Perguntei a amigos por que eles pararam de beber e usar drogas

FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Perguntei a amigos por que eles pararam de beber e usar drogas

“Cheguei num ponto em que percebi que tinha parado de ter qualquer esperança, sonhos ou objetivos.”

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Canadá .

No começo do ano, tentei ficar sóbrio durante o mês de janeiro. Os excessos das festas de final de ano me deixaram zoado e imaginei que uma semana sem substâncias seria uma boa oportunidade de limpar minha mente e recarregar as baterias. Apesar de não me considerar alguém que bebe muito, rapidamente percebi quanto da minha vida social girava ao redor do álcool. Mesmo que eu não enchesse a cara em toda festa na casa de alguém, jantar, encontro e até show ou filme, isso geralmente envolvia pelo menos um drinque. Minha tentativa de ficar sóbrio durou duas semanas. Desisti num aniversário de um amigo, quando um estranho me disse que eu estava cortando o barato da galera. Então fumei um e mais tarde tomei uma cidra.

Publicidade

Minha tentativa fracassada me fez pensar sobre sobriedade em geral. Acredito que o estigma contra o uso de drogas não ajuda em nada, e já tive experiências realmente positivas bêbado ou chapado, mas por causa de tendências ao vício e problemas de saúde mental na minha família, sempre estive muito consciente de quanto e com que frequência eu me entregava. Não pretendo parar com nenhum dos meus hábitos, mas sempre achei que poderia se quisesse. O fato de não ter conseguido passar um mês sem beber me fez reconsiderar isso. Também me fez querer saber mais sobre por que e como as pessoas ficam sóbrias.

Leia também: "Tratando o vício em drogas com ibogaína"

A maioria das histórias de sobriedade que eu tinha ouvido vieram de palestras na escola ou contos sensacionalistas na TV. As histórias abaixo vieram de conversas reais que tive com amigos sobre por que eles pararam de beber e usar drogas. Às vezes as histórias parecem muito maiores ou menores do que eu esperava que elas fossem.

Krissy Howard , escritora do The Hard Times

Desde a primeira vez que chapei eu soube que queria me sentir assim sempre que pudesse. Fumei um bowl com amigos, fomos para o shopping e lembro que rir demais. Sempre me senti desconfortável comigo mesma, tanto sozinha como com outras pessoas, então poder desligar essa ansiedade parecia a chave para uma vida melhor.

Tudo começou muito divertido e social. Inicialmente eu só bebia e fumava maconha. Ocasionalmente eu tomava ácido ou analgésicos. Com 19, injetei heroína pela primeira vez. Não me tornei viciada de cara, mas eu sabia que tinha adorado, e usava sempre que podia. Depois veio o oxy e o xanax. De algum jeito, consegui ter empregos durante todo esse período, mas foi ficando mais e mais difícil chegar na hora.

Publicidade

Depois de um tempo, eu não conseguia mais funcionar sem heroína e me sentia doente. Perdi o emprego. Sofri para pagar os aluguéis. Comecei a fumar crack. Eu ficava trancada no banheiro fumando por dias. Só saía para ficar olhando as pessoas pelo olho mágico da minha porta da frente. Raramente eu estava me divertindo, mas se parasse eu me sentia doente e não sabia mais o que fazer.

Lembro de estar na sacada do meu apartamento em Austin e pensar que aquela era minha vida. Eu ia morrer uma viciada e estava estranhamente de boa com isso. Racionalizei pensando que minha vida era atormentada pelo carma de outra pessoa. Alguém tinha feito algo realmente horrível centenas de anos atrás e sua punição foi reencarnar como eu. Senti que realmente estava cruzando a fronteira para o outro lado de alguma coisa naquele momento, como se realmente estivesse pronta para usar mais [droga] e morrer.

Meu corpo parou de funcionar como o de uma pessoa de vinte e poucos anos normal. Eu não menstruava por meses seguidos. Em certo momento pesei 40 quilos. Eu tinha feridas pelo corpo que não cicatrizavam. Meu corpo simplesmente não funcionava. O resto da minha vida também não. Manter relacionamentos de qualquer tipo era absolutamente impossível. Sem amigos. Sem dinheiro. Sem objetivos. Me afastei da minha família por um tempo.

Tive três overdoses, a última aconteceu no banheiro do meu pai. Aceitei ajuda simplesmente porque queria que meu pai se sentisse melhor. Mudei de volta para minha cidade Natal no estado de Nova York. Eu tinha a intenção de ficar sóbria, mas não funcionou assim. Eu estava em cima do muro naquele ponto, acho, e levei muito tempo para realmente me comprometer. Finalmente fiquei sóbria em 19 de maio de 2010. Estou em recuperação desde então.

