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Música

Milo Aukerman avalia a discografia do Descendents

Com disco novo e show agendado no Brasil, o frontman da lendária banda punk ranqueia e reflete sobre os discos que formaram gerações de roqueiros pelo mundo todo.

Foto de divulgação antiga da banda. Crédito: Naomi Peterson

Em Julgando Meus Discos, nós conversamos com integrantes de bandas que acumularam discografias substanciais no decorrer dos anos, e pedimos que os classifiquem em ordem de gosto pessoal.

Há trinta e quatro anos, os punks californianos do Descendents lançaram Milo Goes to College, frenéticos 20 minutos de um hardcore agressivo e cheio de ansiedade pop, o disco contava com canções sobre amor, perdedores, pais, e garotas com jeans Jordache, capturando os sentimentos e frustrações de punks adolescentes suburbanos de Los Angeles a Chicago, Manchester, Sydney e Buenos Aires, vindo a se tornar um dos maiores álbuns punk de todos os tempos.

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De lá pra cá a banda gravou uma série de clássicos, incluindo Hypercaffium Spazzinate, que foi lançado na semana passada pela Epitaph.

Na iminência da visita da clássica banda ao Brasil, conversamos com o frontman Milo Aukerman, que está com 53 anos, para falar sobre os álbuns dos pioneiros do punk que precederam Hypercaffium Spazzinate.

6. COOL TO BE YOU (2004)

Noisey: Você sabe que teria que ter algum disco ocupando o sexto lugar.
Milo Aukerman: É, o principal motivo é que Bill [Stevenson] chegou e mandou bem em algumas músicas, mas senti que minha performance não chegou nem perto nas músicas deles. Acho que até que fui bem em algumas das canções de Karl [Alvarez], mas nas de Bill não deu. Além disso, Stephen [Egerton] não contribuiu com nenhuma música e a sua falta foi realmente sentida. É um lance mais relaxado e não tem a agressão dos primeiros discos, as circunstâncias em torno da gravação realmente não eram as ideais. Nós já não éramos mais uma banda de turnê àquela altura, minha voz estava bastante enferrujada, e acho que isso contribuiu para a minha percepção do disco.

5. I DON’T WANNA GROW UP (1985)

Este aqui foi composto e gravado rapidamente?
Não, mas não tínhamos como ensaiar o material direito. Bill estava em turnê com o Black Flag e ensaiávamos na garagem de Tony [Lombardo]. Bill estava tocando em uma bateria de brinquedo e nós todos com o volume bem baixinho já que era a garagem de Tony, então quando entramos em estúdio, acho que o som meio que reflete esse lance do brinquedo porque ele soa mais leve que o disco de estreia.

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Li em algum lugar que o produtor passou a maior parte do tempo bêbado.
A produção sofreu com alguns dos problemas do produtor, definitivamente. Bill teve que assumir a parada, foi o primeiro disco em que ele trabalhou atrás da mesa de mixagem. Ele comentava “Ah, arruinei o disco” porque dizia não saber o que estava fazendo, era um neófito total.

O álbum conta com “Silly Girl” que é um dos seus momentos mais pop.
É, ainda tocamos ao vivo essa, mas mais agressiva. Algumas das músicas ali são as melhores que Bill já fez, mas ele fica meio bolado porque elas tem a visão de um garoto de 19 anos, ele escrevia essas letras bem românticas, mas a galera adora e eu não me incomodo em cantá-las, é só que Bill fica tipo “Afe, escrevi aquelas letras…”.

Mas também tem aquela sua, “Pervert".
[Risos] É, ainda tocamos essa. Naquele disco misturamos o romance com as paradas mais nojentas.

4. ENJOY! (1986)

O disco do cocô! Vocês estavam viajando bastante na época, e algumas das músicas soam como aquelas piadas imbecis que bandas em turnê costumam fazer.
Quando uma banda viaja tanto quanto a gente, você fica meio isolado da realidade fora da van. Dentro do seu mundinho, rindo de coisas que não fazem sentido nenhum pra ninguém. Rolava esse humor imbecil e a gente se entretinha mais com nossos peidos do que qualquer outra coisa.

Mas rolou uma mudança pra umas paradas mais experimentais.
A experimentação meio que funcionou numa parte do tempo e outra não. Quando funcionava, era ótimo, e quando não, você pensava “Meh, que seja”. Rolaram umas boas colaborações, “Green” é um bom exemplo e “Sour Grapes” um exemplo perfeito.

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3. ALL (1987)

Bill disse que esse disco é o mais próximo que vocês chegaram de Milo Goes to College nisso de capturar a essência do Descendents.
Bill sente que acertamos do ponto-de-vista da produção, e os dois caras novos na banda chegaram com faixas que nos impressionaram. “Coolidge”, de Karl, é a melhor do disco. Mas aí tem umas coisas que não dão muito certo. “Schizophrenia” me dá arrepios hoje em dia. Eu vou dizer que elas são experimentais, mas acho que dá pra chamar de encheção de linguiça mesmo.

O Minutemen influenciou esse negócio de jams, meio experimental?

É, até o Black Flag na época, quando eles lançaram o The Process of Weeding Out, e acho que ele foi um marco para que Stephan chegasse com aquelas melodias doidas, daí eu e Bill metíamos as letras.

2. EVERYTHING SUCKS (1996)

Sua volta para os novos e velhos fãs.
É, acabamos chamando a atenção de quem nos ouvia nos anos 80, que fazia fitas pros irmãos caçulas, às vezes até pros filhos. Diversas gerações diferentes vinham nos ver tocar, era algo completamente inesperado. No caso desse disco, os outros caras estavam tocando no ALL há oito anos, e já tinham se tornado músicos de alto calibre. Tínhamos 35 músicas pra escolher e foi um dos meus discos favoritos de se gravar porque estávamos bem positivos quanto a ele.

O tempo longe ajudou a dar uma revitalizada?
É, eu estava trabalhando com ciência e minha carreira não estava indo pra frente, estava de saco cheio. Decidi que se pudesse fazer outro disco com a banda e se pudesse contribuir com algumas músicas, nós deveríamos tentar. E os caras ficaram empolgadões, foi a hora certa de gravar ele. Músicas como “I’m the One” e “Everything Sucks” são dobradinhas perfeitas.

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1. MILO GOES TO COLLEGE (1982)

Esse tinha que ser o primeiro!
Claro, ele capturava quem éramos naquela época. Queria poder me distanciar da opinião que o público tem desse disco e falar só do que eu penso, mas os dois estão interligados, acho. Foi nosso primeiro álbum, foi mágico pra gente, então acho que ficaria em primeiro lugar independente de qualquer coisa. Tem um fôlego incrível e ainda move as pessoas.

É um dos melhores discos punk de todos os tempos.
Uau, valeu.

De verdade. E é a introdução de Milo, o personagem, uma imagem que se tornou icônica no meio do punk.
É, tem isso aí. Foi aí que tudo começou. Lançamos coisas antes, mas esse foi o disco. Não fez muito barulho quando saiu, foi meio que comendo pelas beiradas. Fizemos turnês pro disco em 85 e 86, dois anos depois do lançamento, o que ajudou a divulgar a parada, mas demorou um pouquinho.

‘Hypercaffium Spazzinate’ foi lançado em 28 de julho pela Epitaph e o Descendents toca pela primeira vez no Brasil em 3 de dezembro, em São Paulo.

Tradução: Thiago “Índio” Silva

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