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Música

Entrevistando o Exhale The Sound: Herod

Se antes o Mogwai e o Pink Floyd chegavam como influência precursora para o Herod, hoje os graves e as texturas do noise predominam, com abertura até para o shoegaze em alguns momentos.

Formada em 2006, a Herod (ex-Layne) foi, ao longo dos anos, colecionando avais importantes para seu triângulo amoroso entre o noise, o metal e o post rock, tudo ungido pelo instrumental/experimental. Em 2007, a banda ficou em oitavo lugar em um concurso mundial, promovido pelo MySpace e por David Gilmour (Pink Floyd), de versões da música “Arnold Layne”. Mas a bênção veio mesmo quando Robert Smith convidou os caras para abrir os dois shows da turnê brasileira do The Cure, em 2013.

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Os quatro registros de estúdio – o EP Sealand Fire (2009) e os álbuns In Between Dust Conditions (2008), Absentia (2010) e Umbra (2013) – marcam uma mudança de sonoridade atravessada pela troca na formação, pela exposição a outros sons e pela melhoria até mesmo dos equipamentos, como captadores e pedais que traduzissem mais as intenções da Herod. Se antes o Mogwai e o Pink Floyd chegavam como influência precursora para Sacha (guitarras), Elson (baixo), Lippaus (guitarras) e Raphael (bateria), hoje os graves e as texturas do noise predominam, com abertura para o shoegaze em alguns momentos. Ao vivo, as camadas ganham volume com a participação de Daniel Ribeiro em uma terceira guitarra. Quem não conhece a banda acaba sendo capturado pelos shows, que têm uma bipolaridade sonora proposital. “A alternância de peso e ambiência tem que ser muito equilibrada para que não fiquem aqueles momentos de ‘conversa’ na plateia, e procuramos sempre guardar o ápice para o final”, explica Sacha.

Todos os discos foram lançados pelo selo virtual Sinewave, pilotado por Elson e Lippaus, e que tem no catálogo exemplares estimados do barulho torto (e nem tão torto) nacional, como Cadu Tenório (Sobre a Máquina, VICTIM! e Ceticências), Huey, Testemolde, Duelectrum e J.-P. Caron. A turnê do disco Umbra agora vai passar por Belo Horizonte, já que o quarteto será uma das 24 bandas da segunda edição do festival Exhale the Sound, nos dias 10 e 11 de outubro, dedicado a amplificar quem investe na música pesada no Brasil. O Elson e o Sacha dão mais detalhes sobre a Herod na entrevista a seguir:

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Noisey: Como surgiu a Herod e quais bandas estavam no imaginário de vocês como referências diretas e indiretas?
Sacha: Alguns dias atrás, no oitavo aniversário da banda, relembrávamos a nossa primeira conversa sobre "um projeto musical torto e pesado, fazendo a releitura de clássicos franceses". Dali por diante foram ideias e referências pessoais que se aglutinaram e se tornaram as primeiras faixas da então Herod Layne. O Elson veio com sua devoção ao Mogwai, eu com o meu fascínio pelo Floyd - o que fica muito óbvio no nome que escolhemos para o projeto. Acho que não passaríamos de colegas trocando alguns mp3 autorais pelo MSN se não participássemos do concurso Arnold Layne, do próprio David Gilmour via Myspace, e tivéssemos ficado em oitavo lugar mundial com nosso arranjo para a faixa. Daí veio a primeira repercussão positiva e decidimos virar banda.

Onde a Herod se situa musicalmente e qual o papel do noise e do post rock na sonoridade da banda?
Elson: Acho que a Herod se situa hoje num pequeno mas crescente grupo de bandas que apostam numa sonoridade estranha e que confronte o ouvinte de alguma forma, através de músicas longas, instrumentais e/ou barulhentas. Gosto de dizer que nos identificamos com bandas que "sangram". Noise e post-rock acabam sendo elementos que influenciam diretamente a nossa proposta.

Vocês foram convidados pelo Robert Smith a abrir todos os shows da turnê do The Cure no Brasil, em 2013. Como foi receber o convite, o contato com eles e a experiência de tocar para um público que não conhecia vocês?
Sacha: "Surreais". Acho que é o adjetivo mais adequado para aqueles dois meses de março e abril de 2013. Recebemos um e-mail inesperado da produtora do evento pedindo "o contato do nosso empresário", outro e-mail perguntando "se era do nosso interesse", e um último confirmando o evento. Três mensagens e lá estávamos nós abrindo para dez mil pessoas no Rio e para trinta mil em São Paulo, com direito a um show de humildade do Robert Smith, que fez questão de nos trazer champanhe ao camarim, pessoalmente. A aceitação e os aplausos do público ao final da execução foram muito gratificantes, e não passamos uma semana sem rever o finalzinho do show, disponível no Youtube. Um sonho realizado, para o qual até hoje não caiu a nossa ficha. E o legal é que muitas pessoas, nos shows seguintes e até hoje, nos procuram para dizer que nos conheceram no Anhembi e voltaram para nos ver.

