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Música

"Out of Step" e o Ano Que Passei no Minor Threat: Uma Entrevista com Steve Hansgen

"O lance era agressivo-agressivo! Ian comandava com um punho de ferro. A palavra dele era a decisão final, e ele forçava para que assim fosse."

Esta e todas as fotos via DoubleCross XX.

Nos Estados Unidos, tem um monte de gente que se sente ignorada, injustiçada por não ocupar um lugar na história do hardcore norte-americano. Normalmente, são os tipos que, com a cuca cheia de birita, alugam seu ouvido contando como sua banda abriu para o Black Flag em 1983, tentando fazer assim com que você pague a próxima rodada. Mas, de vez em quando, a gente topa com alguém que teve de fato uma participação no grande esquema das coisas naquela época – uma pessoa inteligente, desprovida de ego e com a coragem de falar a verdade nua e crua. Esse alguém é Steve Hansgen.

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Hansgen entrou como baixista no Minor Threat no verão de 1982. No período de um ano em que esteve na banda, gravou o icônico Out of Step, saiu em turnê pelo país e pôde testemunhar em primeira mão como funcionava uma banda que muitos encaravam como um enigma indecifrável.

Sempre me perguntei o motivo de Hansgen nunca ser mencionado na história do Minor Threat, então persegui o fdp e consegui falar com ele pelo telefone algumas manhãs atrás. Ele soltou o verbo sobre ser doutrinado na cena Hardcore de D.C. do início dos anos 80, sobre entrar no Minor Threat e os sofrimentos decorrentes, e sobre como o Lyle Preslar é um sujeito muito gente fina.

Noisey: Como e quando você entrou na cena punk de D.C.? Eles ainda se referiam simplesmente ao punk quando você chegou, ou já era 'hardcore' punk?
Steve Hansgen: Entrei na época em que estava rolando a transição – de cena punk de D.C. para cena hardcore punk de D.C. Houve um período claro de transição ali, de quando o The Teen Idles se separou até quando o Minor Threat e o S.O.A. se formaram; a linha foi meio que essa aí mesmo. Entrei nessa por causa de uma banda mais antiga que estava na região, o The Slickee Boys. Eles eram a grande banda da new wave em D.C. naquele momento, e o vocalista é um primo meu, Mark Noone.

Eu estava nos subúrbios de Virginia, começando a curtir esse tipo de música, e ele me passava informações sobre uma cena muito maneira no centro de D.C., onde havia garotos da minha idade tocando punk rock em boates. Fiquei muito fascinado com essa ideia, porque ela me parecia totalmente alienígena. Deixaram que eu acompanhasse o The Slickee Boys como roadie, e foi assim que vi Bad Brains e Teen Idles pela primeira vez. Fui completamente cativado por aquela cena fervilhante que estava rolando. Ficava a apenas 20 quilômetros de distância de mim, mas podiam ser 300 e não faria diferença.

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Comecei a frequentar os shows esporadicamente no verão de 1980, e no outono desse ano eu já tinha sido completamente doutrinado; eu era um punk rocker. Bem naquela época o The Teen Idles se separou, e a cena punk de D.C. virou hardcore. Imediatamente eu e meus amigos nos identificamos com isso. Todos eram garotos da nossa idade, e a gente não necessariamente se identificava com o punk britânico de 77. Então, naquele ponto, essa era a nossa identidade.

A gente sempre lê sobre como a primeira banda de Ian MacKaye, The Teen Idles, saiu em turnê pela Costa Oeste em 1980, viu The Circle Jerks e Dead Kennedys, e voltou totalmente influenciada por aquela cena. Ouvimos dizer de como eles resgataram o slam dancing e o stage diving, e trouxeram toda aquela vibe de volta para D.C. Foi isso o que fez a cena de D.C. entrar na sua fase hardcore?
Com certeza, disso não há dúvida. Essa foi a linha divisória entre a gente pular para cima e para baixo na frente do palco e pular de cima do palco e uns nos outros.

Eles voltaram da Costa Oeste com uma coisa que tinham pegado em Huntington Beach. Ian (Mackaye) e Henry (Rollins) com certeza adaptaram essas coisas de acordo com suas próprias ideias, mas tudo veio dali. As bandanas amarradas nas botas e o slam dancing vieram da viagem do The Teen Idles para L.A. Disso não há dúvida.

