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Música

A websérie 'Cena Morta' retrata a sobrevida do hardcore baiano

Encabeçada por Fabiano Passos, do selo Estopim e da banda Rosa Idiota, série retrata a atual cena punk de Salvador e região.
Banda Aphorism. Foto: Reprodução

Em termos quantitativos, é fato que o cenário hardcore/punk no Brasil já esteve com a saúde mais em dia. Mas, na essência, ele se mantém vivo e pogando na vida de muitos adeptos que se recusaram a envelhecer e continuam a viver regidos pelo lema do faça-você-mesmo, produzindo música barulhenta e tentando achar formas de não tomar tanto prejuízo com isso. Tendo o Noisey como palco de estreia, a websérie Cena Morta é mais um fruto da vontade de amigos inconformados que não se contentam com saudosismos preferem continuar produzindo coletivamente, levando à frente a música e modo de vida que escolheram.

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Produzida em Salvador, a série traz no nome a ironia com a ideia de que a cena do hardcore morreu na cidade. "Se morreu, pra mim tá tipo Um morto muito louco, aquele morto que não tá muito afim de morrer não, que ainda que estivesse morto estaria aí ainda curtindo adoidado", brinca Fabiano Passos, idealizador do Cena Morta, do selo Estopim e baixista da banda Rosa Idiota.

A série faz um scene report do que há de mais relevante hoje no hardcore de Salvador e região metropolitana. Dividida em 11 episódios, um a cada semana trazendo uma banda tocando e trocando ideia. "Durante as filmagens, a ideia era fazer um documentário longa mesmo, mas na edição vimos que não tava funcionando, ia ficar um pouco cansativo, repetitivo", revela Fabiano.

Atividade — e não antiguidade — é que é posto no Cena Morta e por isso um dos critérios pra escolha das bandas foi o quanto elas estão vivas e no corre, sem fazer nenhuma questão de dialogar com o passado. "Basta dar uma olhada rápida nos cartazes de shows e ver os lançamentos dos últimos anos. São bandas bastante ativas, desde as que têm décadas de existência como a Pastel de Miolos, às mais novas", afirma Eduardo Felipe, um dos vários parceiros de Fabiano nessa empreitada, integrante do coletivo Tomanacara e da banda Antiporcos, que também será personagem em algum dos próximos episódios.

"E pra você, a cena tá morta?", é uma das perguntas que as bandas respondem em cada episódio. E dentre as várias respostas, o que se pode perceber é que a série trata do quanto o hardcore (como estilo de vida) ainda é presente no cotidiano de cada um. Fabiano afirma que "algumas pessoas propagam que a cena está morta e ficam naquela de 'ah, que tempo bom' quando veem alguma foto ou lembrança de um momento que já foi". Para todo o monte de gente que abraçou a ideia de produzir algo tão trabalhoso apenas por acreditar, é perda de tempo ficar preso no passado.

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Para Fabiano, esse esvaziamento do hardcore se deu em parte por que a cena na cidade não se renovou. "Se trata de uma cultura formada quase sempre por jovens, e o que aconteceu aqui é que hoje vemos poucas caras novas nos shows. Nossa ideia com a série também passa por isso, a gente quer chegar na molecada mesmo. Mostrar que ainda existe essa forma punk/hardcore de se fazer as coisas, de enxergar a política, de respeitar as diferenças."

E se punk e dinheiro são palavras rivais, imagine então como é sustentar uma cena de adultos sendo que essa cena não dá dinheiro a ninguém. Eduardo resume que "é se fuder no sistema pra poder usar a grana disso em algo que preste". Já Fabiano vai mais além na reflexão e revela que esse é um dos pontos em que sua visão mudou bastante, hoje tentando não contar com o prejuízo como certeza em suas produções. "Acredito que uma cena sustentável passa pela questão financeira também. Eu sou contra shows com preços muito baixos e a ideia de se criar uma cultura de shows gratuitos o tempo todo. Existe todo um investimento por trás de cada banda, de cada evento. Se você produz e só toma prejuízos, isso em algum momento vai pesar em sua vida. Por outro lado, se a gente faz a grana circular dentro dessa cena a parada se mantém funcionando melhor."

Com quase dez anos de existência e mantendo um nível de qualidade absurdo no crust/death que fazem, a Aphorism abre a série trazendo dois sons novos que dão sequência às tijoladas que os caras já haviam apresentado nos discos I e Exercícios de Insubmissão. Bota o capacete, confere e continue acompanhando que para a semana que vem o Cena Morta prometeu outro episódio, com a banda Rosa Idiota como convidada da vez.

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