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Música

Afiada: A voz e a carne de Juçara Marçal

Peça-chave da chamada ‘nova vanguarda paulista’, a cantora fala sobre seu histórico artístico e como é ser uma mulher no meio alternativo.

Em março, na coluna Mulher do Dia, vamos diariamente parar por um minutinho o torno informacional para respirar e pensar sobre quantas vezes nós levamos realmente a sério o fato de que muitas das nossas artistas preferidas são, todos os dias, mulheres.

Vamos ser sinceros. Você curte um Encarnado, adora um Metá Metá mas provavelmente não faz ideia do histórico artístico da Juçara Marçal antes de ela se tornar peça-chave da chamada ‘nova vanguarda paulista’. Bom, pra falar a verdade, eu também não sabia, mas aprendi que a relação da cantora com a música tem um longo passado. No começo dos anos 1990, ela fez parte do coral da USP, onde estudou Jornalismo e Letras — mais tarde, Juçara lecionou canto em cursos de teatro e entrou no grupo vocal feminino Vésper.

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A cantora, que já passou por diversas bandas desde então, — dentre elas, A Barca e o próprio Metá, na companhia de Thiago França e seu parceiro de projetos desde 2007, Kiko Dinucci — se firmou como uma figura muito mais impactante nos últimos anos. E não digo isso de um modo apenas objetivo, por a cantora ter chamado muita atenção com seus novos projetos, mas também em como sua presença se marca de maneira mais abstrata.

Juçara possui uma energia visceral e forte, que se firma nas palavras que canta, mas surge do modo em que o faz: assertiva e afiadamente, às vezes com uma certa ira que se fez presente em seus mais recentes trabalhos, mas também com a sensibilidade que ela sempre me pareceu ter.

Quando conversamos, a Juçara me contou sobre a grande gama de mulheres que tem como influência e suas impressões sobre ser mina no meio alternativo.

NOISEY: Como você começou a trabalhar com música?
Juçara: Comecei cantando no coral da USP. E de lá, pelos encontros que se firmaram, outras coisas na música foram surgindo: o convite para cantar no musical infanto-juvenil Guaiú, o convite para formar o Vésper Vocal etc…

Você já sofreu algum preconceito no meio por ser mulher?
Não.

Você acha que isso se deve ao meio mais alternativo em que você atua? Que talvez as mulheres tenham mais espaço nele?
Talvez seja o ambiente. Ou talvez seja só sorte mesmo. Porque existe [machismo] também. Já ouvi várias histórias! Ou talvez as formas de exercer o machismo sejam mais sutis. Ou ainda, o fato de eu ser cantora me coloca numa posição mais aceita como "feminina". Se eu fosse percussionista, baixista, certamente teria mais a contar sobre o machismo.

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Você sente que a sua aparência influencia no tratamento que você recebe na mídia?
Sempre influencia. Cabe a você, perceber e lutar contra, se isso não te representa.

Que mulheres você tem como influência/referência?
São muitas. Não caberia aqui. De Clementina de Jesus a Nina Simone. De Virginia Woolf a Clarice Lispector. De Elsie Houston a PJ Harvey.

Você vê melhorias na indústria musical? Acha que está surgindo mais espaço para mulheres?
Hoje é mais fácil você conseguir gravar o seu som de forma independente. Não sei se significa uma melhora na indústria musical. É, antes, uma mudança na maneira de se fazer uma trajetória discográfica. Muito a ver com a internet.

Você tem dicas pra mulheres que estão começando agora no meio musical?
Não parem.

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