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Música

Entrevistando o Exhale The Sound: Subterror

O trio brasiliense faz um death-crust de sangrar o nariz e é uma das 24 atrações do festival Exhale The Sound.

[Atualização: Na tarde desta terça (7), o Subterror informou ao Noisey que cancelou a participação no festival Exhale the Sound devido a problemas com a organização do evento. Procurados pelo Noisey, eles não deram mais detalhes sobre o cancelamento.]

O crust metalizado do Subterror está para o underground dos dias que correm assim como as ações dos guerrilheiros do Tupac Amaru estiveram para o governo peruano nos anos 1990. “O que diabos esse paralelo tem a ver com música?”, alguém pode querer refutar. Tem a ver que fazia um tempo que não pintava no rolê uma banda com espírito tão incendiário quanto esse trio brasiliense. O discurso redondo, equilibrado entre o existencial, o filosófico e o político, e a latente qualidade das composições aludem a nomes tipo Hellshock, Doom, Instinct of Survival, Disrupt e Massgrave.

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Formado em 2009 como um quarteto, hoje a banda permanece com o Luan no baixo e no gogó, o Harry na guitarra e o Samuel na bateria. De lá pra cá, os malucos já lançaram a demo/mini-CD Desespero (2011) e dois splits: um em 2012, com o Do You Think I Care, e outro no ano passado, com o Defy. O primeiro álbum, de fato, segue no momento em fase de produção, e o lançamento já está garantido pela Black Hole Productions.

Ao lado do Expurgo, ROT, Facada e O Cúmplice, eles representam a ala anti-música do festival Exhale The Sound, que rola agora nos próximos dias 10 e 11 de outubro em Belo Horizonte, no Espaço CentoeQuatro. Ao todo, o line-up traz 24 bandas nacionais. Evento imperdível para quem curte uma sonzeira barulhenta. Cata só o papo que tive com os caras:

Noisey: Depois de três plays arrebatadores, podemos contar com um lançamento em breve do primeiro full-lenght do Subterror? Ouvi dizer que vocês assinaram com a Black Hole Productions. É isso mesmo? Como o selo entrou no esquema e chegou até vocês?
Samuel: É isso. Nosso contato com a Black Hole se deu através do Fernando Camacho, que é a cabeça por trás desse esquema. A gente já vinha conversando há um tempo e acabamos fechando essa parceria. Se tudo correr como o previsto, o disco sai em outubro. Caso isso não aconteça até lá, a única certeza é que será ainda esse ano. Estamos nos esforçando pra lançar o quanto antes, até porque a intenção é levar pra BH.

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Tenho notado umas paradas hc/crust/punk/grind muito legais vindas de Brasília nos últimos tempos… Existe um cenário underground despontando na região? Com que outras bandas vocês costumam tocar/firmar parcerias por aí?
Samuel: Acho que afirmar que há uma cena underground despontando já seria demais. Que me perdoem aquelxs que colocam toda a vida nessa esfera, mas o que temos aqui é uma rede de amigos que, quando possível, fazem shows, trazem bandas de fora, e continuam botando pra frente. Claro que digo isso a partir da vivência que temos, então acaba sendo uma visão bem particular. Brasília tem muita banda legal, porém falta espaço pra show. Acho que não é um problema que só exista aqui. Mesmo assim temos o pessoal doido de sempre que tá se aventurando nesse esquema, tomando prejuízo, mas fazendo acontecer. E isso já é uma coisa maravilhosa. Não posso deixar de citar o Fellipe CDC, o Barbosa, ambos do Terror Revolucionário, o Roldão, da Kill Again Records, Lamim, e uma outra galera que ultimamente está fazendo vários shows na rua com um gerador: Pícaro da Raw Records, Coletivo Hail Chaos; de banda, temos a Soror, Considered Dead, Gracias Por Nada, Omfalos, Miasthenia. São xs amigxs mais próximxs.

