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Música

O sexto disco do Hateen é sobre fragilidades e superação

‘Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui’ revela as cicatrizes e realizações de uma banda que foi dos inferninhos underground à fronteira com o pop.

Foto: Pamela Mota

Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui (Hearts Bleed Blue), o novo álbum do Hateen, expressa, pela intensidade do instrumental e a pessoalidade das letras, as cicatrizes e realizações de uma banda que já esteve em todas as posições. Dos inferninhos underground à fronteira com o pop, o grupo é um dos sobreviventes que inauguraram, há pouco mais de duas décadas, a centelha do hardcore melódico e do emo por aqui. As diferentes formações e outros percalços, no entanto, sempre se refletiram positivamente na sonoridade da banda. Isto, muito por conta de como o vocalista, guitarrista e letrista Rodrigo Koala absorve as experiências e as transforma em inspiração. O sexto disco de estúdio dos paulistanos expõe fragilidades que tratam da perda de controle por conta da síndrome do pânico e o abuso de álcool.

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Este é um álbum de reflexões que rondam o crescimento pessoal, a solidão e a superação. Daí temos uma porção de melodias ora alegres ora melancólicas que, em comum, contam com uma qualidade essencial que explica a sobrevivência do quarteto e o apreço dos fãs: melodias e versos instintivos de se acompanhar. Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui é o terceiro álbum bem sucedido do Hateen com letras em português. A mudança rolou em 2006, influenciada pelo sucesso de algumas composições que o Koala fez para o CPM22. Nem todo mundo se dá bem nessa transição, mas, no caso, funcionou. Há ainda duas participações pra dar aquele tempero especial em certas passagens: Dani Vellocet, do Mecanika, em “Passa o Tempo”, e Rodrigo Lima, do Dead Fish e d'oelefante, em “Perdendo O Controle”.

Ouça o novo trampo dos caras enquanto lê a conversa que tive com o Koala sobre a fase que se descortina e outros lances.

Noisey: Ouvindo esse disco novo, a gente percebe o Hateen como suas próprias letras, um personagem que atravessou o tempo colecionando cicatrizes e tirando lições positivas delas, seguindo mesmo que sem querer. A partir daí, como vocês percebem o amadurecimento da banda?
Rodrigo Koala: A banda está envelhecendo junto com a gente, isso faz dela um reflexo exato de quem somos. Hoje somos pais dedicados, que ralam pra pagar as contas e educar nossos filhos. Nossa visão de tudo, inclusive da música, acaba não tenho toda aquela ingenuidade do início, quando tudo parecia tão fácil. Hoje sabemos que nada é fácil. Já estivemos em momentos completamente diferentes de nossa carreira, em que tínhamos uma megaexposição na mídia, e outros em que não tínhamos nada. Aprendemos a lição de que nada é mais importante do que a música e a gente se divertir fazendo música. Fazer discos, fazer shows, tudo isso é muito divertido pra gente ainda. Acho que não estamos tentando acertar um alvo, conseguir fama, dinheiro, nada do tipo… Estamos apenas fazendo o que amamos. Sempre seremos gratos a tudo o que puder acontecer de bom, mas não temos essa busca por acontecer. Isso, pra gente, é nossa forma de amadurecer e seguir em frente.

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O Hateen parece ter chegado até aqui muito por conta da sua persistência. Você, afinal, é o único integrante da formação original. Como as diferentes mudanças de formação foram somadas ao seu estilo pessoal nas fases da banda?
Cada pessoa acaba contribuindo um pouco com seu estilo em determinada época em que tocou na banda. Mas a real é que sou supercontrolador [risos], e ao máximo tento fazer as coisas do meu jeito. Até por isso todas essas mudanças não influenciam no som, pois eu acabo sendo o polo em comum de todas elas. E em todas as fases eu faço as letras e melodias — em 95% dos casos —, por isso consigo manter o som bem característico do Hateen, ainda que a banda troque de integrantes.

