Como e por que "Mr. Brightside" nunca saiu das paradas britânicas?

Pensamentos originalmente publicados no Noisey UK.

Ninguém fora de Las Vegas dava a mínima pro The Killers em 2003, quando eles apareceram com "Mr. Brightside". Porém, quando o single foi relançado em 2004, aparentemente todo mundo mudou de ideia e passou a se importar até demais com a banda. O resultado? De repente, os quatro bem-vestidos rapazes logo se tornaram uma das maiores bandas do século XXI com um sonzinho indie sobre infidelidade, paranoia, ciúme ou quem sabe um relacionamento homossexual que termina em assassinato, dependendo da sua interpretação.

Por razões desconhecidas, "Mr. Brightside" segue até hoje nas paradas do Reino Unido. Saindo de sua jaula na 93ª posição, indo muito bem obrigado entre The Vamps e aquela colaboração que ZAYN e Taylor Swift fizeram para Cinquenta Tons Mais Escuros, lá está Brandon Flowers. Mas por que essa música e por que agora? "Yeah!" de Usher saiu em 2004, mas onde foi parar? Por que não "Hey Mama" do Black Eyed Peas? Ou "Drop It Like It's Hot?" Que forças levaram a quinta melhor música de 2004 segundo a NME a continuar relevante perante todos outros totens do passado, fazendo desta novamente uma das músicas mais lucrativas do momento em 2017?

Observando o histórico das paradas britânicas, talvez te surpreenda o fato de que não há um ano desde seu lançamento que "Mr. Brightside" não figure entre as 100 melhores. O hit já apareceu 166 vezes por lá, passando inclusive 35 SEMANAS CONSECUTIVAS (TRINTA E CINCO, MEU IRMÃOZINHO) ali entre julho de 2016 e março de 2017. Em janeiro deste ano, a faixa chegou no 49º lugar, seu posto mais alto em três anos. "MR. BRIGHTSIDE" FICOU ENTRE AS 50 MELHORES DE 2017, LITERALMENTE. ESTÁ ALI NA LISTA NESSE EXATO MOMENTO. CHUPA ESSA MANGA.

Pensamos bastante sobre o assunto e bolamos algumas teorias para tentar explicar este retorno triunfal e compartilharemos tudo com você porque, tipo, a gente se importa.

FESTINHA DE FIM DE SEMESTRE E PÓS-IRONIA DE DJS DE SPOTIFY

Estamos em maio e já é quase final do ano na facul aqui no hemisfério norte. Isto, por sua vez, significa que é época de balada sem limites até as férias, com jovens de 19 anos enchendo a cara em qualquer oportunidade possível. E nas festinhas, claro, sempre um moleque que ama "Mr. Brightside" e não deixa ninguém mais botar um som pra rolar.

Se você está fazendo faculdade agora, talvez você seja muito jovem pra lembrar de "Mr. Brightside" quando esta surgiu. Você só está familiarizado com a música porque é uma das três faixas que toca na seção roqueira da noite de sexta na boate da sua cidade (as outras são "I Bet You Look Good on the Dancefloor" e "All the Small Things"), então a nostalgia de indie dos anos 2000 não vale nada pra você. Mas tudo bem, porque "Mr. Brightside" vai além disso — talvez até seja melhor que isso.

Pra você, "Mr. Brightside" sempre foi aquela música meio brega, mas que deixa todo mundo feliz naquele momento da noite em que geral começa a se abraçar e falar "mermão te considero demais, não tô falando isso só porque tô bebaço", por mais que aquilo seja coisa de bêbado e tal. Lá está você abrindo o coração e ouve a guitarrinha de "Mr. Brightside" e a pessoa na qual você enroscou o braço te olha, ambos reconhecendo aquela sonzeira, braços pro ar e cerveja voa pra todo lado, especialmente naquele coitado que estava por perto. De repente você é forçado ao núcleo da festa, junto de todos os outros convivas, pra dançar pra caralho com essa música incrível que nunca foi considerada grandes coisas para o bem ou para o mal, mas que faz todo mundo se sentir bem. Ela é associada à diversão, que é exatamente o que todo estudante quer ouvir numa festinha pré-férias logo depois de sucessos como"Tubthumping," e um pouquinho antes de "Wonderwall." E é exatamente por isso que "Mr. Brightside" voltou às paradas. LAUREN O'NEILL

O CONFORTO SEM-FIM DA NOSTALGIA

"Mr. Brightside" é uma música que foi abençoada com a mesma qualidade de gêneros como UK garage e disco. Em meio ao som há o sentimento de pessoas que amamos e perdemos, bem como a vontade de repetir tudo com outra pessoa. É uma música com dois extremos: deixar rostos molhados na pista de dança e silêncios pontuais em um carro descendo a uma estrada vazia de madrugada. Corações cheios com o peso de dias e dias de chuva forte, sorrisinhos e em busca de algo mais — tudo isso retomando o controle ao passo em que a música galga os degraus das 100 melhores. É meio complicado determinar porque isso vem acontecendo, mas será que precisamos mesmo saber? Cabe aqui aquela citação de Yves Saint Lauren, "A moda se vai, mas o estilo é eterno". Ou seja: sentir tudo isso que descrevi acima nunca vai sair de moda e é por isso que esta é uma música atemporal. RYAN BASSIL