Publicidade

Acho que a parte mais difícil é decidir fazer outra coisa nos momentos em que você quer desesperadamente chapar. Lembro que parecia que meus sentimentos iam me matar. Lembro de sentir que ia fisicamente pegar fogo se não comprasse um papelote ali mesmo. Depois de praticar tomar essas decisões diferentes por um tempo, a obsessão por chapar não era tão insuportável. Mas fiquei muito puta por não poder tomar um drinque com os amigos. Teve muita coisa que não pude fazer por um tempo porque álcool e drogas estavam ali e era tentador demais, como ir a shows e até dirigir por certos bairros. Não parecia assim na época, mas agora reconheço que foi ficando mais fácil quanto mais tempo eu não usava, e encontrei novos jeitos de lidar com as coisas.

Brian Finch , Ativista

Eu tinha treze anos e morava em Winnipeg, onde nasci, quando descobri que minha irmã fumava maconha. Imediatamente perguntei a ela se eu podia fumar também. Na primeira vez que fumamos, não senti nada. Fiquei desapontado. Mas guardei um beck para mais tarde. Meus pais eram divorciados e meu pai esqueceu de me buscar um final de semana. Chateado e magoado, peguei aquele outro beck. Fumei. Fiquei realmente chapado. Quinze minutos depois ouvi uma batida na porta e era ele. Ele me levou para uma apresentação de cães onde fiquei realmente paranoico. O efeito passou enquanto eu assistia a infinita competição de obediência. Quando voltei para casa, fui até o quarto da minha irmã e pedi mais maconha. Não parei mais depois disso.

Meu relacionamento com drogas continuou e se metamorfoseou com o tempo. Me envolvi na cena dos clubes gays e comecei a tomar MDA, o precursor do MDMA. O uso foi ficando mais hardcore. Comecei a vender drogas. Com o dinheiro vivi um tempo longe de tudo no sul da França. As coisas ficaram calmas nessa época. Achei que minha história com drogas tinha acabado. Voltei para casa. Fiquei bem por alguns anos até entrar num relacionamento abusivo com um viciado. Ele tinha o mesmo sobrenome daquele serial killer. Manson. Eu não sabia que ele era viciado até morar com ele. Ele morreu recentemente. Não faço a menor ideia se drogas estavam envolvidas.

Publicidade

Minha incapacidade de dizer não me levou a águas muito perigosas. As drogas foram ficando mais pesadas: primeiro GHB, cerca de mil dólares por mês. Depois metanfetamina. Qualquer coisa que a gente conseguisse arranjar. Cheguei a um ponto tão baixo que parei de me importar e tive minha primeira overdose. Parei de respirar. Percebi como era fácil morrer e tinha pensamentos suicidas. A pressão de ganhar dinheiro para pagar nossas drogas, que estavam custando milhares de dólares, era alta. Entrei para a indústria do sexo. Coloquei um anúncio em algum lugar e comecei daí. Eu estava fazendo muito dinheiro, viajando muito. Nova York e Amsterdã se tornaram meu segundo lar.

A coisa em ser um viciado é que tem essa voz muito alta na sua cabeça dizendo que você não tem um problema. Eu não era um viciado. Era fácil acreditar.

Leia também: "Por que a geração Z não curte beber ou usar drogas"

Tenho memórias enevoadas dessa época da minha vida. Conheci um outro garoto de programa em Manhattan e logo nos tornamos os dois principais acompanhantes de Nova Jersey. Acabei trabalhando por vontade própria como bartender numa Festa do Branco em South Beach. Chapado de metanfetamina, me vi num clube de fetiche de couro chamado Chains. Eu estava cheirando cocaína com o gerente no escritório. Eu estava usando apenas botas de cano alto e um anel peniano. Conheci muita gente desse jeito. Conheci um casal de motoqueiros tatuados e musculosos. Fiquei com eles por quatro semanas tendo conversado apenas uns dez minutos com eles. Nunca soube como acabei lá.

Tudo era ótimo no começo, mas aí veio a lenta morte espiritual. Eu era um homem de todo lugar e lugar nenhum com aquelas viagens. Me tornei parte de uma subcultura desatrelada da sociedade mainstream. Cheguei num ponto onde percebi que tinha parado de ter qualquer esperança, sonhos ou objetivos. Chamei isso de meu momento Peggy Lee.

