FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Entrevistamos o duo de shoegazer-metal canadense Nadja, que está em turnê no Brasil

Aidan Baker e sua esposa Leah Buckareff tocam em SP, Sorocaba, Belo Horizonte, Rio e Curitiba.

O pesadíssimo duo ambient/noise/drone formado pelo multi-instrumentista e produtor incansável Aidan Baker e sua esposa Leah estão no Brasil para uma tour de divulgação do seu último trabalho, Queller (que sai aqui no Brasil pela Essence Music), ao lado de outros nomes da música experimental brasileira.

Aidan é de Toronto, no Canadá e tem uma extensa discografia, seja como artista solo, com mil e uma bandas e manifestações em grupo, dupla, o cacete a quatro. Para esta turnê em nosso país ele chega com o Nadja, que surgiu em 2003 como um projeto solo, e em 2005 se tornou a atual dupla com sua esposa. A ideia do projeto é explorar ao máximo as possibilidades sônicas da guitarra, em um jeito que costumam descrever como shoegazer-metal. Um My Bloody Valentine sentado no colo do capeta.

Publicidade

A turnê não é mole, não. Acompanha só o itinerário que está sendo organizado pelo pessoal da Avant South:

21/11 - Audio Rebel, Rio de Janeiro
22/11 - Comuna, Rio de Janeiro (Aidan Baker solo)
24/11 - A Obra Bar Dançante, Belo Horizonte
27/11 - Loja Sensorial Discos, São Paulo (pocket show do Aidan Baker, e sessão de autógrafos)
28/11 - Sesc Pompeia, São Paulo (com Labirinto)
29/11 - Sesc Sorocaba, Sorocaba
30/11 - DamaDame, Curitiba
01/12 - Neu Club, São Paulo (Aidan Baker solo)

Enquanto o incansável bonde da distorção segue atropelando o público por onde passa, conseguimos um tempo deste lendário ícone da (anti)música mundial pra trocar uma ideia sobre seu trabalho solo, a vida como músico em Berlim e outras mazelas.

Senhores, Aidan Baker.

Noisey: Para começar, como foi o seu primeiro contato com a música e quais foram os álbuns que mudaram sua vida?
Aidan Baker: Meus pais são músicos profissionais, então, desde que consigo me lembrar a música esteve presente na minha casa, mas a maioria do que se escutava era música clássica e jazz, ao invés de música pop. Os meus dois álbuns favoritos quando eu tinha uns quatro ou cinco anos era o Carmina Burana do Carl Off e o Heavy Weather do Weather Report.

Como você começou com a música experimental, drones, noise e decidiu que era uma coisa que você gostaria de fazer?
Eu comecei a estudar flauta clássica desde muito novo e quando eu já era adolescente comecei sozinho a aprender a tocar guitarra. Parte da minha atração pela guitarra era a liberdade que eu tinha para tocar sozinho, fora de uma orquestra ou sem um acompanhamento, diferente da flauta, e ainda o tinha o grande leque de sons que dava pra fazer, muito além dos métodos clássicos. Quando comecei a tocar em bandas era um material mais new-wave/punk, mas aí comecei a escutar sons mais experimentais, bandas estranhas como o Sonic Youth e o Big Black. Foi daí que meus interesses se expandiram pela música experimental, noise e drone.

Publicidade

Você sempre se envolveu em vários projetos, todos quase ao mesmo tempo. Qual desses que você está mais envolvido atualmente?
Meus projetos mais ativos agora são meu trabalho solo, o Nadja e meus projetos com o pessoal de Berlim como o Caudal e B/B/S. Meus outros projetos ainda estão na ativa –Whisper Room, Adoran, ARC—mas todos os membros moram em Toronto, então com eles a coisa rola mais esporadicamente. Depende muito de quando estamos juntos na mesma cidade. Meus gostos musicais são bem variados, tem ainda muitos gêneros e estilos musicais que sinto que ainda não explorei… Então tenho quase certeza que vou acabar tocando em outras bandas ou criando novas.

Ainda sobre o mesmo assunto, quando você compondo em algum momento você pensa “isso vai pro Nadja” ou “isso seria melhor para o projeto X”? Ou você foca em um projeto de cada vez?
Enquanto quase todos os meus projetos envolvem elementos de música ambiente, drone e improvisação, tem alguns momentos onde um certo som ou estrutura obviamente pertencerá a um projeto específico, mas geralmente depende da minha intenção inicial e ideias sobre o trabalho em questão.

Sobre esse processo criativo, já que você é um artista muito prolífico, como funcionam as colaborações? O que eu quero dizer é, se em alguma vez já houve problemas ou uma boa surpresa ao trabalhar com algum artista?
As melhores colaborações são aquelas que trazem surpresas e mesmo problemas podem ser algo positivo, se nós formos capazes de superá-los durante o processo. Acredito que qualquer colaboração que resulta em algo inesperado e surpreendente, particularmente para nós que somos músicos, é sinal de que foi bem sucedida.