UM ERRO TÉCNICO

Me perdoem por soar como um aluno do primeiro período de filosofia que acaba de descobrir os efeitos da sálvia, mas não te dá um ruim pensar que dependemos tanto de tecnologia? Digo, se de repente rolar uma pane elétrica mundial por conta da vindoura guerra nuclear, estaríamos tão na merda que a vida viraria uma loucura apocalíptica a ponto de, em algum momento, teríamos que decidir que amigos e familiares comeríamos primeiro. Mas o que isso tem a ver com "Mr. Brightside"? O que estou tentando dizer aqui é que a tecnologia é assustadoramente frágil. Não podemos depender dela para tudo. Talvez "Mr. Brightside" tenha voltado porque os computadores fizeram alguma cagada e contaram tudo errado. Talvez alguém tenha ligado um cabo no lugar errado, talvez tenha rolado um glitch ou um vírus, sei lá como essas porras funcionam, mas merda acontece e digo que se trata de um erro. DAISY JONES

A GALERA ESTÁ APENAS EMPOLGADAÇA COM O THE KILLERS TOCANDO NO HYDE PARK ESTE VERÃO E CORREU PRO SPOTIFY PRA OUVIR ESSA DESGRAÇA NO REPEAT ENQUANTO DORMEM E QUANDO ACORDAM

Olha, o mesmo tipo de pessoa que pagaria uns trocentos paus para ver The Killers em 2017 provavelmente são as mesmas que comprariam uma segunda cópia do disco ou dariam início a um ritual macabro de ouvir "Mr. Brightside" oito vezes antes de sair pra trabalhar e também ao voltar pra casa só "pra entrar no clima pro show do verão!!!". Provavelmente Daisy está certa e isso é algum erro. TSHEPO MOKOENA

JEREMY CORBYN

"Mr. Brightside" é a música mais não-partidária do momento, impossível de ofender qualquer um e mesmo assim o quão Jeremy Corbyn foi eleito primeiro ministro do Reino Unido é essa música? Deixa eu tentar explicar.

Em julho de 2016, Theresa May foi eleita primeira ministra.

Em julho de 2016 "Mr. Brightside" começou sua jornada de 35 semanas consecutivas nas paradas britânicas, tendo ficado algumas semanas aqui e ali de 2009 em diante.

Coincidência? Ou Theresa May tem sido uma primeira ministra tão merda que toda vez que ela aparece na TV sendo horrível, o eleitorado é forçado a ouvir "Mr. Brightside" e lembrar de Jeremy Corbyn. O adorável Jeremy Corbyn e seu sensível manifesto cujo objetivo é não matar mais pobres. O que aconteceu no dia 12 de janeiro, quando "Mr. Brightside" saltou para a 49ª posição? Theresa May anunciou seu discurso sobre o Brexit. E no dia 13 de abril, quando voltou às paradas após breve pausa? Boris Johnson não conseguiu apoio para mais sanções contra a Rússia e Theresa May disse que ele fez um "excelente trabalho". E durante a semana que subiu da 95ª para a 93ª neste mês? Theresa May fez transmissão no Facebook sobre "priorizar recursos" sob uma chuva de emojis emputecidos.

COINCIDÊNCIA? Ou sempre que Theresa May abre a boca todo mundo fica tão mal que a única forma de lidar com isso é com a euforia incessante de "Mr. Brightside"? Por tabela, a música se tornou o hino de Jeremy Corbyn. Faz sentido total. Se May finalmente topar enfrentá-lo em um debate, a música sobe pras 10 melhores. Se ele ganhar, ela vai pro 1º lugar e fica lá até o Natal com a ajuda de um remix com participação de JME. Certeza absoluta. Porque, ao menos sob o olhar esperançoso do público britânico, Jeremy Corbyn é o "Mr. Brightside". EMMA GARLAND

Não sei você, mas se o partido trabalhista levar as eleições vou começar a encher a cara no máximo às 10 da manhã com "Mr. Brightside" no escritório, em cima da minha mesa entoando marchinhas sobre conservadores. LAUREN O'NEILL

OS ADOLESCENTES ESTÃO DESCOBRINDO THE O.C. , QUE SÓ VIERAM SABER QUE EXISTE PORQUE TANTA GENTE FALOU SOBRE OS DEZ ANOS DESDE SEU ENCERRAMENTO NA INTERNET E ESTÃO REAGINDO AO DRAMA QUE ROLA QUANDO A BANDA TOCA PARA UMAS 40 PESSOAS EM UM EPISÓDIO DA SÉRIE

POR QUE É UMA SONZERA

É, num é?

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Tradução: Thiago "Índio" Silva