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Música

Uma pequena playlist de um cidadão comum para celebrar os 70 anos de Belchior ​

O rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior Antônio Carlos Belchior completou 70 anos de vida nessa quarta-feira (26).

​Você já quis sumir. Deixar de existir pra uma pá de coisas que, para você, nunca foram importantes. Deixar a realidade de caos e incertezas, futilidades e vidas plásticas, falhas emocionais e de caráter e se exilar em Marte. Vai falar que eu tô mentindo? Vai falar que eu estou vendo Black Mirror demais?

Só tenho conhecimento de um homem que, sem precisar se exilar em Marte, conseguiu desaparecer:  O rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior Antônio Carlos Belchior, que completou 70 anos de vida nessa quarta-feira (26).

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Era uma vez um homem e o seu tempo. Um homem que escolheu a vida como namorada. Um marginal bem-sucedido, amante da anarquia. Seu tempo avançou tanto que deu a volta no mundo e se tornou presente. Mas ele não está interessado em nenhuma "tiuria", em nenhuma fantasia, nem no "algo mais".

Quarenta anos depois de sua aclamada e elogiada Alucinação, os sites de música voltaram a afirmar seu status cult, como se nada preenchesse, no centro da sala, diante da mesa, o vazio na cadeira que Belchior, por um tempo, ocupara. Promovem tributos, shows de homenagens. Quando não tão românticos, defendem que Belchior já havia dado sinais de que estava "predestinado a desaparecer".

Enquanto isso, Belchior segue recluso. Não só para os fãs, mas também para a família, os amigos e o pessoal do Ceará.  As últimas notícias de terra civilizada que temos dele ainda são as mesmas da década passada, quando fora encontrado num país feliz, se esquivando de acusações sobre dívidas e processos judiciais e se dedicando a uma longa tradução de sua obra para o espanhol. O bahiuno não precisa que o digam de que lado nasce o Sol, "porque bate lá meu coração".

Então por que devemos comemorar seu aniversário? Nem sabemos se ele continua vivo! Na melhor das hipóteses ele está em sua rede branca, com seu cachorro ligeiro, bem distante das ondas tropicais e da vista da maioria, exercendo seu direito de tecer comentários a respeito de John ou de qualquer um que seja. E quando alguns artigos de jornal sobre seu septuagésimo aniversário soam mais como um obituário, Belchior prova que se tornou o cidadão comum que sempre esteve disposto a ser.

Pois é Belchi, você sumiu, mas seu passado, diferente de uma velha roupa colorida, já voltou a servir. Isso porque nós aqui, de vinte e cinco anos de sonho e de sangue e de América do Sul, ainda somos os mesmos e vivemos quase como nosso pais (exceto pela internet, é claro!), e é por isso que nós do Noisey preparamos um presente: selecionamos suas músicas mais tops e montamos uma playlist no Spotify que você pode ouvir abaixo. Parabéns Belchior, e obrigado.