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Música

Seria o Drake o Primeiro Cantor/Rapper Bem-Sucedido?

“Teve gente que incorporou melodia antes de mim, mas eu me considero a primeira pessoa a cantar e fazer rap de forma bem-sucedida.” Essa é uma dessas citações que inevitavelmente geram um milhão de esporros de nerds do rap contra você.

Drake. Oi. Pode entrar no meu escritório. Fica à vontade. Gostei do que você fez no cabelo. Ficou bonito. Os óculos também. Já deu para entender. Agora você tem um bilhão de dólares, então precisa se vestir como uma bicha velha grisalha de Boca Raton que só vive em função de janta barata e calculadoras de desconto em gorjeta e essas merdas. Perfeito; não mude nada. Você é inovador no campo da “música rap”. Pega um cigarro. Ah, você já tem um? Maravilha. Pega outro.

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Então, Drake, eu te chamei no meu escritório hoje para falar sobre uns comentários que você fez para o The Jewish Chronicle, dizendo: “Teve gente que incorporou melodia antes de mim, mas eu me considero a primeira pessoa a cantar e fazer rap de forma bem-sucedida.” Essa é uma dessas citações que inevitavelmente geram um milhão de esporros de nerds do rap contra você. Como uma pessoa que gosta de você e da sua música, mas também adora quando famosos falam idiotices, eu me compadeço. Provavelmente te fizeram uma pergunta escrota sobre combinar rap e um vocal cantado e a verdadeira resposta – que você está errado pra caralho – era muito complicada para explicar para o camarada repórter do The Jewish Chronicle.

Então, Drake, chamei você no meu escritório para te passar uma lição e explicar porque você está hilariantemente errado. Primeiro, “rap” como fraseologia é uma coisa extremamente vaga. Dá para argumentar que o ato de falar melodicamente por cima de música já existe há um zilhão de bilhões de anos e já se encontrava no Talking Blues. E aquele pessoal tipo Pete Seeger e Woody Guthrie já fazia rap e cantava loucamente nos anos 40. Mas isso também é meio ridículo, então digamos que você estava querendo dizer que você foi a primeira pessoa que combinou rap e vocal cantado dentro de um dialeto específico do hip hop com um alto nível de sucesso comercial. Foi isso que você quis dizer, certo? Certo.

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Mas mesmo assim você mandou mal, Drake. O exemplo mais ofuscantemente óbvio de como você está hilariantemente errado está com a Srta. Lauryn Hill, cujo álbum Miseducation of Lauryn Hill traz ela basicamente dividindo o tempo entre fazer rap e cantar. Esse álbum vendeu MUITO mais cópias que qualquer coisa que você já lançou, Drizzy. O Biggie tinha uma música em que ele cantava. O Eminem também. O R. Kelly já fez rap e, assim como tudo que o R. Kelly faz, ficou muito bom. Além deles, tem a Missy Elliot, talvez a coisa mais esquisita que aconteceu na música pop dos anos 90, que combinava partes cantadas com rap enquanto o Timbaland combinava tudo com tudo o mais para ela colocar as coisas dela por cima. No underground, tem o Big Moe, o gordão do Houston que morreu por ser bacana demais; o Max B, cujo nível de “cantar” X “fazer rap” era mais ou menos medido pelo número de vezes que ele xingava na cabine; e o finado e ótimo Camu Tao, aquele esquisitão do selo Def Jux cujo último álbum King of Heartscontained talvez seja a síntese perfeita da combinação entre cantar e fazer rap que você ainda almeja. E como você pôde não reconhecer o André 3000, cujo The Love Below não chega perto de nada A NÃO SER de cantar? O André inclusive apareceu no seu próprio álbum, Drake. Por favor, cara. Por favor.

Drizzy, quero que você sente ali no canto e reflita sobre o que fez.