Mas depois que eles trouxeram essas coisas para D.C., acho que foi aí que virou mais uma cultura. Foi quando o hardcore se transformou em uma estética em si.
Claro. A outra coisa foi um fluxo gigantesco de novos garotos vindo dos subúrbios, no verão de 1980. Então, a combinação dessa nova energia, e também o que os The Teen Idles trouxeram na volta, junto com o conceito de que eles estavam pensando em lançar seu próprio disco, isso tudo contribuiu muito. Foi tipo: 'uau! Vocês vão lançar um disco?'. Isso foi foda, porque confirmava o fato de que a gente tinha uma cena. Nós tínhamos uma gravadora, e uma visibilidade, e uma identidade, e tudo isso se aglutinou naquela época. Isso tudo estava acontecendo no outono de 1980 e entrando pelo ano de 1981.

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Quando o Teen Idles acabou e o Minor Threat foi formado, ficou evidente que seria essa a banda a fincar uma bandeira, e obrigar as pessoas a prestarem atenção em D.C.?
Ah, sim. Ficou evidente desde o primeiro show. S.O.A. e Minor Threat surgiram ao mesmo tempo, e por mais que amássemos o S.O.A., ficou muito claro que o Minor Threat era uma coisa especial, que neles havia algo de diferente. Henry sempre foi um grande frontman – sem dúvida – mas Ian era hipnotizante. Ele foi um frontman de vanguarda.

Quando o lance do straight edge surgiu em D.C., como foi encarado por algumas das pessoas e bandas mais antigas da cena? Como uma banda como Black Market Baby encarou isso?
Do Black Market Baby ninguém falava nada, porque eles eram uma banda excelente, e muito importante na história de D.C. No punk rock ninguém deu importância. Era um lance assim: eles têm músicas fodas e são o que são, então quem se importa? Achavam que a ideia era besta, mas também, eles tinham 23 anos, e nós 16; eles nos achavam uns bestas, ponto final! Já toquei em uma banda com o Mike Dolfi e o Boyd Farrell do Black Market Baby em anos recentes, e eles me disseram sem rodeios que nos achavam uma piada, mas depois perceberam que não era esse o caso.

Bom, acho que é como você disse, a diferença de idade com certeza influenciou. Quando escrevi meu primeiro livro, Why Be Something That You're Not, aprendi que havia um abismo enorme no Meio Oeste americano entre uma banda como o The Fix, que era mais velha e com um pensamento mais rock 'n' roll, e uma banda como The Necros, que eram garotos que queriam criar em sua região algo semelhante ao que estava acontecendo em D.C.
The Fix era uma banda excelente. Acho que eles eram a versão Meio Oeste do Black Market Baby. Havia uma em cada cidadezinha, naquela época.

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Havia uma porrada de bandas como essa, que eram anomalias em suas cidadezinhas no final dos anos 70. Não eram colecionadores de discos ou caras que liam fanzines, se informando sobre o que acontecia na Califórnia ou na Inglaterra; eles tocavam uma música rápida e eram esquisitões. Bandas como The Fix, Black Market Baby e The Worst, lá de Jersey Shore. Acho isso tudo super fascinante.
E tenho certeza de que essas bandas estavam inspirando garotos que realmente deslancharam nesse lance de hardcore, sem ter consciência disso. Eram bandas que conseguiam criar músicas incríveis, que tinham bons músicos. Sei que nós aspirávamos a ser como o Black Market Baby.

Quando foi exatamente que você se juntou ao Minor Threat?
Brian Baker e eu éramos amigos desde a infância. O meu pai era o apresentador do Eyewitness News em D.C., e o pai de Brian era o produtor. Ele acabou se mudando para Gross Pointe, em Michigan, ficou lá por alguns anos, e nós perdemos contato. Então acabei topando com ele em um show punk em D.C. anos depois, quando o Minor Threat estava começando. Muita gente se sentia intimidada pelo Brian, pela sua atitude de superioridade, mas eu o conhecia desde quando ele tinha nove anos, então eu estava cagando para isso. Eu ia lá falar com ele e meus amigos todos ficavam: "Ih, meu Deus! Ele foi falar com o Brian!".

