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Música

Adeus, Júpiter Maçã

O músico gaúcho Flávio Basso embarcou, nesta segunda (21), aos 47 anos, em sua viagem mais louca: rumo ao desconhecido.

Foto por: Sidd Rodrigues

Flávio Basso, o roqueiro gaúcho que se apresentava com o pseudônimo Júpiter Maçã, tido por muitos como o "Syd Barret brasileiro", morreu nesta segunda (21), aos 47 anos. A notícia que corre é que o artista encarava um tratamento contra a cirrose e outras complicações de saúde ocasionadas pelo consumo de drogas, e andava sumido dos ensaios já havia um mês — mesmo com uma apresentação marcada para este domingo (27) em Porto Alegre. A informação da família, no entanto, é de que ele bateu a cabeça depois de escorregar no banheiro de casa, foi hospitalizado, porém não sobreviveu. Irônico que Basso não tenha resistido a uma queda no banheiro: não faz muito, em 2012, ao cair do segundo andar do prédio onde morava, apenas quebrara o punho e a costela. Basso era vocalista, guitarrista e compositor.

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O músico ficou conhecido no mundo do rock como integrante das bandas TNT e Os Cascavelletes. Ambos os grupos, surgidos entre os anos de 1985 e 87, respectivamente, foram responsáveis pela abertura do mercado nacional para a chamada "invasão gaúcha", ao lado de bandas como Os Replicantes, Engenheiros do Hawaii, DeFalla e outros expoentes registrados na histórica coletânea Rock Grande do Sul, lançada em 1985. Naquela época as influências de Basso eram o rock dos anos 1950 e o mod do começo dos 60. Porém, mais tarde, em 1997, seis anos após o fim do Cascavelletes, ele atraiu holofotes para a sua carreira solo. Primeiro, tentou uns experimentos como Wood Apple, arranhando uns folks no violão. Não aguentou e voltou às guitarras, mergulhando na vertente que o fez realmente famoso, a psicodelia.

Foi quando gravou o clássico do rock nacional A Sétima Efervescência, diretamente influenciado por Syd Barrett e o primeiro disco do Pink Floyd, The Piper at the Gates of Dawn. Ele não escondia de ninguém o deslumbramento com o LSD e outras drogas lisérgicas, e que buscava nelas sua essência criativa. Assim nasceram faixas como "Um Lugar do Caralho" e "Essência Interior". Depois, veio Plastic Soda, de 1999, um disco mais introspectivo, com influências da bossa nova e da canção francesa, e a sua pecha de doidão emplacou para sempre. Júpiter Maçã se foi sem concluir o álbum de inéditas no qual trabalhava, o primeiro desde Uma Tarde na Fruteira (2008), com o qual ele planejava um retorno ao folk rock.

A última coisa do Júpiter que saiu foi o DVD ao vivo Six Colours Frenesi, em 2014. E as últimas apresentações destacadas rolaram no Rock in Rio de 2011 e na Virada Cultural de São Paulo deste ano. Um rápido giro pelos posts das redes sociais revelam que a imagem de tresloucado e alcoólatra, ainda hoje, compete com os comentários elogiosos a respeito de sua relevância na música. Talvez porque ele mesmo tenha criado essa caricatura para si: sua presença na mídia sempre fora mais ultrajante do que cativante. Júpiter Maçã estava frequentemente causando com a moral, as mulheres e os bons costumes. Não à toa, o som do Cascavelletes chegou a ser descrito como "porno rock".

Todo mundo sabe quem era o loucão do Júpiter Maçã. Mas nem todos manjam realmente de seu legado musical. Aconteceu com todos os ícones do rock que se propuseram a arriscar a pele, a alma e a sanidade em nome da provocação. Com o Júpiter não podia ser diferente. Estranho demais para viver. Raro demais para morrer. A perda de um artista é, em todo caso, sempre um motivo para reavaliar sua produção e sua importância. E você, que continua vivo e consciente, ainda pode dar um time com a Adele e escutar A Sétima Efervescência antes de partir.

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