Entrevistamos a flautista do Future

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Música

Entrevistamos a flautista do Future

Tiramos a máscara de Elena Ayodele para falar sobre como é tocar com o Future, memes de flauta e o potencial intocado do instrumento para o rap e hip-hop.

Você provavelmente se ligou que tem muito mais flauta no rap ultimamente – ou pelo menos muitos memes de flauta por aí. O instrumento é o trunfo por trás da produção inteligente-ainda-que-porradeira por trás de tudo de "X" do 21 Savage a "Both" e "Back on the Road" de Gucci e Drake a "Tunnel Vision" do Kodak Black – sem falar de "Broccoli.

No centro desta tendência temos "Mask Off" de Future, hit em meio a Future que acabou sendo a faixa de maior sucesso nas paradas do rapper, chegando ao 5º lugar da Billboard Hot 100 esta semana.

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Desde lá o instrumento ganhou vida própria – "Coachella" de Gucci e "Portland" de Drake são só o começo – levando ao surgimento de uma cultura de memes que inclui o Desafio Mask Off, infinitos mash-ups com O Âncora, referências a Power Rangers e o meu favorito aqui.

Era no mínimo esperado, então, que Future alistasse uma flautista para seu show no Coachella. Entra em cena Elena Ayodele, a flautista de 22 anos convidada pelo equipe do rapper para encantar as massas com o amado sample de flauta de Metro Boomin em "Mask Off". Após Future postar a contribuição absurda da flautista-cantora ao Desafio Mask Off, Ayodele foi convidada a tocar em sua apresentação no Coachella, onde subiu ao palco em uma plataforma de LED, flauta na mão, o que fez geral surtar antes mesmo que ela tocasse uma única nota. É com isso que o sucesso se parece, meus amigos.

Ayodele já era conhecida na esfera do jazz e hip-hop por ter tocado e gravado com gente como Common, Esperanza Spalding, Herbie Hancock, Carlos Santana e Christian Scott. Artista de mérito próprio, no momento ela se prepara para o lançamento de disco solo em algum momento deste ano após se formar na Manhattan School of Music.

"O tipo de música que componho tem muito mais a ver com Future e não as paradas de jazz que toquei antes", explica Ayodele. "Foi ótimo tocar no Coachella porque tem tudo a ver com o que estou prestes a lançar, tem um quê de hip-hop, R&B – tudo isso, mas com uma musicalidade diferente por conta da flauta".

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Caçamos Ayodele para bater um papo sobre tocar com o Future, memes de flauta e o potencial intocado do instrumento para o rap e hip-hop.

Noisey: Como rolou esse lance de tocar com o Future?
Elena Ayodele: Foi minha primeira vez com eles e foi demais. Me ligaram e perguntaram se rolava de tocar aquela música e eu fiquei bem empolgada porque, sabe como é, adoro o som dele e ele enquanto artista. Conhecia todo seu trabalho, claro. "Mask Off" tem sido um puta sucesso e acho que buscavam mesmo aquele elemento ao vivo.

Moro em Nova York, então pagaram minha passagem até o Coachella. Toco com muita gente, tenho tocado bastante com Common, canto com ele também, então foi bem legal terem me ligado porque é bem meu esquema mesmo. Engraçado é que fiz um vídeo pro Desafio Mask Off que acabou sendo repostado pelo Future e os fãs aparecem ali pra assistir e tal. Nunca tinha feito um negócio desses antes, mas acho que no final das contas alguém acabou me recomendando de alguma forma, a ligação foi bem do nada.

Você vai tocar com ele de novo?
Não sei, espero que sim! Ele está prestes a sair em turnê e talvez me envolvam nisso. Dessa vez só toquei "Mask Off" e a ideia era fazer algo maior, meio que um solo de flauta, mas não deu por conta do tempo, ainda assim foi bem bacana, me fizeram subir uma puta escada e descer por uma plataforma. Queriam que quando "Mask Off" rolasse, fosse um lance grande e o público pirou assim que me viu, já sabiam o som que ia rolar assim que viram a flauta. Foi demais.

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Boto fé que como flautista você não tenha muitos momentos de rockstar como esse, chegando numa plataforma diante de um público gigantesco etc.
Olha, tive sorte de ter meio que uma participação grande em quase tudo que já fiz com a flauta, o que é meio loucura. Nos shows do Common faço solos e mais um monte de coisas do tipo. É demais ver como pude usar a flauta, agora num palco como o do Coachella, nem sei quando foi a última vez que vi flauta ter um destaque desses. Ainda mais com um rapper!

Como foram os ensaios?
Nem ensaiamos, na verdade. Eles me ligaram e disseram do que precisavam. Cheguei no Coachella e conheci todo mundo lá mesmo, não conhecia ninguém com exceção do baterista que já conhecia de antes. Trocamos de roupa, passamos o som e fomos pro palco. Foi isso. Todo mundo estava falando de quão empolgante era ter uma flautista ali já que a música tinha estourado tanto. O Future foi bem bacana, ele queria os holofotes em mim e que começasse a tocar assim que fosse descendo na plataforma. Tinha muita coisa rolando, foi um show de 50 minutos com vários convidados, foi algo bem aberto. Eles sabiam que eu sabia o que estava fazendo então foi bem "vai lá e brilha". Como eu disse, se tivesse mais tempo, rolaria um solo ali e tudo mais, de resto era só sentir a vibe da música e acompanhar.

