FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Girls Against: Estas adolescentes formam um grupo que combate o assédio sexual em shows na Inglaterra

O grupo ativista é formado por cinco amigas, Hannah, Anni, Bea, Ava e Anna, todas com idade entre 15 e 17 anos.

Ava, Bea, Anna, Hannah e Anni

O Girls Against é um grupo de garotas britânicas que combate o assédio sexual em shows. Sim, você leu certo. O Girls Against é formado por adolescentes que estão fazendo o exato oposto do que os filmes teen — e provavelmente a sua própria ideia confusa do que é ser uma garota, baseada na Kylie Jenner — te fariam imaginar que as garotas adolescentes estão fazendo, que é exclusivamente cultivar paixonites e passar gloss nos lábios. O Girls Against está totalmente determinado e alvejando a misoginia na indústria musical de um jeito que vai fazer o seu eu adulto sentir vergonha da sua própria adolescência.

Publicidade

O grupo ativista é formado por cinco amigas, Hannah, Anni, Bea, Ava e Anna, todas com idade entre 15 e 17 anos — o que deveria te causar uma repulsa profunda, sabendo que homens assediam garotas menores de idade com tanta frequência que algumas delas resolveram se unir e fazer algo a respeito. Na verdade, isso diz muito sobre como é ser mulher, e como desde muito cedo não apenas sabemos dolorosamente bem o que é abuso, mas somos alvo de abuso, graças apenas a ser mulher num espaço público.

Unidas pelo seu amor pela música e por suas experiências e frustrações com o assédio nos shows, as garotas ainda estão no ensino médio e sonham em estudar Letras (ou algo similar) na universidade nos próximos anos. Todas elas adoram o The 1975 e citam Wolf Alive, Kloe, Man of Moon, Honeyblood, Peace, Slaves e The Twilight Sad entre as suas bandas favoritas. Falei com Hannah sobre a missão do grupo, o que elas acham que precisamos fazer para acabar com o assédio sexual nos shows e como a cultura da cumplicidade nos oprime.

O Girls Against com o The 1975

Noisey: Gostaria de saber como vocês todas se conheceram.
Hannah: Bem, nos conhecemos primeiro por meio das redes sociais. A Anni e a Bea se conhecem há bastante tempo por serem fãs do Vince Kidd, então só mantiveram contato. Comecei a falar com a Ava pelo Twitter, em 2014, e depois a vi pela primeira vez por acaso, na Urban Outfitters. Conheci a Anna na mesma época (sério, foi a experiência mais esquisita de todos os tempos). Comecei a falar com a Bea depois, e quando ela mencionou que estava vindo para Glasgow, abri um grupo de chat com todas e fomos ver o Paolo Nutini juntas no último verão!

Publicidade

Como os artistas e casas de shows reagiram às ações de vocês? Vocês enfrentaram algum desafio tentando gerar consciência na indústria? Constataram que o sexismo se estende à sua missão?
No geral tem sido ótimo, na verdade! O que é muito animador, porque acho que isso teria nos desencorajado bastante, especialmente nos estágios iniciais da campanha. Praticamente todas as bandas com que conseguimos fazer contato apoiaram totalmente a campanha. As únicas ligeiras dificuldades que enfrentamos foram os e-mails e tentativas de contato não respondidos por certas empresas de segurança. Isso foi muito frustrante, mas mudanças na segurança vão ser a parte mais difícil da nossa campanha, e como estamos ganhando visibilidade, acho que isso vai se tornar mais fácil. O único sexismo de verdade que enfrentamos foi de trolls da internet, em menções no Twitter — das quais nós só rimos, para ser sincera. Na verdade, achamos muito engraçado.

Qual tem sido a parte mais edificante da sua experiência? Vocês tiveram algum apoio específico, ou observaram alguma mudança concreta que fez vocês sentirem que está sendo feito progresso?
Teve alguns momentos que ficamos tipo, “caralho, isso está acontecendo de verdade”. O mais recente foi quando nos encontramos com o The 1975, quando eles vieram para Glasgow. Foi muito surreal, e foi por causa deles que nos conhecemos, então foi um momento muito especial para nós. Mas o mais animador, no que diz respeito à campanha, foi quando o SecuriGroup, que atua em uma casa de shows onde sofri abuso sexual, ofereceu um treinamento adicional para a sua equipe, voltado especificamente para essa questão. Isso me emocionou de verdade e me fez sentir que estávamos realmente fazendo a diferença.

