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Música

O Amplifest transformou Portugal no centro do metal torto mundial

Nós, brasileiros, invejamos demais o lineup, a produção e a própria existência da sexta edição do evento, que dessa vez levou Neurosis, Mono e outras feras pra terrinha.

Foto: Neurosis. Todas as fotos foram magicamente clicadas pela portuguesa Maria Louceiro e saíram antes no Noisey US. Veja mais do trabalho dela no Facebook.

Quando o Neurosis começou a tocar os primeiros acordes de "Stones from the Sky" no palco da lotada Sala 1 do Hard Club para fechar o Amplifest 2016, o produtor André Mendes finalmente pôde relaxar e curtir "como uma criança" o show que sempre sonhou em levar para Portugal, e agora encerrava com chave de ouro a sexta edição daquele que já é um dos principais festivais de metal torto do mundo.

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Criado em 2011 como uma extensão da produtora Amplificasom, o Amplifest, que me recebeu de braços abertos nos últimos dois anos para o lançamento dos dois volumes dos meus livros Nós Somos a Tempestade, atingiu o seu ápice na mais recente edição do evento, realizada nos dias 20 e 21 de agosto.

Após reunir em edições anteriores artistas do calibre do Converge, Amenra, YOB, Cult of Luna, Oxbow, Swans, Godspeed You! Black Emperor, Acid Mothers Temple, Russian Circles, Year of No Light, Ufomammut, Deafheaven e Godflesh, o festival precisava de algo realmente especial para se superar.

Além do já citado Neurosis, um sonho antigo de André, a edição 2016 do Amplifest contou com shows incríveis de nomes como Mono, Oathbreaker, Kowloon Walled City e Minsk e também dos portugueses Sinistro, Névoa e Redemptus, para reunir milhares de fãs de 25 países diferentes na bela cidade do Porto em um final de semana com ingressos esgotados e cheio de decibéis e microfonias da mais alta qualidade.

"As cinco edições anteriores foram excelentes, trouxeram-nos até aqui e foram todas especiais à sua maneira, mas esta foi muito emocional, palavras houvessem para te explicar melhor. Foi tudo o que esperava, foi mesmo", relembra André, que admite um gosto especial por realizar o Amplifest na sua cidade natal — ele também organiza muitos eventos em Lisboa por meio da Amplificasom, que já possui 10 anos de estrada e mais de 500 shows no currículo.

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Quem também saiu com um sorriso aberto do Amplifest 2016 foi o guitarrista e vocalista americano Scott Evans, do Kowloon Walled City. A banda de San Francisco fez a sua primeira turnê pela Europa no mês passado e, após ver o lineup incrível citado acima, pediu para ficar todo o final de semana do festival, mesmo tocando apenas no primeiro dia.

"O Amplifest foi certamente um dos pontos altos (da nossa primeira tour europeia). Nunca tocamos para tanta gente assim, então isso foi ótimo. E todos trabalhando no festival foram muito amigáveis e prestativos. Por exemplo, a nossa van precisava de uma bateria nova e, assim que chegamos, alguém chamou o nosso motorista e disse 'Vamos encontrar uma bateria para vocês'. Em comparação com outros festivais, havia muito menos bandas, de modo que todo mundo podia assistir a todos os shows sem ficar exausto. Além disso, Porto é incrível", conta o músico e produtor que diz já estar pronto para voltar o quanto antes para a Europa.

Responsável por fazer o primeiro show da história do Amplifest, no já longínquo ano de 2011, o baixista e vocalista português Paulo Rui (Besta e Verdun) demonstra um sentimento especial por voltar ao festival nesta edição mais recente, quando abriu novamente os trabalhos, agora com o trio Redemptus.

"Tive o privilégio de 'abrir' o primeiro Amplifest de sempre, na altura com a minha banda Eak. Foi um momento inesquecível por várias razões. Primeiro porque já na altura sentíamos que estávamos a fazer parte do nascimento de algo muito importante no panorama musical português e também porque estávamos a tocar com muitas das nossas bandas favoritas", conta o músico que também vive no Porto e destaca justamente o show do Kowloon Walled City como o seu favorito do Amplifest 2016.

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Mas o que há de tão diferente no Amplifest que o faz ser realmente uma experiência em vez de "apenas" um festival, como afirma em seus pôsteres desde 2011? Para responder a essa pergunta, ninguém melhor do que o jornalista português José Carlos Santos (LOUD!, Terrorizer e Rock-a-Rolla), que conhece muito bem os principais festivais do estilo pela Europa e também é responsável por uma das melhores atrações não musicais do Amplifest: as Amplitalks, mesas-redondas que reúnem artistas diversos do festival para falar sobre os mais variados temas.