Então, numa tarde de agosto de 1982, eu por acaso estava em Georgetown e fui conversar com o John Stabb, o vocalista do Government Issue. Ele trabalhava em sua própria loja de discos por lá. Quando cheguei, o Brian estava do lado de fora, conversando com o Mike Hampton, do The Faith. Eles estavam conversando sobre guitarras, e eu me meti no meio. Brian disse: "Você toca?", e eu respondi "ahã". Aí ele perguntou "você toca baixo?", e eu disse "na verdade esse é o instrumento que toco melhor", ao que ele respondeu "ah, é?", e entrou correndo na loja.

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Bom, o que eu não sabia era que o John estava em turnê, e que o Ian MacKaye estava cobrindo para ele naquela semana. Então, de repente, Ian e Brian saem da loja, e os dois conversando lá no alto das escadas. Depois que a conversa acabou, o Brian chegou para mim e disse: "Ei… você quer dar uma chegada lá em casa, ficar de bobeira, tocar um pouco?"

Fomos para lá, e a primeira coisa que eu disse foi: "Olha, eu conheço todas as músicas do Minor Threat, sem exceção", e aí toquei um monte delas junto com ele. No dia seguinte, fui na Dischord House e toquei com a banda inteira, e foi isso. Mas eles nunca chegaram ao ponto de dizer: "Você agora faz parte da banda".

Então eu perguntei: "Vocês podem me dizer o que está rolando? E, o mais importante, o porquê?

Fiquei sabendo que a ideia original de Brian, Jeff e Ian era expulsar o Lyle do Minor Threat e formar uma banda inteiramente nova, com o Brian na guitarra e eu no baixo. Mas, agora, eles estavam pensando em ficar com uma banda de cinco integrantes, porque o Lyle provavelmente não aguentaria o rojão se fosse expulso da banda. Então eu fiquei na banda desde aquele dia de agosto de 1982 até mais ou menos um ano depois.

Então aquele show infame no Buff Hall, em que o Minor Threat tocou junto com o SSD e o Agnostic Front, em Nova Jersey – esse foi o seu primeiro show fora da cidade com a banda?
Meu primeiro show com o Minor Threat foi tecnicamente fora da cidade, porque foi em Baltimore, mas o Buff Hall foi meu primeiro show na área norte que fiz com eles. Lembro só de estar na frente do meu amplificador, as costas apoiadas nele, pensando: "Bem, acho que é aqui que vou ficar pelo resto da noite". Se eu desse um passo em qualquer direção, ia levar alguma porrada. Não me entenda mal, era uma maluquice divertida, mas era uma coisa doida. Era um troço bem na cara; não havia separação entre público e banda naquela noite. A coisa foi exatamente como aparece no DVD. E Lyle (Preslar, guitarrista do Minor Threat) não fez nenhum novo amigo naquela noite.

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Teve alguma ocasião em que ele fez?
Não, nunca. Se ele tivesse um microfone ao alcance da mão, alguém sempre acabava ficando puto.

Tenho uma memória muito vívida do terceiro ou quarto show de hardcore a que fui na minha vida; era um show do Meatmen no verão de 1984, em Florence, Nova Jersey. Foi quando Lyle e Brian Baker tinham acabado de entrar no Meatmen. O meu irmão foi o DJ do show, então cheguei lá mais ou menos uma hora antes de as portas abrirem, e vi o Lyle realmente soltando os cachorros em cima do técnico de som durante a passagem.
Eu sei exatamente de que show você está falando. Eu estava acompanhando o The Meatmen como roadie naquele show. Lyle deu um chilique com o técnico de som.

Sim! Meu Deus! Não acredito que você também estava lá!
Cara, eu estava bem do lado dele nessa hora!

Que bizarro isso! Lembro que tudo o que eu achava tão maneiro no Minor Threat murchou ali mesmo, bem diante dos meus olhos.
[Risos] Para falar a verdade, os técnicos de som estavam sendo escrotos, mas Brian e eu estávamos tentando deixar quieto, e não piorar mais ainda a situação. Aí, do nada, ergui os olhos e vi Lyle indo em direção ao microfone, e foi daquelas coisas em câmera lenta, tipo "ih, caralho…" [risos] Nunca vou esquecer desse dia!

