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Música

Colamos numa Competição de Bateristas Bêbados e Ninguém Vomitou no Palco Apesar da Torcida

Regada a shots de tequila, segunda edição brasileira do The Drunken Drummer parecia mais um evento cômico; se liga nas fotos

Fotos por Anna Mascarenhas

A pista do bar paulistano Da Leoni, na rua Augusta, estava cheia de outros músicos, curiosos e gente perdida ali à espera do show do Mukeka di Rato, que entraria logo em seguida. Já era quase três da manhã de uma quinta (8/5), mas todos observavam, com olhares de zombaria, o último round da segunda edição do The Drunken Drummer, um campeonato de bateristas bêbados. O concurso buscava eleger o melhor baterista após vários shots de tequila, e Conrado, o vencedor, teve que ser avisado mais de uma vez que já tinha acabado o negócio e que ele tinha ganhado, porque ele se pá já nem lembrava mais porque estava ali. Finalmente o maluco se tocou, ajeitou a postura e foi lá receber os aplausos da galera na frente palco.

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Pinguím mediava a disputa, aquecendo a galera, como um apresentador de luta de boxe

A responsa nas mãos dela: a hostess serviu os malandros que não economizaram na tequila

As regras são simples: os participantes devem basicamente reproduzir sequências propostas por um professor. A cada novo exercício, os caras têm que virar um gole da bebida, e um júri vota a melhor performance. Tradicionalmente, o vencedor leva uma bateria completa como prêmio. A história do rock está repleta de exemplos de músicos acostumados a fazer destruidoras apresentações regadas a álcool e outros aditivos. Enquanto esperava o mediador Pinguím dar início ao campeonato, puxei na memória o Keith Moon (The Who) e o John Bonham (Led Zeppelin), dois malucos que morreram de cachaça mas que tocavam muito bem alcoolizados e, diante daquele palco emulando um ringue de boxe, com duas baterias voltadas uma para a outra, penso se algum daqueles quatro sujeitos rigorosamente selecionados para o embate teriam a mesma moral.

O professor zangado: Fernando Schaefer, o batera-armário do Paura, ficou só na brejinha e aproveitou sua sobriedade pra castigar os candidatos

O bumbo já contextualizava os beberrões desavisados que por ventura acabariam o rolê desnorteados

Identificados no projetor apenas pelos primeiros nomes, Thiago, Guilherme, Conrado e Rafael tiveram seus talentos postos à prova pelo professor Fernando Schaefer. Era ele quem fazia as sequências que os candidatos tinham que reproduzir a cada round, um de cada vez. Quem já viu o Fernando, que é baterista das bandas Paura e Worst, tocando, tá ligado que o maluco é um monstro, um verdadeiro liquidificador rítmico. Nos intervalos dos rounds, os goles de tequila eram crescentes. Como já era de se esperar, no primeiro round tava todo mundo confiante, batendo no peito, fazendo graça e tirando onda com máscaras de luta livre e tudo. Foram quatro rounds ao todo, até que os caras já não aguentassem mais ficar de pé ou se lembrassem das sequências, que, além de mais complicadas, também iam ficando mais extensas.

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O Júri: as notas eram para a qualidade do som ou pra quantidade de shots? Fica a questão…

À medida que a coisa evoluía e os competidores regrediam, visivelmente alheios a seus reflexos, os aplausos davam lugar a risadas e piadas, e o povo do júri - B.A. (Oitão), Gabriel Boisinho (Cachorro Grande), Fabiano (Coyotes California), Patrick Maia (MTV) e Pitchu Ferraz (Nervosa Trash) - ficava mais ácido em suas notas, que variavam entre 4,20 e 6,66. A essa altura o ambiente era de extrema embriaguez. O professor dá um show à parte, parece determinado a mostrar o quão exímio consegue ser, já que ninguém mais vai sequer conseguir guardar os primeiros compassos de qualquer exercício. Os competidores, por sua vez, se entregam à sorte, bebem cerveja enquanto assistem os oponentes e mais tequila quando chega a sua vez. Thiago dança sozinho, Guilherme dá chutes no ar e toma uma rasteira de si mesmo, Rafael caminha grogue em alguma direção misteriosa que não é a do palco. "Ah, é pra lá que tem que ir?", expõe sua brisa loca questionando o óbvio.

O vencedor, Conrado, tão sóbrio quanto o Jack Black em Nacho Libre

O único que, mesmo à beira de tombar inconsciente, continua mostrando veia competitiva e vontade de acompanhar as linhas do professor, é o Conrado. Entre os que se divertem com a comédia instaurada, alguns praguejam: "Esses caras só queriam beber de graça, não tocam porra nenhuma", emanou um grito da plateia. "Eles estão tocando o que dá na telha", acusou outro, quando os desistentes entregavam os pontos tocando linhas inconfundíveis como as de "Rock'n'Roll", do Led Zeppelin, ainda que descoordenadamente. Conrado Lopes, o vencedor, atribuiu sua vitória ao fato de estar acostumado à rapidez e agilidade com que manda ver como baterista do Green Day Cover. Teve gente que ficou decepcionada porque ninguém vomitou nos baldes colocados ali, mas para um dos produtores, o Filipe Bizorro, o evento foi um sucesso. "Fizemos um grande trabalho, todo mundo deu muita risada. Esse é o objetivo, mais até do que revelar bateristas virtuosos".

No fim, nosso campeão zem zaber onde está, com a camisa ao contrário: note a 'etiqueta' do rapaz.