FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Até o Silêncio Desconfortável Chegar: Uma Conversa Casual Com Flying Lotus

O FlyLo contou sobre o disco novo, seus colaboradores e a música que o impulsionou a criar seu próprio som.

Capa do Until the Quiet Comes Comecei a acompanhar a cena de música eletrônica de Los Angeles porque imagino os artistas que a compõem como espíritos afins. Tudo começou com o primeiro disco do Flying Lotus, Los Angeles, o primeiro álbum que me fez perceber que alguma coisa revolucionária estava acontecendo. Aqui e ali, juntei notícias da cena de Los Angeles, procurei pelos sons, e o que ouvi ecoou no meu próprio passado. Aquelas pessoas claramente cresceram ouvindo as mesmas coisas que eu – uma mistura inebriante da era dourada do hip hop e música eletrônica britânica, talvez um resto de angústia adolescente cheia de punk old school. Adicione um senso de humor afiado pelos “Simpsons” e uma introdução precoce ao Fruity Loops e você tem a mente moderna dos beatmakers de 2000 e alguma coisa. Querendo ou não ser o exemplo mais representativo desse som, Flying Lotus é seu embaixador. Com uma popularidade inigualável pro estilo, ele é a porta pra cena de música eletrônica de LA pra todo mundo que não vive dentro desse reino geográfico ou conceitual. Quando finalmente tive a chance de falar com o FlyLo alguma semanas atrás, não consegui deixar de ficar com inveja e fazer todas as perguntas nerds que sempre quis fazer pra ele. Às vezes esqueço completamente que sou jornalista e simplesmente deixo minha curiosidade de fã me guiar, me atrapalhando com minhas próprias conjecturas e ocasionalmente perguntando um pouco demais (ele se recusou a me dizer onde compra seus discos). Mas lendo a transcrição da nossa conversa, isso começou a parecer realidade pra mim. Não fiz uma pesquisa porque já sabia o que queria encontrar, e não foi fácil porque simplesmente não sou assim tão descolado. Essa é a conversa que imagino que qualquer beatmaker gostaria de ter com Flying Lotus, e pra mim isso é muito mais divertido que uma entrevista clichê. Primeiro eu queria testar uma teoria na qual tenho trabalhado há um tempo: os cinco álbuns que mais influenciaram essa geração da música eletrônica. Pode-se argumentar que listas assim simplificadas são chatas e um insulto, mas só dessa vez me permiti essa condescendência inspirada pelo Alta Fidelidade.

Publicidade

CINCO ÁLBUNS

J Dilla - Donuts

Flying Lotus

: É, essa é difícil. Pra ser honesto, quando ouvi pela primeira vez não gostei. Achei que ele estava tentando muito ser como o

Madlib

. Achei que ele estava tentando se adaptar de mais ao estilo do Madlib, da maneira como ele estava fazendo antes. Demorou um pouco, sabe como é isso.

Se você ama muito uma pessoa você pensa: 'Era isso que eu estava esperando', e depois de um tempo você fica: “É, isso é incrível, e é muito legal que ele não esteja fazendo algo que já fez antes.' Mas senti isso no começo. E também foi uma coisa muito frenética pra mim, eu trabalhava na Stones Throw e esse era um disco muito importante pro selo mesmo antes dele morrer. Era uma coisa grande pra todos nós, porque éramos grandes fãs dele. Então tenho uma conexão diferente com isso. Na verdade eu trabalhei nisso, trabalhei distribuindo o disco pras pessoas, fiz parte do processo de explosão dele, tocando nas festas e tal, eu estava lá.

Isso mudou a maneira como você produz?

Isso me fez usar mais o compressor. Ele usou muito compressor nesse disco.

Nota: Mais tarde, naquele mesmo dia, me encontrei com o Daedelus depois de seu show no Rumsey Playfield no Central Park. Mostrei a lista e ele mencionou que

The Unseen do Quasimoto

estava faltando, e que sua influência pros produtores de LA era enorme. Se esse disco pode ser adicionado à lista ou substituir Donuts é algo pra ser discutido por muito tempo. De qualquer maneira, Madlib (que fez o disco sob o pseudônimo de Quasimoto) merece muito crédito por moldar esse tipo de som.

