FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O Novo Álbum do At The Gates Está Martelando na Cabeça da Banda Há 19 Anos

Numa era pós-metal, o At The Gates tem que se reciclar pra lançar seu novo disco, o "At War With Reality"

Quase duas décadas se passaram desde que o At The Gates, pioneiro do death metal melódico, lançou o Slaughter of the Soul. Com a tendência contínua de reunião de bandas de tudo quanto é gênero, o cinismo de fãs e críticos está quase explodindo, tamanha é a incerteza do que um banda que amamos/odiamos pode exatamante oferecer após mudanças rápidas e após muita apatia por parte dos ouvintes. Não há dúvidas quanto à influência do At The Gates no heavy metal, e assim como seus irmãos britânicos do Carcass, a banda deixou fãs, detratores e críticos em um limbo perpétuo no meio dos anos 90, à medida que o nü-metal começou a reinar sobre as lojas de disco e o rádio, para o bem e para o mal.

Publicidade

Agora, em tempos de metal pós-[insira aqui um álbum inovador à sua escolha], o At The Gates irá lançar seu quinto álbum, o At War With Reality, para uma base de fãs completamente nova, mas não menos ávida, junto àqueles entre nós que equilibram desconfiança com a antecipação esperançosa que nos atraiu ao gênero em primeiro lugar. No entanto, se a recente enxurrada de sucessos (entre os fracassos assumidos) das reunões de bandas nos ensinou algo, foi que o tempo só é um bloqueio criativo quando a banda permite que seja. Depois do Gorguts e o Carcass aniquilarem os céticos em 2013, muita gente acredita que junho será o mês em que o At The Gates terá sua vingança, apagando com riffs tanto o tempo quanto a especulação.

Sentei com os membros fundadores do grupo, Tomas “Tompa” Lindberg (voz), Jonas Björler (baixo) e Anders Björler (guitarra), para conversar sobre a história da banda, o que os trouxe à música pesada, e o que os ouvintes podem esperar nos próximos meses.

O que uniu o At The Gates no começo, e o que levou cada um de vocês, individualmente, ao ponto de saberem que tinham que criar essa música?
Tomas: Todos nós, individualmente, estávamos envolvidos com o death metal underground antes da origem. Eu tinhha uma banda chamada Grotesque, quer dizer, o Jonas e eu viramos amigos próximos na época dessa banda, então fez sentido fazermos algo novo juntos.

Anders: Eu e o Jonas crescemos escutando à Nova Onda do Heavy Metal Britânico, depois progredimos para Metallica e Slayer, e então conhecemos o Tomas, e foi uma progressão natural para o death metal. Depois, ao escutar death metal e essas bandas antigas, percebi que era algo que eu mesmo poderia fazer. Isso foi o gatilho para começarmos a tocar um instrumento. Ver as diferentes bandas, de tudo quanto é parte do mundo, e claro, o fato do Tomas já ter sua própria banda.

Publicidade

Houve alguma banda específica na sua juventude que acendeu uma faísca criativa, que deu um impulso?
Jonas: Talvez tenha começado em ‘87 quando ouvíamos Slayer e coisas mais pesadas. Mergulhamos nesse tipo de música, e também na cena underground. Fomos meio que seduzidos por esse mundo, porque era completamente novo, com a troca de fitas e…

Anders: Acho que as bandas que todo mundo gostava eram Death, Mordbid Angel, talvez Autopsy. As bandas pioneiras.

Tomas: É como o que o Jonas disse sobre a cena underground e como parecia um novo mundo. Quando temos 15 ou 16 anos, é isso que estamos procurando, não?

Jonas: É mesmo um sintoma desse tipo de ambiente.

Tomas: A identidade completa está ali. É preciso dar apenas um passo para fazer parte. Digo, tudo faz parte - a música e também a forte sensação de irmandade internacional e tal. Você se torna alguém aos 15 ou 16 anos de idade. É a mesma questão com pessoas crescendo hoje, na mesma idade. Sempre digo que, de certa forma, fomos a geração sortuda, porque como o Anders disse, quando tínhamos uns 10 anos de idade, a Nova Onda do Heavy Metal Britânico estava ali, e depois já éramos grandes o suficiente para começar a comprar álbuns. Presenciamos isso tudo. Depois, na adolescência, testemunhamos o thrash metal acontecer, quando éramos grandes o suficiente para nos dedicar a algo de forma criativa, então eu tinha uma banda, e eles tinham uma banda antes. Estávamos com 15 ou 16 anos, e aí o death metal underground aconteceu. Na hora em que os álbuns de death metal começaram a ser lançados, já estávamos suficientemente estabelecidos para lançar nosso próprio álbum.

