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Música

Iggor Cavalera: "O Jonathan Davis viajou em falar besteira"​

Aproveitamos que os Cavalera estão no Brasil para tocar na íntegra o clássico e polemizamos com Iggor e Ross Robinson sobre esse papo do vocal do Korn de que o Sepultura fez “uma cópia flagrante” do som dos nu metaleiros.

Já ouvia uns sons pesados na minha adolescência quando botei para tocar, pela primeira vez, o álbum Roots (1996), pouco tempo depois do seu lançamento, no meu toca-CDs da Pioneer. Aqueles segundos iniciais, com uns barulhos difíceis de identificar, numa ambientação de natureza, grilos, que de repente são cortados por um riff certeiro, que te atingem direto na nuca e persistem em um peso inacreditável, deslizando no ritmo da batera e percussão. Quando você pensa que não dava para existir nada mais intenso, é aí que entra o vocal do Max. Era "Roots Bloody Roots" rodando a todo vapor, revolucionando a vida daquele jovem headbanger até que, no meio da música, consigo ouvir as batidas na porta do quarto. Minha mãe, enxugando as mãos que lavavam a louça em um guardanapo de pano, me repreende: "Filho! Você está louco, esqueceu que temos vizinhos"?

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Lembro exatamente como foi a primeira vez que ouvi o Roots. E tenho certeza que praticamente todo metaleiro do Brasil (talvez até de fora) guarda essa lembrança. Estima-se que o disco vendeu mais de 2 milhões de cópias no mundo todo. Levou disco de ouro nos EUA, Austrália, Canadá, França, Holanda e Reino Unido.

Em 2016, o disco completou 20 anos de história e, em celebração a esse marco, os irmãos Max e Iggor Cavalera anunciaram a turnê Return to Roots, um show que simplesmente reproduz faixa a faixa do lendário álbum e que vai rolar em palcos brasileiros nos próximos dias (vai lá no fim da matéria para conferir o serviço do show).

Jonathan fala

Roots tem inovações na sonoridade, músicas com berimbaus e até a gravação de índios xavantes feitas em uma tribo no estado do Mato Grosso. Há, ainda, participações especiais do cantor e percussionista baiano Carlinhos Brown, o vocal do Faith No More, Mike Patton, o DJ Lethal (do Limp Bizkit) e o então jovem cantor da banda Korn, Jonathan Davis — e foi esse último participante que andou fazendo declarações polêmicas recentemente.

Em outubro, Davis falou à revista britânica Metal Hammer que, apesar de considerar o Sepultura uma influência para ele, o álbum de 1996 foi uma cópia do som do Korn.

"Um que eu pensei que era um grande elogio, mas também foi algo zoado, era o Roots, do Sepultura. Ele era simplesmente uma cópia flagrante do Korn, e eu falei com o produtor Ross Robinson sobre isso, porque ele só pegou o nosso som e deu ao Sepultura", disse o vocalista na entrevista.

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O produtor Ross Robinson trabalhou com diversos artistas de renome como Slipknot, At The Drive-In, Limp Bizkit e, também, Korn. Em meados dos anos 1990, ainda em início de carreira, gravava o disco do Sepultura no estúdio Indigo Ranch, com aparelhagens clássicas, localizado em Malibu, Califórnia. Mais que isso: estava nos pequenos aviões que levaram os músicos até a aldeia xavante de Pimentel Barbosa, em Água Boa (MT) — inclusive viu o Max Cavalera rezando lá em cima para que a aeronave pousasse em segurança.

Robinson falou ao Noisey Brasil a respeito das declarações de Jonathan Davis e afirmou que, óbvio, era o Sepultura que era a influência na produção da banda. "'Nosso som' era simplesmente gravar naturalmente com absoluta intenção de detonar. No início, todas as músicas do Korn soavam felizes, em tom e escala maior, e, então, eram especificamente transformadas em progressões de acordes menores, para copiar o estilo sombrio e poderoso do Chaos A.D. do Sepultura", comentou o produtor, que ainda reforça: "Nós ouvíamos o álbum todos os dias antes dos ensaios."