Publicidade

A combinação de viagens e drogas pesadas afetou gravemente minha saúde. Voltei para Toronto para desmoronar e me levantar, só para pegar um voo e fazer tudo de novo. Eu estava viciado na coisa toda. Há consequências sérias para a minha saúde que duram até hoje. São coisas com que terei que viver para o resto da vida.

O processo de ficar sóbrio foi longo. O primeiro passo é o caminho da redução de danos. O primeiro passo que dei foi me livrar da metanfetamina, cocaína, GHB e ecstasy. O problema é que quando parei de usar drogas, também parei de ver os amigos que usavam essas drogas. Fiquei sozinho, sem ninguém para ocupar o lugar deles. Por um tempo me senti muito solitário. Comecei a usar o método dos doze passos. Dez anos depois, aqui estou. Foi muito duro chegar aqui. Não sinto falta de nada, exceto da ilusão de escapismo. Se pelo menos aquilo fosse real. Isso e a energia para sair e fazer coisas tarde da noite, mas estou ficando velho.

Chris Popadak, Baterista do Hawthorne Heights

No meu aniversário de 19, um dos meus colegas de apartamento me deu LSD de presente. Até aquele ponto da minha vida, eu só tinha experimentado maconha, mas naquela noite eu me diverti muito, e comecei uma relação séria com drogas que durou anos. Depois que comecei com LSD, acrescentei uma segunda droga, depois uma terceira e uma quarta, então não parecia assustador. Eu tinha gostado do ácido, então por que não tentar outras coisas?

Por volta dessa época, fiquei amigo de um grupo onde todo mundo usava heroína. Fiquei curioso. Lembro que a primeira vez que pedi para um cara comprar para mim ele disse não. Ele continuou dizendo não por um tempo. Ele disse que não queria ser o responsável por criar um viciado. Acabei dizendo que se ele comprasse um papelote para mim, eu compraria um para ele também. Malditos viciados. Ele concordou e como com todas as drogas que experimentei, adorei heroína.

Publicidade

Eu tinha sorte ou azar de ter muitos junkies na minha vida. Eu vi os aspectos ruins logo no começo, e por muito tempo isso me impediu de ser sugado para aquele mundo. Eu tinha um hábito clássico de final de semana. Continuei assim por anos, então estava convencido de que tinha tudo sob controle, mas pensando agora, eu mal estava sobrevivendo. Não conseguir pagar as contas, ser despejado de apartamento atrás de apartamento. Ainda assim, eu sempre conseguia dinheiro para chapar ou encher a cara. Dói pensar como eu estava sendo egoísta.

Por anos o foco real da minha vida foi andar de skate e chapar de algum jeito. Eu tocava em bandas aqui e ali, e tinha na cabeça que queria aperfeiçoar minha bateria, mas em alguns momentos minha vida estava tão zoada que eu nem conseguia manter um kit de bateria em casa. Eu estava à deriva. Tem várias histórias que eu poderia contar, mas para ser honesto, o principal disso tudo foi uma grande perda de tempo.

Leia também: "Dá para reverter os efeitos de longo prazo das drogas com exercício, alimentação saudável e vitaminas?"

As mudanças vieram lentamente. Duas coisas que realmente me influenciaram nisso: eu vi que estava destruindo meu relacionamento com meu filho. Lembro quando ele era só um bebê, com uns dois anos. Um dia ele estava chorando, como todo bebê faz, e eu estava muito puto com ele porque não conseguia lidar com o barulho. Eu não conseguia lidar com o choro do meu filho e estava puto com ele. A ficha caiu na minha cabeça e eu soube que isso não tinha nada a ver com meu filho. As drogas me deixavam de pavio curto e irritado. Esse foi o começo de perceber que eu realmente tinha um problema. Não parei de usar drogas naquela época, mas comecei a cortar certas substâncias, uma por uma. Logo depois disso, tive um final de semana de balada pesada, e acordei me sentindo horrível. Percebi que tinha pago para acordar me sentindo na merda. Essa foi a última gota, e eu tomei a decisão de largar tudo de uma vez ali, e isso é algo que ficou comigo desde então.

Quando parei de beber e usar drogas foi quando realmente levei a sério me tornar um músico. Eu estava numa banda com dois caras que eram straight edge. No começou eu tinha alguns sentimentos negativos contra caras straight edge, baseado em experiências passadas, mas eles me mostraram o lado positivo do straight edge que nunca conheci.