Publicidade

Tantas origens do metal e mesmo do rock 'n’ roll estão enraizadas em rebeldia, seja contra religião, autoridade, ou contra toda uma lista de fatores. A escolha do heavy metal foi alguma forma de rebeldia para vocês, como adolescentes na Suécia?
Tomas: A Suécia é um país muito seguro e -

Jonas: É o país menos religioso, mas era comum protestar contra os pais.

Tomas: Assim como na vida comum, você quer que seja diferente do protocolo, e a Suécia é muito normal, então é bem fácil se destacar, acho. [Risos]

Anders: Ter um projeto próprio pode ser melhor solo ou em um pequeno grupo. Você pode se diferenciar do cara ao lado, na escola. É quase como ter um - quase como um mundo secreto.

Tomas: E isso é honesto também. Começamos como fãs e então viramos músicos, mas ainda nos sentimos como fãs do metal, em primeiro lugar, fãs que, por acaso, também têm uma banda. Por crescermos com o underground, acho que sempre teremos essa sensação.

Ao olhar para a trajetória da carreira do At The Gates e ver tanta evolução, e mesmo retrocesso, na música pesada, me pergunto: como vocês vêem as mudanças da música pesada e da cena ao redor?
Tomas: Eu diria que a música definitivamente mudou. Mas acho que, para nós, perguntam às vezes por que não fazíamos sucesso, e é porque somos honestos. Estamos aqui como fãs, e nunca nos importamos muito com imagem.

Jonas: Imagem nunca foi nossa preocupação mesmo.

Tomas: Mas essa é a questão agora. Se a banda está por aí, então, por pelo menos um instante, você já a viu. Se você ouve uma banda, pode baixar o álbum completo em dois segundos, ou rejeitá-la em dois segundos, se não gostar. A questão é - estamos muito velhos para isso, porque ainda funcionamos à moda antiga. É como trabalhamos. Nós acompanhamos as mudanças, e eu até gosto da coisa toda, mas ainda penso à moda antiga, e acho que é por isso que sobrevivemos.

Publicidade

Anders: Digo, continuamos sinceros com nós mesmos, lembrando por que começamos a banda em primeiro lugar.

Tomas: Hoje, a gratificação é instantânea. Depois do show, você pode acessar o Instagram e ver quantos comentários fizeram e merdas assim. [Risos] Quando fazemos um show problemático, como ontem à noite, então OK, precisamos de gratificação instantânea para nos sentir melhor. [Risos] Caso contrário, não damos a mínima.

Vocês associam esse tipo de disponibilidade e instantaneidade da mídia com o crescimento recente da popularidade de um gênero que, por muito tempo, foi considerado pesado e extremo?
Jonas: Acho que músicas extremas finalmente encontraram um caminho no ambiente normal. Antigamente, era uma comunidade fechada.

Tomas: Era bem exclusiva.

Jonas: Bem secreta e reclusa. Anders: E, claro, a Internet ajudou as pessoas a se conectarem.

Jonas: Atualmente, pessoas que nem sabiam que o metal existia podem encontrá-lo facilmente.

Tomas: E se você entrar na Pitchfork, há resenhas de metal ao lado das outras bandas independentes e músicas diferentes. O tipo de música que tocamos, mais extrema, atrai certo interesse de todo mundo, porque tem uma atmosfera mística que as pessoas adoram, e elas acabam experimentando. Antes, o metal só alcançava o público que já estava convertido. Agora, conseguimos alcançar outras pessoas. Isso ajudou, o estilo cresceu e tudo mais, mas como banda, continuamos fazendo o que sempre fizemos. Compor um álbum. É assim que se faz.

Publicidade

Anders: A acessibilidade ao metal tornou-se muito fácil. Basta entrar no Spotify ou no YouTube, e ainda há recomendações instantâneas de outras bandas. A caça ficou bem simples.

