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Música

A Creche é o grito punk da Geração Z

Com letras espirituosas e um som que remete ao escárnio skate-punk 80's, o quarteto paulistano lança seu primeiro EP, ‘Geração Zero’, que reúne dez faixas em 18 minutos. Ouça aqui.

O punk não morre, ele é tipo um vírus, que evolui e se adapta para continuar infectando a moral e os bons costumes de cada época e lugar. A rebeldia da Geração Z estava mesmo precisando de uma voz. Estava. Não mais: o quarteto paulistano A Creche surge para revigorar o espírito Flipside Videos com seu desbocado hardcore zoação. Letícia (vocal), Xuxu (baixo), César Passa-Mal (Lomba Raivosa/Boring Assholes, guitarra) e João (bateria) montaram a banda no meio do ano passado como um lance despretensioso. A princípio, pegaram horário num estúdio só pra ter um lugar onde pudessem beber e tirar uns covers. No segundo ensaio, porém, já saiu uma música própria no improviso e não teve escapatória.

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Não só o nome do grupo faz referência à idade da maioria de seus integrantes — o guitarrista é o único "adulto", com 31 anos —, mas também o do EP de estreia, Geração Zero, que o Noisey divulga em primeira mão nesta sexta (3). "É sobre a apatia geral dessa geração nova", explicam eles em nossa conversa via Facebook. "Parece que, a cada geração, piora mais e mais nesse ponto. Todos conectados, mas cada vez mais vazios. Poético, né? Então, daí veio o termo." As letras são ao mesmo tempo ácidas e descompromissadas, livres de metáforas, jogos de palavras ou qualquer tentativa de aceitação comercial. É como diz o Passa-Mal: "Uma coisa que já ficou clara é que essa banda não vai pagar nem uma cerveja morna."

A maioria das músicas nasce de algum lance real que aconteceu com eles. A história de "Padaria Nunca Mais", por exemplo, é totalmente verídica. "Pensa em você ir beber sempre com as mesmas pessoas, numa mesma padaria, por dois anos?! Tipo uma Rapunzel da panificadora. Fujam de relacionamentos abusivos, amiguinhos!", declara o grupo. A Creche é formada por uma galera que prefere falar a real tirando barato das coisas. "Tem assunto que a gente prefere só aloprar um pouco, porque dá até preguiça de fazer uma crítica muito elaborada. É um resumo de como a gente é na vida mesmo, meio de saco cheio geral, mas tentando levar no bom humor (quando possível) pra não morrer de stress", diz a trupe.

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Geração Zero apresenta dez sons em 18 minutos, tocados de um jeito meio espevitado e muito autêntico. A pegada revela influências clássicas como Black Flag, Dead Kennedys, Ratos de Porão, e também coisas mais novas como Cerebral Ballzy e OFF!. Até agora, A Creche fez apenas um show. "Mas logo mais vamos estar incomodando os ouvidos por aí", garantem os integrantes. "Já até aproveitamos o espaço pra pedir perdão antecipado."

"Merenda Maldita", o primeiro clipe do repertório, foi feito do jeito mais caseiro, tosco e simples possível, mas por alguma razão é muito daora de assistir. Basicamente traz cenas da banda tocando em estúdio mesclados com takes da Letícia passando vergonha na rua. "E largamos tudo pro Passa-Mal editar, afinal, ele merece sofrer já que é o mais velho", frisam. Esta e as outras faixas foram todas compostas e gravadas num período de três meses. A gravação, mesmo, rolou em cinco horas. "Jogo rápido", nas palavras da banda, "pra ficar o mais real possível."

Ouça Geração Z no player abaixo: