FYI.

This story is over 5 years old.

Música

As Pessoas Gritam Coisas Estranhas pra Tei Shi

A argentina radicada no Brooklyn fala sobre o amor a D'Angelo, não entender muito bem o Tumblr e sobre ouvir "senta na minha cara" nos shows.

Fotos por Eric White/Divulgação

Em um ano com grandes e significativos lançamentos – e em que Adele saiu da toca – Tei Shi conseguiu seu espaço na música pop (aquela mais alternativa, claro) com um “modesto” EP, Verde. Aos 25 e com muita energia, a cantora aparece com uma sonoridade mais concreta em no sucessor de Saudade, de 2013, fazendo sua auto-denominada “música de sereia”.

Seu som tem certa homogeneidade, mas ao mesmo tempo traz uma mistura enorme de influências. Não é por menos, já que a argentina morou na Colômbia e Canadá e, atualmente, vive no Brooklyn. Na maioria das vezes, os vocais de Tei Shi são sussurrados, lembrando um pouco o estilo de fka Twigs – "Can't Be Sure" é um exemplo disso. No entanto, dá para conhecer um pouco de seu domínio vocal durante as cinco faixas do disco: "Basically", uma baladinha com forte influência dos anos 80, traz um tom feroz; enquanto "Go Slow” soa como uma mistura de Imogen Heap e the xx. No disco, a cantora se mostra mais decidida sobre seu estilo e mais ambiciosa. A produção bastante minuciosa ficou mais uma vez nas mãos de Luca e Valerie Teicher (nome de Tei Shi, quando chamada pelos pais), que também escreveu todas as músicas. Conversamos com essa fofíssima sobre seu processo criativo, inspirações, experiências com fãs e sua relação com o Brasil.

Publicidade

Noisey: Quais foram suas grandes inspirações para este EP?
Tei Shi: Acho que não houveram artistas em particular ou algo que eu sinto que foram como inspirações diretas para o EP. Estava testando influência de diversos lugares diferentes. Algumas músicas são mais inclinadas para o R&B, tem um pouco de D'Angelo nessa questão de ser mais vocal, tem um pouco de soul, mas ao mesmo tempo têm influências da música eletrônica. É meio difícil dizer, porque passei um ano e meio trabalhando nele e durante esse tempo ouvi muitas coisas diferentes. Acho que não tem nenhuma influência que o abranja como um todo, mas uma combinação de tudo que estava ouvindo durante a época.

E o que você geralmente escuta?
Geralmente muda…. Ultimamente tenho ouvido uns álbuns ótimos lançados este ano, tipo o novo do Tame Impala e o do Jamie xx. Tem também o do Sean Nicholas Savage. Ele é de Montreal e lançou recentemente um álbum que eu tô obcecada.

Estive escutando também muita música em espanhol. Eu meio que tenho fases em que escuto as músicas que gostava quando era mais jovem, na Colômbia. Este ano também estou ouvindo muito música latina. Na verdade, cantores brasileiros, tipo o Gilberto Gil e Gal Costa.

Como você entrou em contato com a música brasileira?
Quando era pequena meu pai gostava de cantores latinos de jazz, que eu não gostava nem um pouco. Mas acho que subconscientemente ouvir aquilo influenciou meu estilo vocal. Com o tempo fui começando a gostar desse tipo de música, fui pesquisando sobre e descobri que tinha muita música boa no Brasil pelas décadas de 60 e 70. Ainda estou me aprofundando na música brasileira, porém ela sempre esteve ao meu redor e eu nunca tinha dado muita atenção até recentemente.

Publicidade

Eu li na Marie Claire que você tem família no Brasil.
Sim, tenho uma tia por parte de pai, meu tio e primos morando em Campinas. Nunca estive lá, mas espero ir qualquer dia.

Como descreveria o seu processo de composição de músicas?
É bem isolado. Cada vez é diferente, às vezes vem a letra primeiro e depois a melodia, outras tenho a ideia da melodia e vou construindo em cima dela. Mas na maioria das vezes a letra e melodia vêm primeiro, depois os arranjos vocais. No instrumental e produção eu sempre colaborei com o Gianluca Buccellati, que participou em tudo feito por mim até agora.

Você morou em diferentes países durante sua vida. Qual foi o impacto disso em você?
Não sei dizer se foi bom ou ruim. Acho que se mudar bastante e não ter uma vida estável em um lugar pode ser difícil, mas acho que ajudou a me definir como pessoa. Cresci com meus arredores sempre mudando e absorvi muito disso. Tive a chance de me adaptar a diferentes culturas e ambientes. Isso me permitiu trabalhar com diferentes gêneros musicais com mais tranquilidade. Tudo aquilo moldou eu como sou hoje e sou muito grata por tudo.