A cena rock de Brasília ainda guarda alguma relação ou tradição com aquelas bandas da época do Legião? Vocês têm algum respeito por esse rolê ou acham que tudo aquilo foi uma grande coisa de playboy metido a besta?
Samuel: A gente nunca fez muita questão de se envolver com esse meio. O que podemos falar é da nossa perspectiva, estando fora desse espaço. Não temos simpatia nenhuma com essa tradição de Brasília. A maioria das bandas "tradicionais" da cidade, ou grande parte daquelas que tiveram destaque nos anos 1980/90 e que residiam de fato em Brasília, sempre foram meio alheias a tudo, além de assumirem um discurso bem voltado pra uma política da boa vizinhança. Então, no final das contas, só queriam agradar a gregos, troianos, e claro, tirar uma grana. Se um ou outro queria ser poeta, cantar em italiano ou limpar a sujeira política da cidade, morreu tentando. A impressão que temos é que não rolava envolvimento com o que acontecia nas cidades em volta de Brasília, na periferia mesmo. Nessa mesma época já rolavam vários punks no Gama, Cidade do Besthoven, Ceilândia e outras. A impressão que fica disso tudo é que eram eles lá e a trupe do Legião aqui em Brasília. Outro problema é que se essa tradição era, ou ainda é, romantizada, logo em seguida apareceu uma onda hardcore cheia de ironia, com umas piadas terrivelmente sexistas ou um humor que só agrada quem tá isolado numa bolha. E não precisa voltar muito no tempo pra encontrar exemplos. Hoje ainda tem banda aqui cantando sobre matar a sogra, ser o “terror das empregadas" e visitar puteiro em João Pessoa. Coisa que é lamentável.

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As músicas mais recentes de vocês, que ainda não ganharam lançamento oficial, têm uma pegada ou influências diferentes em relação àquilo que já conhecemos?
Harry: Continuamos com a mesma pegada de som do último lançamento (split 7” com a Defy) e de algumas músicas que já tocamos há um tempo nos shows. Crust com uma veia metalizada.

Numa das capas do Subterror estampa-se os dizeres de que seres humanos nunca deviam ter evoluído. O que há exatamente por trás desse discurso? Parafraseando o Olho Seco, haverá futuro em meio a tanta crueldade, preconceito, guerra e destruição causada pela nossa espécie ao planeta, aos animais não-humanos e aos nossos próprios semelhantes?
Samuel: É uma frase um tanto ampla, então eu poderia atirar pra qualquer lado. Nosso pensamento por trás dessa frase não é pensar o futuro, é pensar o agora, um agora sem saída. Trata-se da condição humana, condição e não natureza, esse papo de natureza é ridículo. Me refiro a uma condição que carrega uma culpa e só é possível no fracasso; condição que por si só, é incurável. Essa ideia de "evolução" infelizmente carrega consigo uma ideia de progresso, mas a partir da nossa interpretação, vemos o termo como a tentativa humana de se ajustar ao mundo, antropomorfizando, ou, em última instância, humanizando o mundo. Disso surgem as pretensões de verdade, essa valorização extrema da razão, como se tudo pudesse ser atingido e desvelado, como se as coisas externas a nós pudessem se ajoelhar e nos dar um sentido. Muita gente chama isso de progresso. Progresso e sentido pela ciência, pela religião, pela moral, razão e linguagem. Então é por meio dessa ideia que afirmamos que os seres humanos nunca deviam ter evoluído. Mas chegamos aqui, e agora?

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Quem geralmente faz as artes das capas do Subterror? Rola uma parceria legal com algum artista que vocês admiram ou se identificam?
Samuel: Não temos ninguém específico. Até agora, todas as capas carregam ilustrações de alguém diferente. Mas a identificação é um processo importante pra escolha da arte, sim. Tanto o Hugo Silva (Abacrombie Ink), que já desenhou para várias bandas, como o Stiv (StivArt/Visions of War) e o Augusto Miranda, da finada O Mito da Caverna, além de desenharem muito, sempre tiveram uma certa concordância conosco, seja pelo conceito da banda ou pelo espaço que compartilhamos. Acabamos fazendo grandes amigos nessa troca.