Publicidade

Boards of Canada - Music Has the Right To Children

Não tenho uma grande história com isso, mas adoro Boards of Canada. Não curtia muito enquanto a banda estava acontecendo, me interessei por isso depois. E não teve um disco deles em que fiquei vidrado. Mas algumas faixas realmente me pegaram.

Mr. Oizo - Analog Worms Attack

Ah, grande disco, grande disco. Principalmente porque algumas músicas dele nós já tínhamos ouvido milhões de vezes e realmente não percebemos até um DJ chamado Kutmah começar a tocar isso nos clubes.

Ele começava tocando isso muito devagar e eu pensava “Que negócio é esse?” E era o Mr. Oizo tocando coisas. Lembro da cena, quando comecei a entender que eles estavam tocando muitas coisas como Danny Breaks. E

Analog Worms Attack

era puramente feito de batidas de bateria com linhas de baixo vacilantes e tudo mais – grande som. Esse disco foi um dos que começaram a coisa toda, acho. Acho mesmo.

Acho que esse disco foi o primeiro disco com sintetizadores vacilantes. Era muito revolucionário pra época e é um desses discos que soam legais até hoje. Ele envelheceu muito bem. Acho que já dever ter uns dez anos. Uma década de idade.

Aphex Twin - Richard D. James

Sim, sim. Aphex. Você está pegando as coisas quentes. Quer dizer, o álbum foi um hit na época. É uma desses coisa da faculdade, mas tem muito coisa ali que continuo ouvindo o tempo todo, como

“Girl/Boy Song”

e

“Milkman”

Publicidade

. Todas essas coisas são de quando o Aphex fez seu disco de maior sucesso acho. Foi quando ele soava quase pop.

Não me distancio muito disso. Se isso influenciou meu trabalho? Com certeza. Especialmente na sensação. Acho que as pessoas definitivamente fazem a associação com isso também por causa do selo. É engraçado porque acho o álbum

Drukqs

um pouco mais influente pra mim.

DJ Shadow - Endtroducing…

Ah, outro grande. [Risos] Você está pegando todas as pessoas que você acha que eu gosto. É, esse foi um disco muito grande, uma grande coisa. Ele veio em alguns pontos diferentes da minha vida, na verdade. Gostei do disco quando saiu, mas ele era parte do documentário

Dark Days

, então ouvi de novo quando estava na faculdade ou algo assim, foi como descobrir tudo de novo anos depois, sabe?

UNTIL THE QUIET COMES

Depois dessa trívia que me abriu os olhos, imaginei que deveria tentar a sorte e ver se conseguia alguma coisa sobre o novo disco,

Until The Quiet Comes

(que sai hoje). Eu não estava muito curioso com o processo real, já que parecia que as técnicas do FlyLo não tinham mudado muito drasticamente desde de seu maior lançamento, o

Los Angeles

. Eu estava mais curioso sobre a expansão do seu lado pessoal nos discos.

Uma característica que se aplica a todas as pessoas (exceto o Boards of Canada) na lista dos cinco discos acima é que eles criaram seus trabalhos seminais sozinhos, trancados num estúdio (ou num quarto de hospital no caso do Dilla), em seu próprio mundo, construindo exatamente o que queriam ouvir usando componentes crus. Com o passar dos anos, a fama forneceu ao FlyLo o acesso a colaboradores gabaritados. Um dos primeiro sons que emergiram de

Publicidade

Until The Quiet Comes

foi a faixa com a

Erykah Badu

, o que já impressionou os fãs antes que eles descobrissem que o álbum estava cheio de outros hits. Thom Yorke faz uma aparição na faixa seguinte chamada

Cosmogramma

, e Laura Darlington, esposa do Daedelus, continua com a tradição de participar numa única faixa do disco (ela é a única convidada que está em todos os discos de Flying Lotus). Mas…

Houve um tempo em que você fazia um disco do Flying Lotus sentado sozinho na frente de um computador com seu MPC ou qualquer outro equipamento de fazer batidas? Ou sempre foi uma espécie de projeto colaborativo?

Flying Lotus

: Sim, quer dizer, era somente eu. Depois comecei a envolver outras pessoas. Especialmente no último disco. É engraçado, imagino que o próximo disco não vai ter nenhum convidado. Mas quem sabe.

