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Música

Os Rostos do Punk: Retratos dos Últimos Dias do Arthouse

A Arthouse é um pico punk australiano que teve que fechar, para a tristeza de muitos. Mas aqui estão os últimos registros de quem fez a história da cena por lá.

Toda cidade tem um pico punk querido por muitos, que por algum motivo é obrigado a fechar as portas, deixando os punks do lugar ainda mais na fossa. Para as cenas punk, hardcore e metal de Melbourne, esse lugar era o Royal Artillery Hotel, mais conhecido como Arthouse, ou, simplesmente, Arty.

Em abril de 2011, o Arty fechou as portas depois de 20 anos de atividade, mas não antes de vários shows de despedida que lotaram a casa, incluindo, entre outros, H Block 101, Mindsnare, The Nation Blue e The Smith Street Band. A fotógrafa Anna Brown esteve lá nos últimos dias, tirando mais de 1.400 retratos dos membros das bandas e dos fãs, alguns dos quais foram reunidos no novo livro Parting Shots: The Last Nights of the Arthouse in Mugshots.

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Como Tom Lyngcoln, do Nation Blue e do Harmony, menciona na introdução do livro, o próprio Arty não era, de modo algum, um prédio notável, e, como acontece na maioria dos melhores espaços punk, seu design não era dos melhores. "Tinha uma área clássica de congestionamento que os estrategistas militares não conseguiriam projetar nem em seus melhores sonhos… que explodia num caos cinético absoluto, e suas chances de escapar dos arredores imediatos eram extremamente limitadas", diz ele sobre a sala das bandas.

Mas o palco inclinado recebeu algumas grandes bandas no decorrer dos anos, e juntou num mesmo lugar punks de todos os tipos. Conversamos com Anna sobre o livro e suas memórias do Arty.

Noisey: No livro tem um monte de camisetas pretas de bandas!
Anna Brown:A melhor coisa das camisetas de bandas é que elas ampliam os limites do projeto. São um lembrete de que as coisas não se resumem aos membros das bandas e às outras pessoas que fiz posarem para a câmera. As camisetas incluem os companheiros ausentes e os ídolos que, de uma certa maneira, fazem parte da comunidade do Arthouse.

Qual é a primeira memória que você tem do Arthouse?
Cresci em Canberra, e uma amiga que se mudou para Melbourne me mandava mixtapes e falava empolgadíssima sobre as bandas que ela via todo fim de semana. Na minha cabeça o Arthouse acabou virando um lugar místico, mágico, onde havia um fluxo infinito de bandas extraordinárias. Dei um tempo na faculdade e me mudei para Melbourne em meados dos anos 90, morei lá por um ano, e sempre havia uma banda boa no Arthouse ou no Punters Club. Sempre que eu voltava para Melbourne, planejava para que coincidisse com o show de alguma banda, e muitas vezes o show era no Arthouse.

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O que o lugar tinha de tão especial?
Eu me sentia parte dele, e também reconhecia o quanto era importante para a música que eu gostava. Está ligado com tudo o que eu acho bom em música. Por meio do projeto, pude entender que o sentimento de comunidade não era acidental, e sim cultivado pela família Kelly e pelo espaço que eles criaram.

No livro não há distinção entre as bandas e o público.
Queria que esta fosse uma obra que apresentasse uma comunidade, então a coisa não se reduz aos músicos. Se eu colocasse fotos em páginas duplas dos meus heróis musicais e imagens pequenas das pessoas que eu não conhecia, o livro seria só uma coletânea subjetiva de quem considero importante na comunidade. Às vezes isso é difícil de evitar, mas me esforcei ao máximo para ser objetiva em relação à qualidade dos retratos. Queria que o livro fosse um acervo genuíno de trabalho fotográfico, e não só uma obra de nostalgia. Escolhi os retratos que me pareciam mais cativantes.

Como foram os últimos dias?
Para mim foi uma época muito empolgante, impressionante, exaustiva, divertida e cheia de emoções. Conheci alguns heróis, fiz várias novas amizades e vi quase todas as minhas bandas australianas favoritas, tudo isso em duas semanas. Nesse tempo acabei usando três câmeras diferentes, e tirando mais de 16.000 fotos de umas 600 pessoas.

Quais são algumas das suas fotos favoritas?
O retrato de Tom Lyngcoln é uma delas. Não só por causa de quem ele é, e do quanto gosto do que ele faz, mas porque simplesmente amo as mãos, o fato de que ele está com o rosto tranquilo, e de sua cabeça estar sangrando por causa de um ferimento durante o último show deles. Realmente gosto das fotos em que a pessoa conseguiu relaxar e ficar tranquila diante da câmera, e consegui captar o momento.

Parting Shots: The Last Nights of the Arthouse in Mugshotsacaba de ser lançado pela Parrot Press.

Tradução: Marcio Stockler