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Música

Uma conversa com Jesse Michaels do Operation Ivy sobre "Knowledge"

O frontman da lendária banda punk da Bay Area fala de um de seus muitos hinos.

Este artigo faz parte da série "Qual que é dessa sonzera aí?" (tradução livre, belê?) do Noisey Austrália. Nela, os australianos se aprofundam na história das faixas favoritas da galera. Leia a coluna original aqui.

Em 28 de maio de 1989, durante o último show do Operation Ivy no lendário Gilman St na Califórnia, o vocalista Jesse Michaels anuncia para o público: "Esta música se chama 'Knowledge' e fala sobre amadurecer", e aí começa a história de uma das músicas mais queridas pelos fãs banda, de seu único EP, Energy.

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O Operation Ivy praticamente cresceu no 924 Gilman Street, ou Gilman, casa de shows que serviu de trampolim para o revival do pop punk dos anos 90, época em que "Knowledge" tornou-se um dos muitos hinos da banda.

Michaels, Tim "Lint" Armstrong (guitarra, vocal), Matt "McCall" Freeman (baixo, vocal), e Dave Mello (drums), formaram a banda em maio de 1987 e foram um dos primeiros grupos a misturar elementos de hardcore e ska.

Ao lado de bandas como Green Day, Offspring e Rancid da fase posterior (formado por Armstrong e Freeman após o Operation Ivy) e também com a emergente Lookout! Records, o Operation Ivy foi considerado como parte importante de uma nova geração de bandas da Bay Area.

Por mais que tenham durado pouco tempo e tenham lançado um único EP intitulado Energy pela Lookout! Records e algumas faixas em coletâneas, seu legado segue firme e jovens punks, muitos nem nascidos de 1989 em diante, continuam a usar camisetas da banda e a cantar as suas letras sobre união.

Depois do Operation Ivy, Jesse tocou no Common Rider e trabalhou como artista visual criando artes para bandas como Filth e Green Day. Seu trabalho como pintor já teve exposições em San Francisco, Los Angeles e Nova York. Atualmente ele colabora com a marca de roupas Altamont.

Pegamos Jesse para bater um papo sobre "Knowledge".

Noisey: O que rolava na sua vida quando você escreveu "Knowledge"?

Jesse Michaels: Tim escreveu o começo da letra até "I know things are getting tougher when you can't get the top off from the bottom of the barrel / wide open road of my future now — it's looking fucking narrow". E fui compondo o resto ao redor de Berkeley, não lembro exatamente onde, mas sempre escrevia aos pouquinhos — de rolê com a galera, tomando um café, no carro, onde desse.

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No último show da banda no Gilman Street você anunciou "Knowledge" como uma música sobre amadurecimento. O que ela significa depois de todos esses anos?

A letra foi bastante influenciada pelo Stiff Little Fingers. Se você escuta músicas deles como "Break Out" ou "At the Edge" há um quê de incerteza aventureira e rebeldia contra normas estabelecidas para jovens. A ideia era aceitar a incerteza como uma força por si só, mesmo com a pressão por um bom emprego ou o que for. Eu era contra ideologia e cair em armadilhas da vida, sentia que a maioria dos adultos eram chatos e me sentia julgado por eles por não ter nada definido. Essa música foi minha resposta, não que tenha sido 100% coerente, mas era meio que essa a ideia.

O trecho inicial tem algo de fútil, mas que no final das contas vai crescendo ao longo da música de forma meio triunfante.

Foi Tim que escreveu aquilo. Certamente a angústia e futilidade estão ali e de repente vira um lance meio louco. Era essa a abordagem ou ideia básica da banda de certa forma. Você fala honestamente de coisas terríveis e então essa alquimia bizarra da música transforma aquilo em um momento de liberação que vai além dos problemas do mundo.

A música se chama "Knowledge" apesar de você a ter escrito matando aula no ensino médio. O quanto educação formal tem a ver com conhecimento?

O título da música vem do refrão e fala sobre saber e não saber. O ponto é que às vezes não saber de algo é um tipo de conhecimento porque te permite manter-se aberto e ver a vida sem conceitos prévios. Não é lá uma novidade. Não sou contra educação ou conhecimento, inclusive adoro essas coisas e há pouco tempo fiz faculdade. Gostava demais de estudar naquela época, mas tinha mesmo problemas com aulas do ensino médio.

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Em retrospecto, você consegue entender parte do cinismo que acompanha uma música idealista que alguns acreditam representar a ingenuidade e utopia punk da cena do Gilman na época?

Não tinha nada de utópico ali. O Gilman era um lugar ridículo e tinha muita gente cínica ali. Tinha treta toda semana e ainda tem. Tinha gente politizada, gente preocupada com visu, acadêmicos, zés droguinha e gente esquisita, então entendo o cinismo em torno de ideias utópicas, mas é um engano. A música não representa o Gilman de forma alguma, se alguém acha isso, é forçação de barra.

O que Tim Yohannan da Maximum Rocknroll achava da música?

Tim curtia uns lances mais hardcore, não pirava no nosso som, mas achava a gente engraçado. Sempre assistia nossos shows e ele e Matt eram amigos. Mas nunca sabia dizer o que ele estava pensando, então vai saber.

A música teve um alcance incrível após o Green Day gravar um cover em 1990.

Sim, nem sei o que falar sobre isso, mas tem sido uma experiência interessante. Não falo nem penso muito sobre o Operation Ivy no meu cotidiano, mas esse cover do Green Day e coisas que eles falaram em entrevistas com certeza ajudaram a divulgar a banda.

Jesse Michaels hoje.

Muitas bandas gravaram covers do Operation Ivy além do Green Day. Você tem alguma favorita?

É bem complicado pra mim ouvir minhas músicas ou covers delas. Depois que gravei, deixo de lado e escuto muito raramente. Fico feliz que a coisa ainda se mantenha e tenha quem curta, fico feliz de que faça parte de uma longa linhagem musical que inclui bandas de antes e depois do Operation Ivy.

Imagem de capa: Ashley Goodall
Fotos cedidas por Jesse Michaels