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Música

O que rolou no show do Wander Wildner na Fatiado Discos?

A casa paulistana encerrou a apresentação antes da hora, afirmando que o músico teria feito declarações machistas e racistas ao microfone. Nas redes sociais, Wildner justificou que foi um mal entendido.
O músico Wander Wildner. Foto: reprodução/ Facebook

A matéria foi atualizada durante esta segunda (29)

No último sábado (27), o show do gaúcho Wander Wildner na Fatiado Discos e Cervejas Especiais, localizada na cidade de São Paulo, acabou mal. De acordo com uma publicação da casa nas redes sociais, o músico teria feito declarações machistas e racistas, e teve seu microfone e amplificador desligados antes mesmo do término da apresentação.

Segundo a Fatiado, o cantor teria dito ao microfone a frase: "Já que nenhuma vadia me traz uma cerveja…". A postagem acabou sendo deletada, mas cravou que ele não seria bem-vindo ali novamente. "Nosso recado foi dado e repercutiu rapidamente. Além disso, nossa intenção era mais dar uma satisfação para as pessoas que não entenderam o ocorrido do que promover um linchamento virtual", respondeu a organização da Fatiado Discos para o Noisey. A tal declaração racista teria sido direcionada a uma pessoa específica que não estava presente na casa. "Portanto, consideramos uma exposição desnecessária", informaram.

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Em sua página oficial, Wander Wildner, que ficou conhecido ainda na década de 80 com a banda punk Os Replicantes, chamou o ocorrido de "mal entendido". "É inegável que não sou racista nem machista. Quem me conhece sabe. Sinto muito se o que falei foi mal interpretado", publicou. E ainda fez um voto de silêncio para as próximas apresentações. "De agora em diante, nos shows, vou apenas cantar as músicas."

O Noisey entrou em contato com o músico e recebeu resposta de Paulo Zé Barcellos. "O Wander não vai falar sobre o ocorrido", pontuou o produtor. "O post [da Fatiado] foi apagado depois que uma menina postou a letra de uma música da Rock Rocket [banda na qual Alan Feres, proprietário do bar, tocou], dizendo que ele estava querendo se apoderar de uma causa em benefício próprio", relatou Paulo Zé.

Ele se refere à letra de "Eu queria me casar", do disco Rock Rocket (2007), que traz trechos como "te levo para o carro e te tranco no porta malas / amarro sua mão e te dou um tapa na cara" e "lhe atiro no sofá e lhe enfio outro sopapo / só para ver se consigo dizer que te amo e quero me casar / mas você diz que não e eu decido te matar".

Após a atualização da matéria com as acusações de Paulo Zé, Alan Feres, ex-baterista do Rock Rocket e proprietário da Fatiado Discos, pediu que o Noisey publicasse na íntegra uma nota para falar sobre a letra em questão e comentar o ocorrido durante o show de Wander Wildner. Leia abaixo:

"Eu realmente sinto muito por não poder mudar o passado. Essa música foi feita há 10 anos, numa época em que se falava muito menos em feminismo do que hoje e, consequentemente, a minha visão do mundo era completamente diferente. Essa letra me foi apresentada como transgressora (eu não era o letrista da banda). Violência de um personagem psicopata com estética de filme de terror. Essa era a desculpa da época. Pura idiotice, ridículo. Não sei como deixei isso passar. Realmente, não tem desculpas. Depois percebi que estávamos na verdade reforçando o padrão machista imposto pelo patriarcado, e que isso é na verdade a base desse 'sistemão' que vivemos. Então, não tem nada de transgressor aí. Definitivamente, não me orgulho disso, muito pelo contrário, morro de vergonha e de raiva de mim. Fui me dando conta disso aos poucos, comecei a falar pros outros integrantes que não queria mais tocar algumas musicas ao vivo, até que resolvi sair da banda. De qualquer forma, não sei como eles tão seguindo hoje em dia, mas imagino que não toquem mais essas musicas também. Na época, eu tinha aproximadamente um terço da idade que o Wander tem atualmente e muito menos acesso à informação do que temos hoje em dia. Acho que eu preferia que alguém tivesse feito uma denúncia, pois realmente demorei pra me ligar. Sei que tamanha besteira não tem desculpa, mas, por isso, fico com os ouvidos abertos pra aprender sobre a luta feminina e errar o mínimo possível. É um constante aprendizado. Tenho humildade pra dizer que eu errei e não apontar esse baita vacilo como um 'mal entendido'. Ainda bem que as mulheres se posicionam cada vez mais. Ainda bem que a casa cai para os homens. Dói pra nós, mas só assim a sociedade evolui. E, por mais que eu esteja sempre me informando a respeito do feminismo, ainda tenho muito o que aprender sobre o assunto. Não espero perdão, mas procuro evoluir todo o dia e contribuir como posso para uma sociedade mais justa. Pelos motivos que citei, obviamente não me sinto à vontade (e nem posso) chamar pra mim o protagonismo dessa luta. E, claro, nem da luta racial. Não tenho conhecimento de causa mas, uma vez que eu era o responsável pelo evento, era meu dever terminar com o show e explicar para as pessoas a razão. Não fiz mais do que a minha obrigação. Não quero 'pagar de bom moço', não quero autopromoção, não quero promover a casa em cima de uma polêmica, mas não é porque eu errei no passado que vou deixar que esse tipo de atitude se propague na Fatiado em pleno 2017, pois, felizmente, nos últimos anos esses assuntos evoluíram numa velocidade incrível. Seguimos aprendendo."