"Especialmente no que diz respeito ao Eistnaflug (na Islândia) e ao Roadburn (na Holanda), que tenho o privilégio de conhecer a fundo também, há em comum o amor à arte por trás da cena. São todos eventos feitos por gente que gosta mesmo disto. E isso faz toda a diferença, e nota-se perfeitamente na vibe do festival. Mesmo com alvos e conceitos diferentes, acho que o Amplifest está para a cena portuguesa como o Eistnaflug está para a cena islandesa e o Roadburn para a cena mundial — é o juntar anual de like-minded spirits, de amigos, uma congregação à qual já sabemos que vamos antes de ter sido anunciada uma única banda. Igualmente importante, são locais onde sabemos que vamos ver 'aquela' banda que não conseguimos ver em mais lado nenhum, num clima de abertura e comunhão entre público, artistas e equipe, em que a qualquer altura é possível olhar para o lado e ver um Steve Von Till a curtir o mesmo show que nós. E isso não tem preço."

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Após deixar no ar que o Amplifest 2016 poderia ser também o último, André diz já ter iniciado os preparativos para que a próxima edição do festival, que sempre foi feito de forma totalmente independente, aconteça de uma forma diferente no ano que vem.

"Estamos a trabalhar nesse sentido (para ter o Amplifest 2017). A burocracia ainda está sendo fechada, ainda há bastante trabalho pela frente, mas já começamos a preparar o caminho que nos pode levar ao Amplifest 2017. Neste momento, há duas certezas: a primeira é que com esta edição encerramos um ciclo; a segunda é que vamos trabalhar como nunca o fizemos até hoje para finalmente conseguirmos apoios ou patrocínios que nos ajudem a seguir com o caminho que foi percorrido até aqui. Temos muitas ideias, temos muitos sonhos para concretizar (nossos e do público que nos acompanha nesta viagem), vamos mesmo trabalhar como nunca para chegarmos até lá", explica.

Mono

Brasil
Apesar de o Brasil ainda não possuir um festival de "metal alternativo" do porte do Amplifest, é notável que vem acontecendo algumas mudanças interessantes nos últimos anos, quando tivemos por aqui shows do Mastodon, Dillinger Escape Plan, Deafheaven, Down, Gojira, Corrosion of Conformity, Syndrome, This Quiet Army, Nadja, Stoned Jesus, Mars Red Sky, Kadavar, The Shrine, Alcest (duas vezes), Mono e God is An Astronaut, entre outros artistas do estilo.

Um dos responsáveis por essa nova fase de shows no país é Lucas Novaes, da produtora Overload, responsável pela vinda dos já citados Alcest, Mono e God is An Astronaut por meio do Overload Fest, que reúne com sucesso já há três anos nomes mais tradicionais como Paradise Lost, Katatonia e Anathema juntamente com artistas mais novos.

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O produtor, que em outubro traz os alemães do The Ocean juntamente com os mais conhecidos Paradise Lost e Epica no Epic Metal Fest, acha que estamos próximos de poder receber essas bandas mais alternativas com uma regularidade parecida dos nomes mais tradicionais.

"Acho que estamos chegando lá. Os fãs estão buscando coisas novas e, mesmo que estas bandas não sejam lançadas por selos brasileiros e tenham pouquíssimo espaço na mídia especializada, a informação está chegando, tem cada vez mais gente interessada. Rolou um pequeno delay, mas o público brasileiro está começando a explorar o que tem de mais interessante no underground. Acho muito legal o que a produtora Abraxas vem fazendo, por exemplo", afirma Lucas sobre a produtora carioca que já trouxe nomes como Kadavar, Stoned Jesus, Mars Red Sky e Radio Moscow.

"Às vezes rolam shows no circuito Sesc também, normalmente com ótimos públicos. O Deafheaven estava lotado. Lógico que os estilos mais tradicionais de metal ainda dominam o calendário de shows, mas acho que tem espaço para todo mundo."

Mais fotos do Amplifest 2016 sob a etérea e incrível ótica da Maria Louceiro você flagra na sequência:

NEUROSIS

MONO

Anna Von Hausswolff

Oathbreaker

Prurient

Minsk

Kowloon Walled City

Sinistro

Rolyporter

The Blackheart Rebellion

Hope Drone

Aluk Todolo

Downfall of Gaia

Caspian

CHVE

Nevoa

Tinyfingers

Redemptus

Andre Mendes

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