Ainda à revista Metal Hammer, o guitarrista do Korn, James "Munky" Shaffer também ressaltou a influência da banda brasileira. "Aquilo éramos nós os imitando! Quando o Sepultura lançou o Chaos A.D., foi uma enorme influência pra gente, e ainda é um dos meus discos favoritos", disse.

Sobre o vocalista do Korn, o produtor Ross Robinson ainda alfinetou sobre sua personalidade. "Os problemas de John são um grande combustível para muitas performances incríveis. Eu apoio isso. Eu acho que ele é perfeito quando é honesto sobre seus sentimentos. Nunca é ruim quando alguém é real, é a minha postura favorita!", afirma.

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O baterista Iggor Cavalera, em entrevista ao Noisey Brasil,resumiu toda essa história de forma mais simples: "Acho que o Jonathan Davis viajou em falar besteira".

De volta às raízes no palco

"O Roots, apesar de ter uma conotação de experimental, na verdade, é um disco super pesado", relata Cavalera, que deixou o Sepultura em 2006, dez anos após o seu irmão Max ter saído da banda. "A capa, que foi inspirada em uma cédula com uma figura indígena, retrata uma situação política e financeira que se mantém até hoje no Brasil", diz.

A icônica ilustração de capa foi assinada por Michael Whelan, desenhista com trabalhos maravilhosos no universo de fantasia, mas que se debruçou — a pedido do Sepultura — nos detalhes de uma nota de mil cruzeiros (moeda vigente no Brasil entre 1900 e 1993). Ele contou um pouco para o Noisey Brasil sobre como foi o processo de criação.

"Diferentemente das outras capas que fiz para o Sepultura (Whelan desenhou em Beneath the Remains, Arise e Chaos A.D.), Max deixou bem claro o que ele queria ver na arte do álbum. Tenho muito respeito por sua visão e estava muito feliz para dar o melhor de mim e trazer sua ideia para realidade. Ele me pediu para que eu duplicasse um dos rostos gravados na parte de trás de uma cédula, e foi isso que tentei fazer", lembra o artista, que se disse orgulhoso por ter feito parte da concepção de um trabalho tão inovador. No entanto, confessa que gostaria de ter tido mais tempo na produção da arte. "Meu computador teve um colapso total bem no meio do trabalho do Roots e acabei fazendo a maior parte dos processos da ilustração no equipamento de um amigo enquanto o meu estava no conserto", recorda-se.

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Sobre a execução do álbum na íntegra nos palcos, até agora, na América do Norte e Europa, Iggor está bastante animado com as performances. "Os shows têm sido incríveis e, na maioria das vezes, com lotação esgotada."

Ao reproduzir nos palcos todo o estudo feito para o disco de 1996, o batera reforça que a mesma imersão na sonoridade ainda persiste nos dias de hoje. "A pesquisa musical é uma constante no meu trabalho e no do meu irmão, seja em projetos de rock ou eletrônicos", diz.

Para o futuro, Cavalera diz que é melhor não pensar muito, mas deixar que o surpreenda, mas adianta alguns planos: "Espero estar morando na Itália, continuando a pesquisa musical eterna e fazendo mais música no estúdio."

Nessa hora, lembro dos meus tempos de moleque, da emoção de ter a chance de ouvir esse álbum clássico na íntegra. Pergunto para Iggor, qual seria o seu disco nostálgico? Aquele que seria foda assistir sendo executado faixa a faixa sobre um palco? "Acabei de ver o Black Flag tocando todos os originais e isso me inspirou para essa turnê, foi o meu momento Roots", confessa.

Serviço

Max e Iggor Cavalera Return to Roots

14/12/2016 – Rio de Janeiro @ Imperator

15/12/2016 – Belo Horizonte @ Musichall

16/12/2016 – São Paulo @ Tropical