Publicidade

Não vou me chamar de militante, mas sou contra qualquer uso de substâncias neste ponto. E a comunidade straight edge tem sido muito positiva para mim. Sinto que para qualquer um querendo largar qualquer substância, a pessoa precisa estar num ponto onde realmente odeia o que está fazendo. Largar as drogas não é só não usar. Você pode ter que cortar laços com pessoas que chama de amigos, e realmente cortar muita energia negativa.

Marilla Wex , correspondente estrangeira do The Beaverton

Ficar sóbria parece um negócio realmente cabeludo antes de você realmente fazer isso. Antes de tomar a decisão, eu achava que tinha que acontecer alguma merda realmente grande para chegar ao fundo do poço e decidir parar de beber. Acho que eu tinha assistido episódios demais de Intervenção. Aí falei com um amigo que me disse que percebeu que chegar aos 40 bebendo estava deixando ele deprimindo. E me identifiquei com aquilo.

Notei que a reação do meu corpo ao álcool tinha mudado dramaticamente — parecia que eu ficava bêbada muito mais rápido. Eu ficava agressiva e tinha as piores ressacas. Tive que fazer algumas tentativas, mas acabei fazendo a ligação de que a parte divertida de beber não compensava as horríveis consequências físicas. Para mim, o processo de ficar sóbria foi uma questão de me decidir. Sem AA, sem 12 passos, sem Jesus. Só perceber que eu não queria mais a paranoia, a depressão e me sentir fora de controle.

Publicidade

Parar de beber foi uma das melhores coisas que fiz para mim mesma. Posso acordar de manhã, lembrar das coisas da noite passada e não ser sugada pela paranoia de "Merda… será que aquela pessoa ficou ofendida? Fiquei parecendo uma idiota? Eu parecia bêbada?" Sou dona do meu comportamento porque sei que estava totalmente sóbria.

Dito isso, a parte mais difícil de parar de beber é a reação das outras pessoas. Sempre fui muito insegura, e aguentar as provocações teria sido impossível aos 20 poucos anos no Reino Unido. Mas na minha idade e no Canadá é mais fácil, mas ainda tenho que ouvir os comentários mais escrotos: "Seu eu bebo, você também bebe! Você já se divertiu alguma vez na vida? E maconha, e cocaína? Como a gente vai transar desse jeito?" Não me considero uma alcoólatra, mas às vezes me sinto tentada a responder a essas babaquices dizendo "Sabe, já é difícil resistir à bebida todo dia sem otários como você tirando sarro de alcoólatras".

E sendo honesta aqui: podemos falar sobre a falta de bebidas sem álcool descentes nos bares? Sei que esse é um problema estúpido de primeiro mundo, mas ter que pagar 10 paus por uma Coca de máquina sem gás é um chute no saco. Se estou num bar descente peço um drinque virgem misterioso, e um bom bartender vai gostar do desafio de preparar um drinque no qual você tem que adivinhar os ingredientes. Uma vez me apresentei num bar onde eles tinham uma torneira de kombucha. Achei que tinha morrido e ido pro céu. Às vezes sinto falta do gosto da cerveja, mas a kombucha é muito bom porque você tem o gosto de levedura e a efervescência do gás.

Publicidade

Felix Hagan, Vocalista do Felix Hagan and the Family

Nunca vi a bebida como um prazer em si. Era um meio de ficar bêbado. A ideia de beber pelo simples prazer era completamente alienígena para mim, mas eu gostava da sensação de estar bêbado, o calor morno nos ossos, a sensação de conforto e a confiança que isso trazia. Na puberdade, eu me sentia constrangido e infeliz no meio das pessoas, e descobri que bebendo eu podia ser simpático e divertido. Foi por volta dessa época que fiquei seduzido pela ideia do artista bêbado. Eu não via problema nenhum em beber sozinho. Mas em vez de escrever grandes romances ou compor ótimas músicas, eu estava assistindo do DVD do Senhor dos Anéis com comentários. Eu só estava fingindo que era aquilo que eu idolatrava.

Leia também: "Nunca Vi Ele Bêbado": uma Entrevista com o Editor de Charles Bukowski

Minha primeira banda depois do colégio foi uma queda súbita na realidade de shows em clubes de verdade. Me joguei com tudo no hedonismo, como se tivesse que ser o arquétipo sem sentido do rock star bêbado. A apresentação era apenas uma pequena parte disso. Eu queria a festa, eu queria aventura, eu queria ser a estranha caricatura heroica que eu tinha inventado. Apesar de sair do palco pensando que tinha arrasado, fico constrangido lembrando disso agora. Já vi filmagens da coisa inchada e balbuciante atrás do microfone, perdendo as notas e ocasionalmente caindo no chão.

