FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Jade Tree: O Essencial, os Ignorados, e os Esquecidos (Com Razão)

Sabendo que a discografia da Jade Tree Records é enorme, o Noisey preparou esse guia para você comprar só o melhor da gravadora

Wilmington, Delaware: uma cidade tão chata quanto se pode imaginar. Apesar de estar localizada a meia hora da Fildadélfia, a algumas horas (num dia de bom trânsito) de Nova York, Baltimore e Washington; e a duas horas das praias de Delaware, o lugar não tem muita personalidade. A cidade tem sua região de banqueiros e doutores ricos, sua cota de pobreza e crime, e também um bocado de subúrbios em suas redondezas, onde eu nasci e fui criado.

Publicidade

Em algum ponto da minha adolescência eu descobri a banda Thursday, o que me levou a conhecer o Turning Point; e a partir daí conheci vários outros artistas da Jade Tree Records. Foi assim que ouvi pela primeira vez discos como Jersey’s Best Dancers, do Lifetime, Nothing Feels Good, do Promise Ring, e It’s Hard To Find A Friend; do Pedro The Lion – a lista vai longe. Um dia decidi encomendar algo na webstore da Jade Tree Records, e descobri que essa gravadora – essa entidade – que foi tão importante para minha identidade durante meu ensino médio funcionava à aproximadamente cinco minutos da minha casa.

Dez anos se passaram, e a Jade Tree Records continua marcando presença na cena punk. A gravadora, que começou a diminuir seu ritmo no final dos anos 2000, está voltando, aos pouquinhos, a lançar coisas novas. O líder da gravadora, Darren Walters, escreveu um artigo para a Billboard chamado "Adapt or Die" ("Adapte-se ou Morra"), explicando a pouca atividade da empresa entre 2007 e 2014 e falando sobre a situação da indústria musical independente, a qual a Jade Tree pertence. Apesar de Walters ter sido claro ao dizer que a Jade Tree não está saindo de um "hiato", Walters fez questão de dizer que as atividades futuras da gravadora iriam eclipsar a inatividade dos últimos anos – e não muito depois a gravadora colocou toda sua discografia à venda na Bandcamp: US$ 5 o LP, 4 doletas o EP, e 2 pratas por um single. Sabendo que a discografia da Jade Tree Records é enorme, o Noisey preparou esse guia para você comprar só o melhor da gravadora.

Publicidade

O ESSENCIAL

Jets to Brazil – Orange Rhyming Dictionary

O Jets To Brazil é o mais próximo de uma “superbanda” emo sem afetações que já tivemos; com a presença do líder do Jawbreaker, Blake Schwarzenbach, a banda também contava com o antigo vocalista da banda Handsome, Jeremy Chatelain; com Chris Daly, do Texas Is The Reason and Shelter; e Brian Maryansky, da amada banda emo The Van Pelt (e da não tão amada banda de hardcore Resurrection). Orange Rhyming Dictionary é uma mistura de pós-hardcore com o punk pop estranho, que só melhorou com o tempo, do Schwarzenbach. “Sweet Avenue” é uma das melhores músicas de fim de álbum que você vai ouvir na sua vida.

The Promise Ring – Nothing Feels Good

Do pop cheio de energia que abre o álbum até as últimas notas de "Forget Me", Nothing Feels Good é um perfeito álbum emo dos anos 90. A volta do The Promise Ring, por alguma razão, foi um pouco ignorada no meio emo, mas a banda gravou três álbuns ótimos, e esse é o melhor deles.

Lifetime – Jersey’s Best Dancers

É fácil ouvir a obra-prima do hardcore melódico que o Lifetime fez e subestimar o seu caráter inovador. Mas a verdade é que o Lifetime foi para várias bandas, do Saves the Day até o Title Fight, o que o Minor Threat foi para o hardcore straight-edge. Tente escutar “Theme Song For A New Brunswick Basement Show” sem se perder na história de amor intensa que o Ari Katz canta com sua vozinha esganiçada.

