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Música

O Jonathan Tadeu tocando na Pizzaria Batepapo foi o orkontro do rock triste

Ao tirar o rock triste da internet e levar para pizzaria que todos amam ainda que poucos tenham comido lá, o tal gênero virou, sim, a consolidação de um movimento.

Todas as fotos são da Mariana Akemi

Enquanto tentamos descobrir por que o rock triste incomoda tanto, os melhores músicos do rolê surfam nesta onda. É o caso do Jonathan Tadeu, que deu uma palinha de seus grandes sucessos (incluindo seu melhor cover: “O Frio da Madrugada”, de Rio Negro e Solimões) numa mesa da Pizzaria Batepapo, na última sexta (15). O show fazia parte da turnê de Jonathan com Fernando Motta e João Carvalho por São Paulo, que começou na cidade de São Carlos, passando por São Bernardo, Guarujá (a cidade da pizzaria mais conhecida do Brasil) e terminando na capital.

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O evento foi organizado por um fã chamado Guilherme Aguiar, conhecido como Guiguetz, que trabalha numa sex shop no Guarujá, cidade onde mora. Ele também é responsável por boa parte dos memes que surgem na página “I’m Sad and I Listen to Rock Triste Every Night” que já conta com mais de 1400 likes. A convite de Jonathan, o Noisey colou no rolê memorável, que gerou grandes momentos da internet triste brasileira, como o da foto abaixo:

Fazer uma pizza escrito Rock Triste foi ideia do Guiguetz. “Quando o homem foi pra lua, eles fincaram a bandeira lá como uma forma de demonstrar que chegaram longe. A mesma coisa é o rock triste. Por que não escrever o nome de todo um movimento em cima de uma pizza? Que tipo de pessoa não faria isso?” explicou Guilherme.

Comendo pizza de batata palha e fazendo memes ao vivo, os fãs se encontraram, deram risada e cantaram junto todas as músicas tocadas por Jonathan. Até “Stairway to Heaven” foi tocada, a pedido do garçom da pizzaria, que agradeceu e elogiou: “Pra tocar essa aí tem que ser talentoso!”. Todos os presentes cantaram a música inteira, em um gesto de homenagem. Os fãs que não puderam comparecer acompanharam tudo pelo Twitter e pelo Telegram, contagiados pela emoção do acontecimento.

MOVIMENTO

Por mais brincadeira que pareça, o rolê na Pizzaria Batepapo foi a consolidação de um movimento. O rock triste, mais que um meme, impulsiona orgânica e horizontalmente uma parceria entre músicos e fãs que, independentemente das críticas e indignações de terceiros, botam as mãos na massa e fazem eventos como este acontecerem. Afinal, o rock independente é intrínseco à vida real, porque ele precisa de pessoas para existir, precisa de bandas, precisa de público, precisa de shows. Se o rock triste só existisse como meme, não estaria agregando nada, mas quando bandas assumem o rock triste como identidade, e memes como interpretações desta identidade, elas criam um vínculo íntimo com seu público, de modo a encorajá-lo a pavimentar o caminho que todos irão seguir. O rock triste sob o viés de identidade memética quebra os arquétipos de idolatria e coloca artista e público no mesmo balaio, porque é assim que o underground deve funcionar.

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Em outras palavras, o rock triste é coisa séria: “É muito mais do que ‘uma onda de bagunça’ ou uma ‘panelinha’ como falam por aí. Foi o rock triste que garantiu que certas bandas começassem a aparecer na internet e serem conhecidos, enquanto ‘panelinhas’ deixavam outros grupos no ostracismo”, conta Guiguetz.

Depois de tanta polêmica gerada pela explosão de memes e opiniões distintas sobre o rock triste nas redes sociais, Guiguetz se sentiu na obrigação de escrever um texto, publicado durante o evento, explicando que o termo vem da brincadeira de uma ex-namorada, que reclamava que ele “ouvia rock triste demais”, numa época em que era muito fã de Lupe de Lupe. Além disso, Guiguetz defende que nomenclaturas não fazem diferença, já que o mais importante é o resultado: “Podia se chamar ‘clube do pudim’, ‘Ednaldo Pereira’ ou ‘amigos da bagunça’ que continuaria mantendo o sentido e a ideia de libertação, trazendo esse senso de unidade que vemos hoje, com a integração de bandas com fãs e mesmo bandas com bandas, em uma escala regional e nacional.”

É difícil medir a proporção que o termo “rock triste” ganhou nos últimos meses. Desde a nossa matéria registrando a dita cena fantasma de Belo Horizonte, esta tag vem não apenas dividindo opiniões entre gente interessada pela música independente brasileira, mas também gerando tretas e manifestações de ódio nas redes. Papos sobre glamurização da depressão são constantemente debatidos e um tuiteiro da zuera já até mandou todo mundo se matar pra “não sujar a cena”. Pesado.

Em meio a isso, o rock triste segue sua trilha. Voltando do Guarujá para São Paulo, num divertido encontro com a galera da Tom Gangue, os mineiros foram desafiados pelos cariocas a uma partida de futebol. Bernardo Cunha, vocalista da Tom Gangue, prometeu deitar todo mundo na pelada. Agora só resta esperar pelo próximo orkontro do rock triste: o Rock Triste Gol 2016. É isso, os cães ladram mas a caravana não para.

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