Publicidade

Como as pessoas reagem quando descobrem que vocês são adolescentes? Para ser sincera, eu definitivamente não tinha essa consciência e engajamento social que vocês têm quando era adolescente.
Acho que isso, na verdade, é um dos “atrativos” (se é que isso existe) da nossa campanha. Todas nós conhecemos nossos melhores amigos em shows, e nos shows que frequentamos, seguidamente o público predominante é jovem, então muitas das pessoas que nos apoiam são da mesma faixa etária. Acho que isso nos faz parecer muito mais acessíveis e menos intimidadoras. Quando os profissionais descobrem que somos todas adolescentes, costuma ser bem engraçado. Eles geralmente ficam chocados, mas têm sido super incentivadores, em função disso mesmo, e seguidamente oferecem qualquer conselho que possam dar, o que tem sido muito legal — e exatamente o que precisávamos. Só teve uma vez em que nos acusaram de ser muito jovens para fazer o que estamos fazendo, e nossa reação a esse tipo de comentário é, bem, ninguém estava fazendo nada a respeito, então…

Bea com os caras do Slaves

O Rat Boy usando bottoms do Girls Against

Anna e Anni em um telejornal inglês

Vocês notam algum tipo de padrão nas histórias que contam para vocês? Por exemplo, há algum tipo de show, faixa etária ou vibe em que ocorrem mais assédios? Quer dizer, em um show da Katy Perry, cercada por crianças de 10 anos, você provavelmente está menos propensa a ser assediada do que numa roda punk. Você acha que essa é uma suposição justa?
Não percebemos ainda nenhum padrão específico no que diz respeito a gênero musical. Mas com certeza, recebemos muito poucos relatos de assédio em shows mais escancaradamente pop, como os da Katy Perry, por exemplo. Algumas pessoas, nos entrevistando, fizeram afirmações muito generalizadoras sobre como “obviamente isso acontece mais em shows de metal”, o que eu acho que é bastante injusto, já que não fizemos ainda nenhuma pesquisa focada em gênero musical, e é um retrato injusto dos fãs de metal também. Já conduzimos algumas pesquisas que realmente nos ajudaram e nos deram uma ideia muito mais clara de como e quando o assédio acontece, mas no futuro, vamos observar mais os gêneros musicais. Mas [o assédio] acontece em todo tipo de show, então seria injusto apontar apenas um gênero em particular.

Publicidade

Como você vê a nossa “cultura de cumplicidade”? Você acha que ela é responsável pelo assédio que acontece nos shows? Por exemplo, uma vez meu colega de apartamento me falou para eu não dar mosh nos shows em Londres porque “os garotos iam agarrar a minha vagina”, como se isso fosse minha culpa de alguma forma e eu devesse limitar minha diversão por causa de alguns imbecis. Que mensagem essa atitude passa para as mulheres, e como você acha que podemos mudar essa lógica entre as pessoas que não necessariamente assediam, mas não fazem nada sobre isso também, ou permitem que o assédio continue
Sim, quer dizer, nos perguntam sobre culpabilização da vítima o tempo todo, e somos culpabilizadas todos os dias. Muitas coisas são responsáveis pelo assédio e abuso nos shows, e uma delas é a culpabilização da vítima e a cultura da complacência. Acho que a culpabilização da vítima tem um enorme papel na maneira como o assunto não foi abordado e discutido de verdade até a gente aparecer, e isso tem acontecido desde que os shows existem. Faz as vítimas sentirem como se estivessem fazendo uma tempestade num copo d’água se levantam a questão, já que todo mundo à sua volta está dizendo que a culpa é da vítima, conscientemente ou não.

Sempre afirmei e vou afirmar que a educação é essencial para qualquer mudança social importante, e isso é verdadeiro também nesta questão. Precisamos ensinar todo mundo, não só aos garotos, já que isso pode se manifestar nas garotas como misoginia internalizada, que esse comportamento é errado e que nunca, nunca a culpa é da vítima. Não foi a vítima que assediou sexualmente outra pessoa, e as suas ações não dão permissão a ninguém para fazer isso, nunca, jamais, ponto final, fim de papo.

Publicidade

Para saber mais sobre o Girls Against, clique aqui.

Kat George é repórter e voltou recentemente para a Austrália. Sentimos saudades dela, mas ela está no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter