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Música

'Afro Sam Bass' É o Novo EP do Obama Lee Baden com Samples do Baden e Vinícius

No novo trabalho do polinômico experimentador Mario Cezar Rabello, o coração é o atabaque.

Obama Lee Baden é apenas um dos pseudônimos do experimentador musical Mario Cezar Rabello. Com o selo que criou, o Estados Sonidos, ele pretende produzir coisas variadas, do bolero até o rock, e para não confundir os ouvintes ou ficar estigmatizado, inventou um nome para cada empreitada. Kaiser Marius, por exemplo, é a alcunha que usa para discotecar. Foi a partir de uma brincadeira com o álbum Afro Sambas, do Vinícius de Moraes e do Baden Powell, que nasceu o conceito do Afro Sam Bass. “Recortando ‘Samba do Veloso’ me deu vontade de usar o disco todo, mas desisti, porque tem uma conotação religiosa em algumas músicas, e por uma questão de respeito, preferi não subverter ou me apropriar de algo que não sigo”, disse.

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Trata-se de um projeto essencialmente percussivo: as batidas, o pancadão, é que determina o andamento das faixas. “A apresentação da Orquestra Afro Brasileira, que eu usei em ‘O Coração’, pode servir como introdução ao rap, o dubstep, o reggae, o samba, entre outros gêneros que encontram na percussão seu fio condutor”, explica o músico. Fora isso, quem manja de música brasileira vai identificar umas paradas de Jorge Ben, Metá Metá e Juçara Marçal, além do citarista indiano Imrat Kham. “Era pra ter uma unidade estética maior, só que algumas músicas estavam emperrando meu processo criativo e resolvi deixar de lado pra me dedicar àquelas que estavam fluindo. Meu nível de exigência para o que eu produzo é alto, porém achei melhor ceder um pouco pra poder me manter ativo e soltar logo esse trabalho.”

Cada projeto tem seu próprio processo. No caso do zeromaistrês, outra de suas facetas, a transa é fazer música só com colagens, samplear na caruda mesmo. Já com o Obama Lee Baden, que é o que interessa aqui, ele colhe amostras de músicas de terceiros, mas também mete umas coisas tocadas em cima, em alguns casos sem usar sample nenhum, só lançando uns instrumentais pra costurar as bases. “Se eu não souber tocar, convido alguém que saiba”, brinca.

Noisey: Bem, vamos começar explicando a proposta do Estados Sonidos. Do que se trata exatamente e qual é a ideia que serve de motor para essa investida?
Mario Cezar Rabello: Estados Sonidos é o nome que eu inventei pra abrigar meus projetos musicais. Até então era uma abstração, mais um conceito, que concentrava uma série de devaneios meus, misturando anarquismo e música. Surgiu lá pelos idos de 2000, quando eu comecei a criar uns sons nos computadores de onde eu trabalhava. Entrei no mundo do audiovisual sem nem saber mexer num computador direito, foi um acontecimento que mudou o rumo da minha vida. Comecei como assistente de edição de vídeos e até hoje é meu ganha-pão. Aí no tempo vago comecei a cortar umas músicas e colocar umas batidas, no próprio programa de edição de vídeo que era o único em que eu sabia mexer. Sempre ouvindo música e eclético, misturava tudo. E desses meus “estados sonoros”, mais a construção de uma identidade política, ideológica, nasceu Estados Sonidos.

Existe então uma bandeira política, filosófica, culturalista como mote deste trabalho?
Não exatamente, embora para mim seja muito difícil dissociar o que eu sou e acredito do trabalho que faço. Sou de família pobre, vivo na periferia, sou um legítimo representante da miscigenação ocorrida nesse país. Tendo plena consciência desses fatores, não posso ignorar. E a partir disso, só por isso, já tenho uma bandeira política e filosófica. O mote mesmo era a música, era pra ser só um disco pra dançar. Mas quando construí a última música já imaginei ela cantada e com uma letra séria. E queria fechar falando de África, que é o assunto que abre a sessão.

Com que outros projetos musicais e artísticos você já esteve e está envolvido?
Atualmente sou eu comigo mesmo, mas na música já fiz muita coisa: rap, hardcore, reggae, MPB, já tive um projeto bem plural que era basicamente viola, violão e percussão, chamava Berinjela Refogada. Ali você ouvia percussão árabe numa atmosfera andina com sotaque nordestino, foi uma baita escola. Fiquei um tempão sem fazer nada também, quase desisti. Mas o que mais se aproximou de algum êxito foi o Dubplate. Fizemos show grande, tocou até na rádio [risos].

O que mais podemos esperar daqui pra frente? A ideia é seguir produzindo e lançando coisas nessa linha? Já tem mais algum bagulho engatilhado?
Pretendo lançar mais dois discos até o final do ano. Música pela metade eu tenho de monte, o problema é finalizá-las. Depois do sucesso de Rap do Bem [projeto que mistura vocais de rap brasileiro com instrumentais de Jorge Ben], que tá caminhando pra 30 mil audições sem eu nem divulgar, tô pegando mais sério. Mas boa parte do que vai ser esses dois ainda é material parado, que pra mim é antigo, mas pra quem nunca ouviu, é inédito [risos]. Num deles a ideia é chamar uma galera do RAP pra rimar, tudo em produção minha. O outro vai ser mais introspectivo, cantado, voz feminina, com uns instrumentais de chorar. Se eu atingir essa meta, o próximo será um de bolero.

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