E aí, depois daquele show, lembro de ver ele ir para cima do London May e dos caras do Samhain, por causa de alguma coisa que eles disseram sobre ele, numa entrevista a um fanzine. Minha impressão forte foi: "putz, esse cara é babaca mesmo!"
Ele nunca causava uma boa impressão nas pessoas. Quando lembro do tempo em que estive no Minor Threat, e penso nas duas turnês completas que fiz com eles, não tenho nenhuma memória de alguém sair dizendo: "Uau, o Lyle Preslar é um cara maneiro!", e acho isso muito triste. Eu sabia que o Lyle tinha um lado que não era desse jeito. Sempre ficava de boca fechada quando ele era grosseiro com alguém, porque achava o sujeito muito talentoso. Ele chegava no ensaio, jogava uma música para cima de mim, e eu ficava tipo "meu Jesus, o que é isso?!", e ele dizia "é uma música chamada ‘It Follows’, e o som é o seguinte". Mas, quando estávamos na estrada e chegava um garoto puxando conversa, só olhava para o Lyle e pensava: "Por favor, não abra a boca!", porque provavelmente ele seria escroto com o garoto.

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O que veio primeiro, a gravação de Out of Step ou sair em turnê com a banda?
A gravação. Todas as músicas foram compostas no outono de 1982. Fizemos a pré-produção durante dois meses inteiros, novembro e dezembro de 1982, e aí, logo após o Ano Novo de 1983, entramos no estúdio para gravar.

Foi a primeira vez que entrei num estúdio de verdade, e foi no estúdio Inner Ear, do Don Zientara. A sala em que os filhos dele brincavam era a sala de gravação. Tinha brinquedo para tudo que era canto, e era uma sala bem apertada. A bateria ficava no centro do cômodo. Os amplificadores ficavam apontados para o centro do cômodo. Ian cantava na lavanderia, com uma cortina nos separando dele. Acho que fizemos dois takes de "Think Again". Fora essa, tudo nós gravamos de primeira.

A primeira vez na vida que ele cantou "Look Back and Laugh" até o fim foi aquele primeiro take. A gente só tinha tocado aquela música nos ensaios. Não tínhamos nem tocado em shows. Quando entramos para gravar, foi a primeira vez que ouvimos a música ser cantada. Lembro de ficar embasbacado de estar fazendo parte daquilo.

Por que pediram que você saísse da banda?
Nós saímos para uma turnê que durou dois meses e meio, e foi dureza. Acabei sendo o bode expiatório de vários problemas que estavam rolando com a banda desde muito antes da minha entrada. Ao que parece, ao entrar, eu só acrescentei problemas, em vez de fazer com que eles sumissem. Acabei virando tão disfuncional quanto eles eram, para poder sobreviver. Eles pediram que eu saísse depois dessa turnê, e naquele ponto fui embora alegre, porque a situação da banda estava volátil demais. Depois que me expulsaram, a banda durou mais dois meses antes de desmoronar. Mas foi uma experiência do caralho, isso não tem como negar.

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Então, esses problemas no Minor Threat eram só por conta do comportamento passivo-agressivo normal em que os grupos de homens acabam caindo na juventude?
Não, o lance era agressivo-agressivo! [Risos] Ian comandava com um punho de ferro. A palavra dele era a decisão final, e ele forçava para que assim fosse. Nunca o vi entrar em alguma altercação física com os integrantes da banda, mas cheguei a ver uma briga física mesmo entre Jeff e Brian, quando estávamos em São Francisco. Eles literalmente começaram a brigar por conta de um resto de patê de presunto, e pelas duas últimas fatias de pão. Essa foi a primeira vez que olhei para o Jeff e disse: "Que isso cara, você é assustador!". O pavio do Jeff era longo, mas quando acendia, ele pirava.

Lyle era abusivo só no nível verbal. Se você tocasse errado uma nota, era um idiota, e ele dizia isso em cima do palco, fazendo a pessoa passar vergonha. Essas coisas todas aconteciam diariamente, e depois de um tempo, isso afeta a pessoa. Eu fui afetado. Não dá para negar.

Um integrante da banda afirmou publicamente que eu não aguentava a pressão. A pressão nunca me incomodou. O que me incomodava era como eles eram cruéis uns com os outros. Era difícil entrar naquela banda, sendo que tudo o que eles faziam era sacanear uns aos outros sem motivo. Nunca entendi porque faziam isso. Parecia que tinha um certo nível de antagonismo que vinha no pacote de ser membro daquela banda, e isso era uma coisa que eu não entendia.

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Chegou a um ponto em que a coisa só era divertida durante a hora que eu passava em cima do palco. Essa parte era incrível, mas a viagem de cinco ou oito horas que eu tinha que fazer com eles para chegar ao lugar do show costumava não ser muito divertida.

Lembro de uma declaração de algum dos integrantes, não lembro onde, que dizia "com o Steve na banda, a sensação era sempre de que era o Minor Threat e mais um cara". O que você acha que ele quis dizer com isso?
Não sei, porque eu entrei na banda totalmente. Compartilhava da filosofia, e ajudei com as músicas que acabaram saindo no LP Out of Step. Sempre me senti 100% parte da banda, e tinha o apoio de Brian e Lyle. Acho que o problema era o seguinte: as decisões, em tese, vinham do alto – que era Ian – e eram implementadas desde lá. A única decisão com aquela banda que não foi tomada por Ian foi me colocarem lá dentro; isso veio do Brian. Não foi decisão e nem ideia de Ian, e acho que isso sempre ficou atravessado na garganta dele. A decisão de me expulsar, porém, foi ele que tomou.

Alguém bem próximo da SST uma vez me contou que houve algum tipo de competição bizarra rolando entre o Minor Threat e o Black Flag em algum momento. Você lembra de alguma coisa sobre isso? Era uma treta só entre Ian e Henry?
Havia algum estranhamento entre Ian e Henry, porque o Henry começou a tomar ácido quando entrou no Black Flag. Ele estava experimentando coisas que estavam fora do ponto filosófico de origem dos dois.

Quanto a problemas entre as duas bandas, não lembro de nada, mas ficava um clima estranho quando estávamos perto deles, e não sei o motivo. Ficamos nos escritórios da SST durante metade de um dia, quando chegamos a Los Angeles na turnê da primavera de 1983. Lembro de ser uma coisa bem constrangedora e muito esquisita. Ian estava tentando falar com Chuck [Dukowski] e com Henry sobre a turnê, e os dois não paravam de interrompê-lo. Nunca tinha visto ninguém interromper o Ian, falar mais alto que ele daquele jeito, e não levar porrada por causa disso. Mas Ian engoliu o sapo, e lembro que eu pensei "esquisito isso aí".

Você concorda com a versão oficial segundo a qual a primeira onda do hardcore acabou mesmo em 1984?
O final de 83 e o início de 84 certamente não foi uma boa época para tocar hardcore em D.C. Quando fundei a minha outra banda, o Second Wind, não era possível ser preso. A única banda para a qual alguém ligava era o Marginal Man, e não posso culpá-los, era uma banda incrível. O Scream estava indo em uma nova direção também. O Government Issue também deu esse salto, mas foi uma época muito deprimente. Houve uma tomada de impulso enorme em 82, que culminou com a turnê de Out of Step em 83, e pá, tudo isso desceu ralo abaixo! Depois que o Minor Threat acabou, dava para sentir que estava diferente.

Depois que pediram que você saísse do Minor Threat ficou alguma mágoa?
Não. Eu estava no gargarejo em todos os shows que eles fizeram em D.C. depois disso. Apareço direto na parte do DVD do Minor Threat ao vivo que mostra os shows no 9:30 Club. Saí em todas as fotos do último show deles também. A banda que formei depois do Minor Threat – Second Wind – tinha como vocalista o Rich Moore, que era roadie do Minor Threat, e ele morava na Dischord House. Então eu ensaiava duas vezes por semana na Dischord House, igualzinho a eles. Não houve nenhum momento em que tenha rolado um clima do tipo "vai se foder!".

Obrigado por conversar com a gente e ser tão sincero. Normalmente, quando se conversa com alguém sem papas na língua sobre ser ex-integrante de uma banda, fica bem claro que a pessoa está caçando briga. Mas essa não foi, de jeito nenhum, a minha impressão.
Para mim, ter feito parte do Minor Threat vai sempre ter valido a pena. Eu fui um fã que conseguiu participar da sua banda favorita. Foi tipo entrar nos Beatles entre Rubber Soul e Revolver. Estive presente no auge da banda. No final, a música era o que importava, e foi incrível tocar aquelas canções.

A banda atual de Steve Hansgen é o Dot Dash, e você pode saber mais sobre ela aqui.

O livro de Tony Rettman, NYHC 1980 – 1990, pode ser comprado aqui.

Tradução: Marcio Stockler