Qual foi o último álbum que você fez sozinho?

Bom, mesmo o

tinha a Laura Darlington nele. Ela é meio que meu amuleto da sorte, sabe?

Toda vez que faço uma música digo: “Talvez devêssemos tentar alguma coisa…” Ela faz a música e eu adoro. Gosto mais dessa nova do que das outras. Então acho que vou chamá-la pra fazer o próximo também, mesmo não querendo convidados. Ela sempre tem que fazer alguma coisa.

Você tem uma lista de estrelas com quem quer trabalhar ou são só artistas em particular que te tocam em algum momento da vida?

Não tem a ver com nomes e sim com o que eles podem oferecer pro som. Sabe, se eu tivesse a Lady Gaga em estúdio, eu podia pedir pra ela fazer uns “oohs” e “ahhhs” na música. Entende o que eu digo? Pode nem ser o que as pessoas imaginam que ela faria numa faixa. Desde que ela harmonizasse um refrão aqui e ali, sabe? O que a música pedisse. Não tem nada a ver com nomes, não estou tentando vender nada. Tento servir a música e fazer ela ser o que é, cara.

Publicidade

BRAINFEEDER

Geralmente o segundo passo pra descobrir a cena de LA pra quem é de fora é conhecer o selo e coletivo do Flying Lotus, o

Brainfeeder

. Através do Brainfeeder, FlyLo faz a curadoria da lista de artistas que ele encontra, a maioria pessoas da área. Membros notáveis incluem

TOKiMONSTA

,

Teebs

e

The Gaslamp Killer

. No ano passado, a lista saiu dos beatmakers apenas e diversificou pra área do jazz experimental. Fiquei pensando o que levou o gosto do FlyLo nessa direção, e como ele geralmente encontra os artistas pra fazer parte do coletivo.

Flying Lotus:

Eu ouço o que meus amigos tem a dizer, cara. Honestamente, muitas das pessoas do Brainfeeder, muitas das pessoas com quem trabalho… Não preciso ir muito longe pra ouvir sobre novos artistas fazendo coisas legais. Então é fácil ouvir sobre coisas que sinto que podem fazer parte do time. Sabe, eu sei o que está acontecendo. Não é difícil pra mim, cara. Eu tenho um monte de bons ouvidos pra isso.

Você mencionou em outras entrevistas que considera o Thundercat meio que parte do seu som.

Sim, ele está sentado do meu lado agora. Nos conhecemos anos atrás no South by Southwest e eu já tinha ouvido falar dele antes, alguns músicos tinham me dito que eu precisava trabalhar com ele e a gente simplesmente trocou uma faixa e ele disse que era muito louca. Daí eu disse: “temos que fazer alguma coisa, você pode gravar algo?” E continuamos assim desde aquele dia. Temos esse entendimento silencioso em que ajudamos um ao outro. Agora que minhas coisas estão prontas tenho que começar a voltar pro mundo Thundercat, ajudá-lo a terminar as coisas dele.

Publicidade

Já até começamos. Antes de começar a dar entrevistas, eu ia pedir pra ele tocar seu disco pra mim, tocar o que ele acha que vai acontecer agora. Adianto que está cerca de 70% pronto. Musicalmente sinto que vai ser um pouco mais obscuro que o último álbum. Quer dizer,

Golden Age of The Apocalypse

foi o precursor do apocalipse, agora sinto que é um pouco mais obscuro. Não totalmente obscuro, mas parece um pouco mais difícil. Acho que você vai ver mais dance também. Mas ainda pode ser meio cedo pra falar tudo isso.

Falando em escolher artistas mais sombrios, você meio que encontrou um cara – seu único artista que não era de LA na época – o Lorn. Falei com ele não faz muito tempo, ele me contou a história de como você o encontrou no MySpace. Alguém te falou sobre ele ou você só estava caçando algo ali?

Nosaj Thing me falou sobre ele. Eu costumava ficar muito no iChat e conversar com vários produtores por lá. Foi assim que ouvi falar do Lorn.

E finalmente, só pra confirmar ou descartar um boato, você tem alguma coisa a ver com o Captain Murphy?

Não.

@ImYourKid

Via The Creators Project