Publicidade

Pedro The Lion – It’s Hard To Find A Friend

O indie pop do David Bazan pode parecer um pouco deslocado no meio da Jade Tree, mas há uma agressividade crua nesse álbum discreto e parcialmente acústico. Essa agressividade se concretizou em seus álbuns mais recentes, como Control. E sem dúvida o estilo narrativo do Bazan inspirou uma geração de artistas com sua força agressiva e direta: do Into It. Over It. a todos os "caras do violão" bunda-moles que tocam em festinhas de folk na sua cidade.

Avail – Over The James

Nunca houve e nunca haverá outra banda como o Avail. Os punks de Richmond tinham diferentes influências, do punk a musica sulista. Em Over The James, Tim Barry e sua galera compuseram uma das músicas punks mais íntimas de todos os tempos ("August"). "Scuffle Town" é uma carta de amor da banda para sua cidade, e a única vez em que uma banda punk fez isso sem ser brega.

Cap’n Jazz – Analphabetapolothology

Essa discografia é uma das mais importantes do movimento emo. Comprar tudo por US$ 5 é uma pechincha; só "Little League" já vale todo esse dinheiro.

OS IGNORADOS

From Ashes Rise

Turning Point – Discography 1988-1991

O Turning Point é, de longe, umas das bandas de hardcore mais subestimadas dos anos 90. Enquanto várias bandas estavam flertando com o metal (como o Unbroken) ou se atendo à fórmula do Youth of Today, o Turning Point deixou de ser um Chain of Strenght da Costa Leste e se tornou umas das bandas hardcore mais emocionalmente exaustivas da história. As três primeiras músicas da discografia (do Split com o No Escape) – "Behind the Wall", "Thursday", e "Anxiety Asking"- são três das melhores músicas do hardcore. Se a sua onda for algo mais tradicional, as faixas 5 a 16 (o LP It’s Always Darkest Before The Dawn ) são a trilha sonora perfeita para a sua rodinha punk particular na frente do espelho.

Publicidade

From Ashes Rises – Nightmares

Quando o assunto é o punk hardcore politizado, logo pensamos no Strike Anywhere, no Propagandhi, e no Anti-Flag, mas Nightmares colocou o From Ashes Rises no meio dessa seleção. A vibe do From Ashes Rises ia muito além de mandar o governo à merda; "The Final Goodbye" atacou a religião de um jeito que virou moda entre bandas hardcore mais novas, como o Crusades.

Alkaline Trio / Hot Water Music – Split

O Alkaline Trio e o Hot Water Music são duas das melhores bandas punks, e essa colaboração é muito ignorada em detrimento de suas enormes discografias. O álbum contém “God Deciding", talvez uma das melhores músicas do HWM, e vários covers: como o Alkaline Trio cantando "Rooftops" e o Hot Water Music cantando "Radio"e "Bleeder".

Owls – S/T

A família Kinsella sempre teve uma boa relação com a Jade Tree – a gravadora lançou a discografia do Cap’n Jazz e os seis primeiros álbuns do Joan of Arc. Apesar desse álbum não ser tão amado pela nova cena emo quanto o seu precursor, ele sem dúvidas deve ser inserido na nossa coleção musical estranha e incoerente. Um exemplo: "Everyone is My Friend" é uma das melhores músicas de rock sobre matemática já escritas.

My Morning Jacket / Songs: Ohia – Split

O My Morning Jacket era uma banda excelente antes de se tornar o Bonnaroo em forma de banda. Mas a banda Songs: Ohia, de Jason Molina, é, como sempre, a verdadeira estrela desse álbum; a música de dez minutos, "Translation" é um dos sons mais pesados que ele já compôs, passeando maravilhosamente entre o folk, o jazz, o country alternativo.

Publicidade

Kid Dynamite – S/T

O segundo álbum do Kid Dynamite, Shorter, Faster, Louder, pode até ser o mais amado pela galera do punk e do hardcore, mas tem muita coisa boa nesse primeiro álbum – como várias participações do vocalista do the Loved Ones, Dave Hause. Esse é, inclusive, um dos melhores álbuns de estréia da história – este foi o primeiro lançamento oficial do Kid Dynamite, e eles conseguiram gravar 19 músicas (todas difíceis de esquecer).