Publicidade

Qual é o melhor equipamento para gravar um álbum com o Nadja? Eu acho que devem existir muitos elementos no estúdio que não são possíveis de levar para o palco. Você usa um equipamento diferente no estúdio e no show?
O equipamento do estúdio e dos shows são praticamente a mesma coisa e nós abordamos os dois da mesma forma. Claro que na gravação temos a oportunidade de voltar e corrigir coisas, assim como adicionar mais camadas e instrumentalizações. Mas a ideia da espontaneidade e improvisação nas apresentações ao vivo é tão importante quanto o processo de gravação.

Qual é o equipamento que você não consegue ficar sem para trabalhar, no estúdio e nos shows?
No Nadja nós dependemos muito dos pedais de distorção, mas é claro que o equipamento não faz o músico e ninguém deve ser completamente dependente de um para criar música.

Como é a vida em Berlim para você e Leah depois desses dois anos? É mais fácil (ou menos difícil) de ganhar a vida como um artista na Alemanha, fazendo turnês e tudo mais?
É muito mais fácil ser artista em Berlim do que em Toronto. O custo de vida é muito mais baixo e sair em turnê pela Alemanha e Europa é consideravelmente mais simples e mais gratificante, ambos nos termos de oportunidades e público. Muito mais do que no Canadá. Tem muita gente fazendo música interessante lá, claro, mas a população é um terço da população da Alemanha e as distâncias são muito maiores, então é um pouco difícil viver como artista no Canadá, principalmente se você está fazendo música experimental underground.

Publicidade

Seu último álbum solo, Already Drowning, é fantástico. De longe é um dos melhores álbuns do ano e posso dizer que é muito ambicioso, com tantas participações e pessoas diferentes nele. Você toca (ou pretende tocar) essas faixas nas suas performances ao vivo? Se sim, como isso funciona?
Eu tenho tocado alguma dessas músicas ao vivo, sim. Eu tive que rearranjá-las para o solo de guitarra e para minha própria voz, apesar de ter feito algumas performances com músicos de apoio que trouxeram suas próprias interpretações. As músicas são bem diferentes das versões do álbum, mas ainda são reconhecíveis, eu acho. A Gizeh Recordings, que lançou o Already Drowning, disponibilizou algumas gravações dos ensaiosaqui.

Conversamos muito sobre colaborações durante essa entrevista. Tem alguém com quem gostaria de trabalhar? Alguém que seria seu sonho de trabalhar?
Sempre tem pessoas que eu adoraria ter a chance de tocar ou gravar junto, mas acho difícil pensar em alguém que representa isso de “realização de um sonho”… Talvez o guitarrista alemão Caspar Brötzman, que sempre foi uma influência na minha técnica e som.

O Nadja lançou esse ano o Flipper, um álbum massivo e impressionante e agora você vai lançar o Queller em uma edição limitada pelo selo brasileiro Essence Music. Como que é trabalhar com esse selo?
Já tínhamos trabalhado com o Essence no álbum Autorpergamene e também com meu disco solo Noise of Silence. Nós definitivamente apreciamos a estética deles, o trabalho e o esforço colocados para criar uma embalagem única e especial para seus lançamentos. É muito bacana trabalhar com pessoas que colocam tanto cuidado nos seus lançamentos e também na música em si.

Publicidade

O álbum foi composto para esse lançamento especial ou era uma coisa que já estava em seus planos?
Nós gravamos o Queller especialmente para a turnê. Tínhamos um material que estávamos trabalhando há um tempo, mas no final abandonamos porque não ficamos muito felizes com o resultado. Nós abandonamos isso e gravamos as músicas do Queller em uma semana. Citando o Steve Albini: “Se um álbum demora mais que uma semana para fazer, alguém está fazendo alguma merda.”

Você vai fazer uma turnê no Brasil. Você gosta de algum artista ou banda daqui? (exceto o Sepultura heheh)
Tenho que admitir que eu não conheço muitas bandas brasileiras… exceto Sepultura… mas eu tenho certeza que vamos conhecer alguns artistas bons na turnê.

Tem muita gente hoje em dia que está começando projetos e descobrindo como trabalhar com música ambiente, noise, drone, fazendo gravações fora do estúdio e tudo mais. Que dica você daria para alguém que está começando? Referências, equipamentos, por exemplo.
As pessoas sempre me perguntam que tipo de equipamento elas precisam para fazer música ambiente, mas como já mencionei anteriormente, o equipamento não faz o músico. Então meu conselho é simplesmente começar a tocar. Experimente, faça um barulho, desenvolva um som, trabalhe em uma técnica… Música ambiente e experimental é muito mais sobre o processo do que sobre os sons que são produzidos.

Thiago Vakka é um headbanger que comanda as trevas no blog Intervalo Banger e na sua banda The Black Coffins. Siga ele no Twitter @Vakka.

Foto por Gabriel Che Shoykhet.