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Música

O Diário de Viagem do Water Rats para as Gravações no Converse Rubber Tracks em Seattle

Teve Thurston Moore (não muito) surpresa, Jack Endino, voo cancelado, burrito e muita história pra contar.

O Water Rats foi uma das sete bandas brasileiras escolhidas pela Converse Rubber Tracks para gravar em icônicos estúdios ao redor do mundo. Coube a banda punk formada por Alex Capilé (guitarra e vocal), Pedro Gripe (guitarra e vocal), Bi Coveiro (baixo) e André Dea (que substitui o baterista Renê Bernuncia, que acabou de ter um filho, nas gravações) viajar para Seattle, nos Estados Unidos, para ocupar o estúdio Avast no fim de setembro com ninguém menos que Jack Endino como produtor. Teve voo cancelado, burrito, muito trabalho e até uma surpresa nem tão surpresa assim: Thurston Moore, ex-Sonic Youth, apareceu no Avast para ajudar os caras e dar pitaco na gravação. O Water Rats fez um diário de viagem para o Noisey, compartilhando todos os momentos da experiência, e também umas imagens, pra gente visualizar como foi esse rolê.

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Dia 1: Voo São Paulo — Seattle.
Domingo, 20 de setembro, dia da viagem. Chegou o dia tão aguardado por nós, ainda mais por saber que teríamos surpresas, além de ir pra Seattle. Correria tradicional pra arrumar tudo e partir pra enfim gravar novos sons no estúdio Avast 6, tudo com o apoio da Converse Rubber Track global, que estava dando tudo para a realização desse projeto.

Dia 2: Chegada nos Estados Unidos.
No voo tudo correu muito bem, a galera logo após o jantar dormiu e só acordou nos Estados Unidos. Tínhamos uma conexão em Detroit, de lá partiríamos pra Seattle ainda cedo. Chegamos nos Estados Unidos, passamos pela imigração — que achou muito engraçado o fato de uma banda brasileira estar indo gravar em Seattle, pois pra eles o grunge já era. Quando fomos embarcar no último voo descobrimos que rolou overbooking e teríamos que pegar outro voo, mais tarde, pra Seattle.

Até aí tudo bem, fomos encaixados num voo que partiria as 17h, e era 8h30 da manhã quando recebemos essa notícia. Passamos o dia sem ter como deixar o aeroporto de Detroit esperando quase 10h pelo voo. Uma hora antes de partir, descobrimos que tínhamos grandes chances de não voar, pois tava rolando overbooking de novo. Neste momento ficamos desesperados, pois entraríamos em estúdio às 10h30 da manhã do próximo dia, e pelo que soubemos não teriam mais voos pra Seattle naquele dia. Ligamos na hora pro pessoal da Converse e contamos o que rolou, todo mundo se mobilizou e os telefones não pararam mais, porém nesse meio tempo nos confirmaram no voo e fomos rumo a Seattle, onde chegamos já às 22h30, direto pro hotel descansar pras gravações do dia seguinte.

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Dia 2: Jack Endino e gravações.
Fomos hospedados num hotel muito legal, que além de todo conforto (coisa com a qual não estamos acostumados durante as turnês), tinha um bar/café onde fizemos nossa primeira refeição do dia, Breakfast Burritos & Café — YEAH!

Às 10h chegou o carro da produção pra nos levar pro estúdio. Estava um dia de sol irado em Seattle e pelo caminho ficamos conversando sobre a beleza da cidade, que é super legal e muito viva. Chegamos no Avast e começou o frio na barriga. Sabíamos que era hora de conhecer o "mentor" da nossa gravação, alguém super influente da cena grunge dos anos 90 que a Converse escolheu pra gente. Ao entrar no estúdio passamos pela recepção, depois cozinha, pra daí então entrar nas salas de gravação, onde logo vimos Jack Endino. A ficha caiu: ele era o mentor da nossa gravação. Que surpresa sem explicação, pra gente é muito gratificante poder ter na nossa história a honra de trabalhar com alguém tão influente e importante na cena que mudou o rock nos anos 90. Que trabalhou com Nirvana, Mudhoney, Sonic Youth, Titãs, entre outros…

Continua abaixo:

Todos apresentados, era hora de começar a gravar. Bryan Pugh, o engenheiro oficial da nossa gravação que co-produziu tudo em parceria com Jack Endino, havia arrumado quase tudo, só trocamos algumas coisas, definimos os timbres de guitarra e baixo com o Jack e começamos a nos preparar pra gravar. Gravamos ao vivo a base, pois acreditamos que a energia muda gravando assim. Jack e Bryan também concordavam com isso e assim fizemos. Foi muito rápido o processo, em duas horas já tínhamos gravado as bases de todas as músicas. Durante tudo isso o Jack começou a se soltar mais, falar algumas palavras em português como GRAVA, DOBRA, PALHETADA, FAROFA… O Jack é muito humilde e nos tratou super bem, deixando a banda em casa. Jack largava altas "good enough for rock and roll", "punk rock" [risos]. Uma figura. Finalizadas as bases, começamos alguns overdubs de guitarra e no fim do dia começamos as vozes do disco. O Gripe gravou todos os vocais dele e eu comecei os meus, mas devido ao dia intenso, resolvemos que seria melhor finalizá-los no segundo dia. Saindo de lá fomos todos a um bar, onde conhecemos melhor o Bryan Pugh, que mostrou saber muito e ser super gente boa, amizade instantânea com o Water Rats. Na saída do estúdio, soubemos que no próximo dia teríamos mais uma surpresa relacionada a cena alternativa dos anos 90. Não fazíamos idéia de quem poderia ser. Chegando no hotel eu fui conferir as redes sociais da banda quando vi uma mensagem no nosso mural que me chocou: o Thurston Moore do Sonic Youth tinha deixado um recado pra gente, assim do nada, dizendo: "Water Rats, see you tomorow, speakers will fry". Na hora dei print no meu celular e enviei pro grupo da banda, surpresa arruinada e alegria instaurada [risos]. Dormimos e fomos encarar o próximo dia de estúdio já sabendo o que vinha pela frente.

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Dia 3: Mixagens e Thurston Moore.
Acordamos, comemos no hotel e nos encaminhamos pro estúdio, exatamente como fizemos no dia anterior. Chegando lá, encontramos Bryan e Jack prontos pra finalizar as gravações de vozes e enfim começar a mixar. O Bryan preparou um chá de mel com limão pra mim, segundo ele ajuda muito a galera a cantar melhor. Tomei duas xícaras e mandei ver. Funcionou muito bem o chá, gravei minhas vozes em menos de uma hora, foi um processo rapidão. Antes de começar a mixar fomos almoçar, no estúdio mesmo, com Jack, que ficou contando muitas histórias pra gente, matando a curiosidade de anos da gurizada. Percebemos então que rolava uma movimentação estranha no estúdio, pelo jeito era a hora da segunda surpresa. Até então ninguém sabia que sabíamos sobre Thurston Moore. Nesse momento pediram pra entrarmos no estúdio, fomos, e brincamos com uma das produtoras da Converse dizendo: "É agora que teremos a segunda surpresa que já sabemos o que é?". Ela desacreditou, mostramos a mensagem de Thurston da noite anterior e todos não acreditavam que a surpresa não era mais surpresa [risos].

Começamos as mixagens. Dava pra sentir na hora que não seria uma experiência como as que havíamos vivido: eram dois caras experientes, com uma bagagem fudida nas costas trabalhando serio no nosso som, eles nem estavam finalizados e já tava tudo lindo, um sonho realizado. Durante a mix chega ele, Thurston Moore, a lenda! Chegou ali, cumprimentou a todos e sentou com a gente pra curtir a mixagem. Ele e Jack começaram um papo animal, não se viam há mais de 25 anos, e a gente tava ali, vivendo aquele momento, animal. Eles conversaram bastante sobre as bandas, amigos em comum, como era nas antigas, deu pra aprender muito sobre tudo que rolou nos anos 90 na quase uma hora que ficamos apenas conversando. Entre os papos mostrávamos algumas músicas pra ele, o Thurston curtiu bastante, disse pra gente que nós fazíamos o tipo de punk rock que ele gosta, simples e rápido! Disse também que se não tivesse curtido a banda nem faria questão de elogiar nada, ficamos super felizes com isso. Pra gente vale mais do que dinheiro esse tipo de coisa, estar ali, em Seattle, gravando ao lado de duas lendas, foda!

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Enquanto Jack e Bryan finalizavam a mixagem, ficamos do lado de fora do estúdio trocando uma ideia com Thurston e filmando uns videos promocionais pra Converse. Então era hora de Thurston ir embora, nos despedimos e voltamos pro estúdio. Tava tudo pronto, finalmente estavamos escutando a mix final, e, meu, que realização! Ficamos mais do que satisfeitos com o resultado final, superou todas expectativas! Todos nos cumprimentamos enquanto exportávamos os arquivos finais. Esqueci de mencionar que pela tarde o Jack nos chamou pra conhecer a camnhionete antiga dele, que marcava na quilometragem 666.666 km [risos]. Que doidera!

Nos despedimos de Jack, que disse ter curtido bastante nosso som, e com certeza devemos trabalhar novamente juntos. Juntamos todo mundo da produção pra comemorar num bar, acabamos indo em dois, afinal era dia de comemorar mesmo. Bryan e Jeremy, responsável por nós da Converse, foram até o final; prometemos todos fazer algo juntos de novo.

A Conclusão.
Foi muito intenso, aprendemos muito nesses três dias de imersão na capital do rock alternativo. Muita sorte ter a possibilidade de viver essa experiência. pPrece até mentira, mas tá lá, registrada em áudio e vídeo. Logo logo todo mundo poderá ouvir a realização do nosso sonho no EP Hellway to High que tem previsão de lançamento para o inicio de 2016, em vinil 10". Valeu demais a Converse e a Rubber Tracks por nos proporcionar tudo isso. Fomos muito bem tratados e em nenhum momento a liberdade artística nos faltou, a música precisa de mais projetos como esse!

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Aproveita para conferir as fotos exclusivas da Converse, clicadas por Chona Kasinger:

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