OS ESQUECIDOS, E COM RAZÃO Swiz

Swiz – No Punches Pulled

Até onde eu sei, o Swiz era uma banda de certa fama na cena hardcore do final dos anos 80 e início dos 90, mas eu nunca consegui "entender" esses caras. Talvez isso aconteça porque eu tinha só três anos quando eles fizeram sucesso. Se você já fez parte da cena hardcore dos anos 90 você tem todo o direito de me achar um bosta e de discordar de mim; e é muito provável que você curta esses caras, mesmo sem tê-los ouvido antes.

Micah P. Hinson – The Baby and the Satellite

O Micah P. Hinson não é um compositor ruim, mas, de qualquer forma, esse é seu pior álbum. Micah P. Hinson and The Opera Circuit é um álbum muito, muito melhor; nele, Hinson brilha com o acompanhamento instrumental de orquestra.

Ester Drang – Rocinate

Isso é música pra fãs de Arcade Fire. “Come Back Alive” poderia fazer parte do novo CD da banda – tirando o fato de que ela foi escrita em 2005.

Statistics – Leave Your Name

O Denver Dalley é um músico de Omaha, Nebraska, que trabalhou ocasionalmente com Conor Oberst, Tim Kasher e que foi um dos membros do Desaparecidos. Esse álbum é pura música emo chatinha dos anos 2000, com um pouco de música eletrônica ambient.

Publicidade

Mighty Flashlight – S/T

O Mike Fellows fez história com o Rites of Spring, mas esse CD parece, em seus melhores momentos, com aqueles CDs de ambient que vendem na Target. E nos seus piores momentos ele também parece um CD de ambient da Target.

OS NOVATOS

Dark Blue

Fucked Up – Hidden World

Assim como outras bandas da lista, os caras do Fucked Up não podem ser chamados de novatos. Porém, grande parte da sua carreira ocorreu nos anos "perdidos" da Jade Tree, e eles ainda estão na ativa. Os melhores álbuns do Fucked Up viriam mais tarde (e ainda tem muita coisa boa para vir por aí), mas seu primeiro disco apresentou o seu pop hardcore estranho para muita gente, e introduziu narrativas que ainda fazem parte do novo material da banda.

Paint It Black – New Lexicon

A trajetória da maioria dos músicos começa com "raiva e revolta" e termina com "calmaria", mas o Dan Yemin não faz parte dessa maioria. Guitarrista do Lifetime e do Kid Dynamite, Yemin montou essa banda após ter um derrame depois da separação do Kid Dynamite. New Lexicon é, de longe, o melhor que a nova banda produziu; um ensaio em hardcore, música eletrônica e política que é, com certeza, um dos melhores discos deste milênio.

Strike Anywhere – Change Is A Sound

Muitos defendem que o Strike Anywhere é uma das melhores bandas de punk político da história; e nesse álbum eles estão putos, prontos pra um confronto e sem saco para ninguém. Ouvir esse álbum em 2014 é especialmente interessante, considerando todo o “#ativismo” que vemos na internet – escute "Refusal" e tente não revirar os olhos na próxima vez que uma figura pública for elogiada por falar algo como "É, talvez homens e mulheres sejam iguais”.

Slutever – “1994” / “Spit”

O lado A do álbum é de um têdio sônico; a energia negativa e zombeteira dessa obra é a antítese do culto ao Nirvana que está rolando hoje em dia, e, de alguma forma, o álbum consegue ser ainda mais fiel ao espírito de Kurt Cobain do que a maioria dessas outras bandas. O lado B é um monumento de sons difusos, e que em nenhum momento cai na armadilha do shoegaze. E a melhor parte? A banda é, na verdade, uma dupla.

Dark Blue – Just Another Night With The Boys

Esse é o primeiro EP do Dark Blue, e o primeiro lançamento da Jade Tree desde o EP do Slutever. Um excelente pós-punk (e com muita inspiração no futebol) no estilo do Killing Joke e do Blitz no final da carreira. A banda não é nova na cena; o líder, John Sharkey, já fez parte do Clockcleaner, o Mike Sneeringer já foi do Purling Hiss, e o Andy Nelson toca no Paint It Black, no Ceremony e no Blacklisted.

Paul Blest revira o eBay em busca de demos raras do Paint it Black. Siga ele no Twitter: @pblest