Como você começou a fazer música?
Comecei a cantar desde que era pequena. Comecei a escrever músicas bem jovem, quando tinha seis anos ou quase isso. Eram músicas bem simples, escritas no meu diário. Sempre fiz isso como uma forma de me expressar e como um projeto pessoal.

Depois também entrei na universidade para estudar música e foi ali quando decidi que queria seguir carreira. Lá aprendi como começar a me gravar e comecei a gravar as músicas que mais tarde estariam no meu primeiro EP. Só senti que realmente estava fazendo música depois de me mudar para Nova York e gravar num estúdio adequado. Foi como um processo gradual.

Publicidade

Com quem você sonha trabalhar?
Ah, tanta gente! Amaria trabalhar com D'Angelo, James Blake…seria tão legal! Lana Del Rey também! Muitas pessoas, na verdade!

Você sempre está conectada no Tumblr, postando e falando com fãs. Como que é, para você, usar o site?
Sabe, na verdade o Tumblr é um mistério para mim, porque eu nunca tinha usado antes de postar sobre minha música. Parecia um mundo bem intimidador, que eu não entendia e levou um tempo para me acostumar. Nunca dediquei muito tempo para mexer direito, mas parece um mundo muito vasto e me perco nele. É bem legal, tem gente fazendo muita coisa boa por lá, como se fosse uma comunidade de pessoas criativas que antes não existia. Eu deveria usar um pouco mais, porque de todas as redes sociais é provavelmente a mais interessante.

Qual foi a coisa mais estranha que alguém já te disse?
Às vezes as pessoas gritam coisas bem estranhas durante os shows. Toquei em Portland recentemente e alguém falou "senta na minha cara". São coisas desse tipo geralmente. Na verdade, ontem alguém me fez um dos pedidos mais esquisitos depois do show. Ela disse que gostou muito da música que fiz com o Glass Animals e ficou muito triste por não ter tocado durante o show. Depois do show ela pediu que eu cantasse para ela, só nós duas num canto do MOMA. Foi meio "venha para um canto comigo e cante comigo". Foi bem legal, na verdade. Mas ninguém nunca tinha me pedido isso antes.

Publicidade

Você descreve seu som como "música de sereia". Como que você chegou a esse termo?
Estava fazendo minha página do Facebook e tinha um campo de descrição. Não queria colocar um gênero, não sabia como descrever. Então veio na minha cabeça "música de sereia". E eu amo sereias! Acho que meu primeiro EP era bastante etéreo, focado nos vocais, bem sereno, então meio que se encaixou no termo. Porém foi mais como uma brincadeira que me surgiu no momento.

O que você define como uma noite perfeita?
Depende do meu humor, mas eu gosto bastante de ficar em casa. Não sou muito festeira, gosto mais de ficar sozinha cozinhando, vendo filmes, tomando banho. Mas às vezes prefiro sair com amigos, ir a shows. Vou bastante a shows aqui. Não sou muito difícil de satisfazer!

Seu primeiro EP se chama Saudade. Por que você escolheu essa palavra, que é em português, para nomeá-lo?
Sempre conheci essa palavra, porque sempre a falavam para mim e sempre circulava por minha cabeça. É uma palavra muito bonita, que não é possível traduzir em nenhuma outra língua. É como se definisse esse sentimento que todos temos, mas não há palavra para o definir, a não ser em português. Quando estava fazendo esse EP, me pareceu que se encaixava no contexto, porque essas músicas foram escritas durante um período de isolamento e nostalgia. Queria que o EP passasse esse sentimento específico, mas que nós não sabemos definir ou categorizar.

O que você espera para o futuro?
Espero ficar cada vez melhor no que faço, fazer cada vez mais música e explorar cada vez mais o meu potencial. Eu gosto de pensar que o meu melhor está por acontecer. Acho que ainda há muitos desafios pela frente, trabalho duro, paixão, descobertas, criatividade. Espero fazer isso por muito tempo e me conectar mais com as pessoas e meus fãs.

Você está trabalhando em material novo?
Sim, estou trabalhando em um álbum. Não tenho certeza de quando será lançado, mas já comecei todo o processo. Ele vai tomar meu tempo pelos próximos meses.

Siga a Tei Shi nas redes: Facebook | Twitter | Tumblr | Instagram