Você estava nervosa?
Não. Foi bem divertido. As roupas eram bem apertadas, a banda era bem legal. A música é demais. Eu toco há um bom tempo, então só estava bastante empolgada mesmo, nunca tinha ido ao Coachella, foi doideira! Eu e uma amiga passamos o fim de semana lá e foi demais, me diverti muito. O lineup era excelente, de Kendrick a Gucci Mane a Future… Todo mundo. Foi foda.

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Existem outros flautistas no meio do rap? Rola uma competitividade?
Eu não conheço ninguém. É legal porque acabam me recomendando para um monte de coisas por um monte de gente para fazer exatamente isso. Certeza que rola mais gente e eu adoraria conhecer essa galera, mas não manjo ninguém. Sei de um cara que tocava com a Erykah Badu e era animal, mas faz tempo.

Você conhece Metro Boomin? É fã do trabalho dele?
Nunca o conheci! Morro de vontade e adoraria tocar em uma de suas músicas e que ele editasse tudo, adoraria. É um sonho meu, adoro as produções dele.

Você conhece Metro Boomin? É fã do trabalho dele?
Nunca o conheci! Morro de vontade e adoraria tocar em uma de suas músicas e que ele editasse tudo, adoraria. É um sonho meu, adoro as produções dele.

Qual sua opinião sobre todos esses memes de "Mask Off" com flautas e esse " momento" que o instrumento passa no rap e hip-hop em geral?
Acho demais. É engraçado que esteja se tornando relevante agora já que toco flauta desde sempre. É legal porque as pessoas estão acostumadas a ouvir o instrumento em várias músicas, mas não destacado desse jeito. Tem toda uma história – está presente em nossa música desde Gil Scott Heron, Marvin Gaye, artistas incríveis o usam há anos, então o público estava acostumado a ouvir sem saber e agora está bem na cara, é legal, acho os memes engraçados.

Você tem algum favorito? Certeza que sempre tem gente mandando uns pra você.
[Risos] Sempre. Não tenho um favorito, mas é engraçado o tanto de gente me mandando memes do "Mask Off" desde que rolou.

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Esses memes enchem o saco? Fica a impressão de que não estão levando a coisa a sério?
Levo tudo numa boa. O que gosto mesmo de "Mask Off" é que não é uma faixa piegas. É um puta som foda que me lembra de alguns discos antigos com flauta que não tinham nada de engraçados e eram sincerões, meio blues e cheios de alma. Amo isso. A batida ajuda, é bem feito, eu curto.

Por que você acha que a flauta está tão popular agora em comparação a cinco ou dez anos atrás?
Pra mim é o instrumento que mais se aproxima da voz humana e isso atrai produtores. Penso que eles curtem o som porque soa maravilhoso e quase como um vocal. Além disso, não é algo tão na cara, pode ficar no fundo e ainda assim ter um baita efeito. Pra mim é isso que explica porque o instrumento aparece em tantas músicas diferentes. É ótimo para samplear também, é tipo manteiga, combina com tudo.

Com quem mais você gostaria de trabalhar?
Kendrick Lamar, já que ele usa tantos instrumentos diferentes. E Frank Ocean. Esses dois com certeza.

Como você começou na flauta?
Meu irmão mais velho toca piano e eu queria ser como ele. Até que fui a um show e tinha um flautista lá. Literalmente virei pro meus pais e disse "quero tocar aquilo", apontando pra ele. Não sei se pirei porque era algo brilhante ou porque amei algo ali de cara, mas sempre sinto que o instrumento me escolheu pois ele é perfeito pra mim. Comecei com improvisos, não de forma clássica, o que fez de mim bastante versátil e meio que ideal pro tipo de coisa que faço, acho que a juventude ajudou também. Cresci dançando e ouvindo pop e coisas contemporâneas. Tocava ouvindo aquilo, ensaiava pra caralho o que ouvia na rádio. Ensaiava ouvindo o Top 40, Travis ou Future. Não é diferente de qualquer outra coisa – é o que eu curto. Se estou no carro ou em casa, é o que eu curto.

Qual o impacto de "Mask Off" e seu envolvimento com a música em você?
O grande lance é que esse ano e minha vida inteiros eu tentei descobrir como colocar a flauta em posição de destaque como rolou agora pra que o mundo a escute e a aprecie de forma natural - aquelas coisas que tocam na boate, no rádio, nas festas. Fazer parte de um grande sucesso que as pessoas ouvem o tempo todo é demais, especialmente porque faço música desse jeito e estou prestes a lança-la. É quase apologético, no sentido de que é foda e pode ser feito mesmo. As pessoas gostam disso e se for feito do jeito certo, de forma autêntica, elas vão gostar. Já é quase parte da cultura do hip-hop agora.

Andrea Domanick é a editor do Noisey Costa Oeste. Siga-a no Twitter.

Tradução: Thiago "Índio" Silva