Apesar de ver agora quão horrível eu era no palco, os shows pareciam gloriosos. Mas a questão de viver como um alcoólatra é que as partes boas são apenas ilhas num mar de esquecimento cinza. Cheguei ao ponto de beber até desmaiar todo dia. Meu primeiro ano na faculdade foi um desastre. Me acostumei a deixar uma taça de vinho cheia ao lado da cama, para virar quando acordasse e conseguir funcionar, depois levar uma garrafa de Sprite com gim para as aulas. Meus pais foram os primeiros a apontar quão destrutivo meu hábito de beber tinha se tornado. Eles começaram a trancar o armário onde guardavam as bebidas da casa. Quando achei a chave, eles instalaram um cadeado com combinação.

Publicidade

Essa guerra armamentista culminou num dia em que acordei no chão coberto de sangue. Aparentemente eu estava dirigindo um quadriciclo no jardim, completamente bêbado, e entrei direto numa grande cerca de arame farpado. Tenho as cicatrizes do acidente nos braços até hoje. Deixei o quadriciclo preso na lama, depois tentei puxá-lo com um carro até que ele atolasse também. Quando entrei em casa, usei um machado enorme para abrir o cadeado de combinação e bebi todo o gim que tinha lá. Meus pais chegaram em casa e me acharam completamente destruído, chorando; mesmo assim continuei bebendo.

Foi minha namorada que finalmente conseguiu me guiar para o processo de sobriedade. Ela foi mencionando meu hábito com o álcool gradualmente depois de uma série de incidentes. Ela disse que notou que algo estava errado quando me deixou numa estação de trem e eu comprei uma garrafa de vinho e uma de vodca para a viagem, o que mais tarde ela descobriu que não era uma brincadeira. A última gota foi quando estávamos na casa dos meus pais, e devíamos voltar para casa dirigindo naquela noite. Quando ela foi tirar um cochilo, secretamente bebi duas garrafas de champanhe para parar de tremer. Foi só quando devíamos dirigir de volta para casa que ela notou quanto eu estava bêbado. Ela ficou de coração partido e voltou sozinha de trem para casa. Não era mais divertido. Eu tinha 21 anos e entrando na reabilitação pela primeira vez dois dias depois.

Passei cinco semanas naquele lugar (menos um dia muito estranho em que saí para tocar com a minha banda da época no nosso primeiro show em Glastonbury) aprendendo como existir sem bebida. A parte mais difícil foi quando deixei a segurança da clínica. Na minha cabeça, eu estava procurando uma desculpa para ter uma recaída. Três meses depois que saí da clínica, eu ia fazer um show e cheguei mais cedo no Water Rats em Kings Cross. O lugar tinha aquele cheiro de pub, aquele aroma glorioso de cerveja velha que se infiltra no cérebro, e assim acabei bebendo tanto quanto antes. Dessa vez bebi em segredo. Eventualmente meu pai me achou tropeçando no caminho para casa. Foi uma das poucas vezes que o vi chorando. Na segunda vez na reabilitação, a ficha realmente caiu. Isso foi há oito anos e meio.

Ter a mente limpa me permitiu parar de fingir ser um músico e realmente me tornar um. Como com qualquer coisa, para se tornar bom em algo, principalmente algo criativo, você precisa de autocontrole e disciplina. E foi isso que aprendi através do meu processo, apesar de não sentir que sou realmente responsável pela minha recuperação. Foram as pessoas ao meu redor, minha família e amigos, a equipe maravilhosa da clínica e as pessoas do AA. É um processo. Cada viciado tem uma história sobre o que o levou até aquele ponto, mas todos têm praticamente a mesma história sobre como melhoraram.

O maior erro da mente de qualquer viciado é achar que você está sozinho. As comunidades do AA, NA e Al-anon estão bem na sua porta, e sem as pessoas do AA eu não estaria aqui agora. Ficar sóbrio é muito difícil sozinho, mas nunca precisa ser assim. Eles têm reuniões todos os dias, em todo lugar. A ajuda, o amor e o apoio estão ali. Você só precisa procurar.

Primeira imagem cortesia de Krissy Howard.

Graham Isador e um escritor que mora em Toronto. Siga o cara no Twitter .

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.