanel.

Tradução: Marcio Stockler

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