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Música

Ouça o disco do Vitor Colares e mergulhe no breu dos pensamentos noturnos

O compositor fortalense se inspira na escuridão poética de Zé Ramalho para misturar sonho, realidade, silêncio e barulho no novo trabalho, que sai pela Banana Records e Suburbana Co.
Foto: Clara Capelo/Divulgação

"Eu Entendo a Noite Como um Oceano que Banha de Sombras um Mundo de Sol" já não é mais só o primeiro verso de "Beira Mar", clássico de Zé Ramalho, gravado em 1979, para o álbum A Peleja do Diabo com o Dono do Céu. Em 2017, o verso ressignificado dá nome ao novo trabalho do cearense de Fortaleza Vitor Colares, lançado pela Banana Records em parceria com a Suburbana Co., que estreia com exclusividade no Noisey nesta quarta (11).

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Este nome não é à toa. Vitor, que se considera um grande fã do compositor, diz que foi em "Beira-Mar" que pescou as referências para o disco. "Desde que prestei realmente atenção nessa imagem eu quis usá-la neste disco, que pra mim significa um mergulho nessa atmosfera meio soturna". O verso dá o tom das oito faixas que compõem o álbum, terceiro de sua carreira solo. "Sinto-me mais à vontade sob este misticismo, de certa escuridão e sombras, mas que pode ser um lugar pessoalmente sentimental também".

As canções, que transitam ora entre paisagens sonoras poluídas, ora entre acordes simples, de tonalidade fúnebre, se assemelham ao momento em que estamos sozinhos, atentos aos pensamentos que precedem o embalo do sono profundo. Para Vitor, este lugar metafórico é "confuso assim" porque é uma mistura "de sonho e realidade, de silêncio e barulho".

Ele ainda conta que o disco é resultado de um longo processo de insatisfação e mudanças, que começou em 2013, quando ele se viu infeliz com o resultado da primeira gravação. "Foi difícil assumir que eu tinha que desistir daquela gravação toda e que ela era só parte do processo. Gravei com uma banda inteira me acompanhando e, quando ouvi, decidi que não queria lançar aquilo. Na época o título era outro, quase tão grande quanto ("Eu Prevejo uma Noite em que Ficará Até Mais Tarde"), e já tinha a noite no nome."

O curioso é que daí vieram as noites e noites pra "desconstruir o que haviam levantado". "Durante o processo de gravação eu comecei a perder o interesse pelo resultado. Daí fui entrando numas crises sobre o disco, sobre algumas destas músicas, se queira realmente gravá-las e tal… até que deixei de tocar acompanhado por um banda e passei a me apresentar sozinho. Aí foi o mergulho pra redescobrir estas músicas". Então, Vitor recompôs boa parte do álbum sozinho, contando apenas com as participações de Guilherme Mendonça, para as baterias, e Rodrigo Colares, que gravou sintetizadores em duas faixas. Para a capa, Vitor contou com a ajuda de Diego Maia.

Hoje, Vitor se sente satisfeito e confiante: "Acredito que foi necessário passar por isso para ficar como ficou. É um disco que certamente expressa mais o meu íntimo do que qualquer outra tentativa de gravá-lo. Espero poder conseguir apresentá-lo ao vivo, com os rapazes, e também prensá-lo em vinil num futuro próximo".

Ouça Eu Entendo a Noite Como um Oceano que Banha de Sombras um Mundo de Sol no player abaixo ou vai lá no Bandcamp do Vitor e apoie a cena local de outros locais.