Todo mundo do punk e do metal underground de São Paulo e que não é comédia tá ligado no Marcelo, da Extreme Noise Discos/Absurd Records, por sua história como vocalista do Rot, fundamental banda de grindcore do Brasil. Mas antes desse grande feito, aos 15 anos, ele já lançava, em novembro de 1986, a primeira edição do United Forces, um fanzine que cobriu os anos enraizadores da cena pesada-extrema nacional. De leitor de fanzines e revistas musicais e colecionador de fitas cassetes, flyers e cartazes de shows, ele virou fanzineiro. As influências principais da publicação incluíam a Rock Brigade e o zine Heavy Metal Maniac. “Porém, foi um fanzine punk chamado Holocauto, editado por um amigo meu, que me despertou a vontade de também fazer aquilo”, acrescenta ele. “Era tudo bem descontraído e imaturo. Não éramos, nem de longe, especialistas em música, apenas fãs determinados a transmitir o pouco que sabíamos.”
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Com lançamento previsto para fevereiro, um compilado de 320 páginas traz aos nossos dias o sabor do underground daquela época. Depois de um empenhado trabalho de resgate, Marcelo chegou ao livro United Forces – revirando arquivos: 1986-1991 (Extreme Noise Discos). Além da reprodução dos originais dos nove exemplares do fanzine, entre uma edição — leia-se capítulo — e outra foi incluído muito material inédito dos arquivos do autor. Fotos, flyers, cartazes de shows e textos que contam um pouco de como ele descolava o material para cada número, como eram os shows, os discos marcantes… Assim, o leitor consegue desfrutar de uma visão ampla sobre o estado das coisas três décadas atrás.Naqueles tempos, o envolvimento do Marcelo era mais com a cena do metal, embora conhecesse e curtisse várias bandas de punk-hardcore. “No começo tudo era baseado nas informações que lia em outras publicações ou que eram transmitidas verbalmente quando me encontrava com o pessoal no Centro de São Paulo. Depois, com a necessidade de saber mais e de divulgar coisas que a mídia não divulgava, comecei a me corresponder com as bandas, com outros fanzines e com pessoas de tudo quanto é canto do Brasil”, conta ele, que também imprimia o senso de humor e crítico dos quadrinhos do Angeli, Marcatti, Fernando Gonsales, Glauco e Laerte na publicação. “Eu era bem adolescente, minhas ideias eram bem confusas, e, muitas vezes, passavam longe desse politicamente correto que existe hoje. À medida em que ia recebendo informações sobre isso ou aquilo, tentava assimilar ao máximo, e isto se reflete muito no decorrer de cada edição do fanzine”, acrescenta.
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O mais legal desse resgate é topar com entrevistas de nomes em suas fases mais míticas, tipo Sarcófago, Carcass e Darkthrone, realizadas em 89 — o Darkthrone estava apenas na segunda demo e poucos conheciam. Outros pingue-pongues clássicos são os do Mystifier, Abhorrence (embrião do Amorphis), Loucyfer, Sextrash e Mutilator. Havia também espaço para assuntos políticos. Marcelo relembra, por exemplo, que “em 90 me tornei vegetariano e fiz uma matéria falando sobre o abuso sofrido pelos animais nos laboratórios, e entrevistei um inglês que participava de um grupo que se empenhava na defesa dos direitos dos animais.”As maiores tiragens e números de páginas do United Forces ficaram para as duas últimas edições. A número #8 saiu com 46 páginas e 250 cópias, mais duas tiragens de 100 e 150. Já a nona teve 60 páginas e 220 cópias no total. E consideremos que muita gente duplicou e distribuiu mais algumas dezenas ou centenas por conta própria. Fotocopiado, a diagramação do fanzine foi melhorando com o tempo. Acabou, porque em 90 o Marcelo ajudou a montar o Rot e teve que escolher entre o acúmulo de correspondências do zine ou da banda — “Chegava a receber de 20 a 50 cartas por dia!” — entre outras razões, como falta de grana pra rodar em gráfica.De esguelha na promoção do livro, o Marcelo fez um Instagram com uma pá de imagens. Pegamos carona e pedimos a ele que falasse um pouco de algumas delas. Dá um ligo:
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Venom e Exciter em turnê
Som de fita
1986: Invasão Headbanger
Clássico sem registro
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Kreator queimando a largada
Templo do metal
Zine é compromisso
Uma era chega ao fim
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