Jonas: Antigamente, tínhamos que esperar seis semanas para um álbum chegar, e agora está apenas a um clique de distância.

O que mais mudou para vocês, pessoalmente, desde os primeiros anos do At The Gates? Como vocês acham que sua própria perspectiva mudou?
Tomas: Eu diria que mudou bastante. Mas, ao mesmo tempo, a essência permanece intacta - o porquê de fazermos música, por exemplo. É tão importante para nós hoje quanto era antigamente, mas por outros motivos. Antes, era uma questão de vida ou morte, mas de outra forma, de uma forma negativa.

Anders: Tínhamos um ideal para seguir o tempo todo, e agora é apenas parte das nossas vidas.

Tomas: Quando estamos ali, ainda é importante. Talvez mais importante. Mais profissional. Mas, sério, levar uma vida normal ajuda bastante, admito.
Jonas: Família e amigos são tudo.

Tomas: Muitas bandas como nós provavelmente tocam toda hora, e é muito fácil perder os eixos.

Quais são os próximos passos do At The Gates, após o MDF [Maryland Deathfest], para o resto de 2014?
Anders: Daqui a um mês, entraremos no estúdio.

E qual é o espírito de vocês no novo disco, 19 anos após o Slaughter of the Soul?
Anders: Começamos bem cedo. Na verdade, o processo todo começou no verão passado. Tínhamos o conceito todo em mente no outono já. Muitos dos nomes das músicas e letras já estavam escritos um ano e meio atrás. Agora, temos tudo pronto.

Publicidade

Jonas:O álbum está pronto. Só precisa dos arranjos finais.

Tomas:Com esse álbum, em especial, tínhamos duas opções de caminho. Podíamos ser bem calculistas e ficar dizendo, “Caralho, isso é muito importante. As pessoas terão expectativas altas. É o álbum mais importante que já fizemos.” Poderíamos ter optado por esse caminho e pensar demais sobre tudo. Somos bem meticulosos quanto a todos os detalhes, claro, mas o outro caminho era simplesmente seguir por onde a vida nos levar. Soa bastante cósmico e filosófico, mas a música está no ar. Só precisamos da porcaria de um meio para levá-la às pessoas.

Anders:Na verdade, compramos todos os riffs no eBay. [Todos riem]

Tomas:Assim que começamos a compor as faixas iniciais, o álbum simplesmente cresceu. Primeiro as letras e depois, “ah, temos algo interessante aqui”, e depois todo o resto evoluiu.

Jonas:Não tínhamos certeza de que faríamos outro álbum, mas começamos e tentamos escrever canções, e aconteceu. Se você se sente forçado a compor músicas, não deveria estar compondo. Nada bom vem disso. Quando você tem um bloqueio criativo, é melhor esperar uns dias para se sentir mais inspirado.

Tomas:Trabalhamos muito juntos ao longo de todo o processo. Digo, o álbum está martelando nas nossas cabeças desde que começamos a trabalhar nele. Sempre havia uma ideia, o tempo inteiro. Tocávamos um trechinho, e logo dizíamos, “Sim, é isso, essa é a música. Vamos em frente!” Todos nós estávamos envolvidos no processo, focados, então quando eu tinha uma ideia, podia ser uma ideia maluca, esses dois caras a colocavam no lugar certo.

Publicidade

Anders:Canalizávamos.

Tomas:Exato. Quando eu criava algo sozinho, não ficava legal. Os integrantes desta banda têm uma boa percepção de música em geral, e isso é o mais importante. Como eu disse, somos fãs.

Jonathan Dick está no Twitter - @steelforbrains

Tradução Stephanie Fernandes

Hoje a gente tá metalero, se liga: O Fardo da Treva Pesada e Melódica: no Estúdio com Pallbearer

Por Que os Fãs de Black Metal São uns Cuzões Elitistas?

Um Papo Sobre George Orwell e Pancadaria Sonora com os Caras do Siege of Hate

O Nascimento Nerd e Espinhento do Thrash Metal em São Francisco

Os Angolanos Estão Fazendo Death Metal Para se Rebelar Contra a Sua Sociedade

Veja o Novo Vídeo do Bode Preto “The Erection of the Cross”