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Vocês eram conhecidamente instrumentais, mas decidiram colocar o Jair Naves, o Filipe Albuquerque e o Cadu Tenório para cantar no último disco, Umbra. Por que isso?
Elson: Apesar de sermos essencialmente instrumentais, sempre questionamos se uma determinada música cresceria adicionando vocais. Na maioria das vezes não cabem, mas em alguns casos isolados sim. Nos discos anteriores a própria banda gravava os vocais, mas para o Umbra pensamos em chamar convidados, que sempre agregam no resultado final. A participação do Jair, do Filipe e do Cadu se encaixaram perfeitamente no que queríamos. Certamente vamos continuar com a ideia de chamar convidados para os próximos discos, já temos até algumas ideias sendo rascunhadas com vocais.

Os shows de vocês têm uma atmosfera quase claustrofóbica, mas o curioso é que vocês avançam para o catártico com muita facilidade. Como é a escolha das músicas para os sets e em que medida a relação de vocês com os instrumentos no palco ajuda a criar esse climão todo?

Sacha: Todo nosso show é muito pensado e sobretudo ensaiado à exaustão, apesar de em alguns momentos darmos a impressão de estarmos improvisando. "Até o improviso é ensaiado", costumamos dizer, e sempre que montamos um setlist planejamos que sensação queremos causar com a introdução, meio e conclusão do show. A alternância de peso e ambiência tem que ser muito equilibrada para que não fiquem aqueles momentos de "conversa" na plateia, e procuramos sempre guardar o ápice para o final. Em relação aos nossos instrumentos, a grande sacada é experimentar e conhecer referências de como tirar algo surpreendente deles. E o surpreendente não é necessariamente virtuoso ou técnico, apenas tem que ser notado e comentado pela plateia por ser inusitado. E o que amarra tudo isso é o fato que nos divertimos sempre do mesmo jeito, quer seja para um público de 30, 300 ou 30.000 pessoas.

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A Herod tem uma história diretamente atrelada à gravadora Sinewave. Poderia nos dizer como ela surgiu, como se mantém até hoje e de que maneira ajudou a alavancar a boa recepção que Umbra teve entre público e crítica?
Elson: A Sinewave surgiu em 2008, quando eu e o Luiz, na época na Gray Strawberries, observávamos que havia uma quantidade cada vez maior de boas bandas que tinham a ver com a Gray e com a Herod, e que demandavam uma certa organização. Pensamos em diversos projetos que poderíamos fazer – um site? Um festival? Um podcast? – até chegarmos no formato de um selo virtual. Depois de seis anos, mais de cem mil downloads e uma nova formação (a entrada do Lucas Lippaus, também da Herod, em 2012), dá pra dizer que o selo vem dando certo. Financeiramente, a Sinewave se mantém basicamente por nossos empregos das nove às seis, já que ele não gera lucro nenhum. Mas ideologicamente, o selo se mantém pelas milhares de pessoas que acompanham nossos lançamentos, ouvem, compartilham e vão aos shows. É uma moeda muito mais valiosa do que os R$ 20 por mês que gastamos pra manter o site no ar. Não sei dizer o quanto o selo ajudou a alavancar o Umbra. Mas dá pra dizer que um fator importante foi o grupo da Sinewave no Facebook, que hoje reúne mais de três mil pessoas interessadas em "música que parece que está com defeito", como alguém definiu e nós usamos de slogan. O grupo hoje tem um papel fundamental na existência do selo.

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A Herod e outros representantes do metal e do noise vão percorrer alguns bons quilômetros e levar suas sonoridades para além do eixo Rio-São Paulo, o que reforça uma desconfiança de que os brasileiros estão mais abertos para a diversidade do que chamamos de “música nacional”. Vocês percebem isso na prática, seja em downloads, shows e buzz nas redes sociais?
Elson: Acho que público pra esse tipo de nicho sempre existiu, mesmo que reduzido. O que tem mudado é a percepção mais clara de uma movimentação de pessoas que pesquisam esse tipo de música, se reunindo em grupos do Facebook. Dá pra dizer que um festival como o ETS aconteceria em outras épocas, mas talvez não com a mesma repercussão de hoje. Tem gente do Brasil inteiro de olho no line-up e certamente querendo estar lá. É uma honra para a Herod fazer parte disso.

Exhale The Sound 2014

Dia 10/10, a partir das 19h
11/10, a partir das 15h

Espaço 104. Praça Ruy Barbosa, 104, Centro, Belo Horizonte/MG.

Ingressos: R$ 20, para o dia 10; R$ 35, para o dia 11; R$ 45, para os dois dias.

À venda no Espaço Veg: Rua Fernandes Tourinho, 441, Savassi, Belo Horizonte.

Pela internet: Sympla / Noise Stuff

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