Vocês levaram entre quatro a cinco anos para lançar os últimos trabalhos. Esse é o ritmo que o Hateen assumiu para si daqui pra frente?
Esse é o ritmo que rolou nos últimos discos, mas estamos sempre tentando diminuir esse gap entre um álbum e outro. Porém, a vida adulta é mais hardcore [risos]. Não existe muito tempo livre pra ensaios, etc… Acaba sendo uma tarefa cada dia mais difícil.

Existe a preocupação de voltar a ter uma presença forte na mídia ou vocês estão em outra?
Preocupação em ter uma presença na mídia, claro que temos, mas não estamos fazendo disso o nosso objetivo. Esperamos que seja consequência de muita gente ouvindo as músicas, indo aos shows, etc… Mudamos a maneira de jogar o jogo, mas o objetivo é sempre o mesmo: chegar cada vez mais longe.

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Quais eram as influências do Hateen em sua fase de ascenção, daquelas músicas que escutamos no Hydrophobia, ou mesmo no Dear Life, e atualmente?
Sempre fomos muito influenciados por rock alternativo, hardcore melódico e punk rock dos anos 1990, 2000…. Gostamos muito de metal, grunge…. Não temos nenhuma amarra com nenhum estilo, gostamos de poder experimentar e fazer coisas diferentes o tempo todo em nossa música. Acho que continuamos gostando dos mesmos estilos musicais, com algumas bandas mais novas e tudo mais, mas 80% de tudo que amamos vem ali dos anos 90 em diante.

Ainda falando do começo, Blind Youth já trazia um som bastante rico de sonoridades para a época. Qual era a experiência de vocês na cena quando montaram o Hateen para já ter um som coeso naquela demo?
Zero. Não tínhamos sequer instrumentos. Compramos instrumentos parcelados e fomos gravar com equipamentos horríveis. Tínhamos muita vontade de fazer as coisas, a força da idade e várias ideias na cabeça. O resultado foi o que saiu na hora mesmo, sem firula, sem overdubs… Tínhamos um foco que era fazer uma demo tape pra mostrar a todos quem era o Hateen, mas nunca pensamos se era punk, hardcore, emo… Só queríamos fazer nossa própria música e expressar o que sentíamos.

O som do Hateen parece que sempre soa um pouco nostálgico ou contemplativo. O próprio nome da banda sugere isso, não? A raiva adolescente que atraiu vocês para a música…
Eu costumo escrever sobre minhas experiências ao longo de todo esse tempo, e das coisas que vejo ao meu redor. Pra mim é muito difícil começar a escrever do nada, pegar um tema e escrever. Isso contribui para que a gente sempre demore pra fazer discos, pois são músicas feitas através de muita coisa que vivemos… Não sentamos e simplesmente dizemos: hoje vou fazer uma música de amor. Uma música de protesto. Geralmente a música nasce das experiências reais mesmo.

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Como é possível cantar rock em português sem soar feio como uma banda descoberta no programa Ídolos?
Sinceramente eu não sei. Sempre gostei e ouvi muito mais bandas em inglês do que em português. Isso até hoje. Mas desenvolvi um carinho por escrever em português pela proximidade que isso traz junto aos fãs. São laços que criamos, e que seriam completamente diferentes em outra língua. Muitas vezes me sinto nu tendo que cantar uma frase em português, pois não posso me esconder atrás da melodia que o inglês proporciona. Em português a melodia vem escancarara com a mensagem da letra impressa nela, e talvez esse seja o grande barato da coisa. Falar a língua de quem nos ouve e ser 100% compreendidos acabou sendo um dos maiores motivos pela mudança do inglês para português. Quero que as pessoas saibam o que eu estou cantando e por quê. Quero que elas guardem mais do que a melodia da música na cabeça. Quero que elas levem na memória uma frase das nossas músicas.

Não perca o show de lançamento:

HATEEN
São Paulo - 25 de junho - Sábado
Local: Hangar 110 - Rua Rodolfo Miranda, 110. Bom Retiro. São Paulo - SP
Horário: A partir das 19h
Bandas convidadas: Magüerbes, Montese, Rawfire
Preço: R$ 20 (Antecipado)
Ponto de Venda: Loja 255 - Galeria do Rock: R. 24 de Maio, 62.
Vendas online: www.hangar110.com.br

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