Os integrantes do Subterror vêm de outras experiências musicais?
Samuel: Antes do Subterror nós não tínhamos nenhuma experiência com banda, nosso envolvimento e experiência se deram marcando presença em shows e pelas amizades que fizemos. Grande parte do pessoal aqui começou a frequentar gig no final do boom trash metal/crossover, não lembro exatamente quando rachamos com isso e afundamos no crust/death/grindcore, mas foi uma coisa bem abrupta. É como se no meio dessa sujeira toda nós tivéssemos encontrado um canto mais fedorento pra se sentir melhor. Não que antes não fosse assim. Também participei por pouco tempo do Coletivo Caga Sangue Trash aqui em BSB, então pude ver muita coisa legal, pelo menos entre o período de 2006-10.

Vocês sempre tocaram/curtiram som extremo ou curtem também uns lances diferentes, de repente até mais na manha?
Samuel: Bom, acho que cada membro aqui tem uma preferência. Eu gosto muito de funeral doom, folk, e até um industrial/eletrônico. O Harry gosta muito de alguns eletrônicos também, uns Smashing Pumpkins, etc. Já o Luan gosta de black metal e algumas coisas mais experimentais, tanto que um projeto paralelo ao Subterror, o Kurgan, é uma mistura doida de d-beat e black metal, às vezes com uma pitada de doom. Acho que se fosse o caso de montar outra banda, com um estilo mais experimental, não teríamos problema algum. Nossa simpatia com a sonoridade que fazemos só é maior porque a gente sente que nela podemos expressar com sinceridade o que sentimos.

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Como vem sendo o processo de gravação do álbum do Subterror? Vocês gravam em digital ou analógico, tudo junto ou separado? É preciso ter uns instrumentos/equipo muito foda pra obter o som enérgico e pesado que vocês fazem?
Harry: Processo um pouco cansativo, mas que está dando resultados que estamos gostando. Fizemos a captação com equipo em estúdio saindo para um computador. Com certeza, é preciso, sim, selecionar certos equipos para atingir potência e peso, pois infelizmente não é qualquer equipamento ou instrumento que atinge tais características.

O Violator é uma banda que teve uma importância especial para a formação de vocês em algum aspecto?
Samuel: Com certeza, teve. Sempre mantivemos uma amizade legal com os caras, conversamos muito sobre bandas, organização e outras coisas. Pouca gente sabe, mas foi o Capaça [guitarrista do Violator] que ajudou a gravar nossos dois primeiros lançamentos. Ele também fez a mix e a master. O primeiro convite para show também partiu de um coletivo que contava com integrantes do Violator, o Caga Sangue Trash. Então só temos que agradecer o empurrão que o pessoal nos deu.

A banda começou como um quarteto e hoje é um trio, certo? A ideia é manter as coisas assim agora?
Samuel: A ideia é manter assim. Menos gente, menos problema. Quando éramos um quarteto ficava mais difícil bater os horários e organizar as coisas dentro da banda. Hoje ainda é, mas a gente se entende melhor. Acho difícil alguém aguentar a conduta e assiduidade do Subterror.

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O que vocês têm de novo ou diferente na manga para esta edição do Exhale?
Samuel: Vamos tocar as dez músicas novas que vão sair no CD e provavelmente algumas velhas. De resto, só mais do mesmo, celebrando o fim. Nada de cuspir sangue, eu espero.

Som de doido pra pogar e banguear é aqui mesmo:

Entrevistando o Exhale The Sound: Son of a Witch

Entrevistando o Exhale The Sound: Cätärro

Entrevistando o Exhale The Sound: Carahter

Entrevistando o Exhale The Sound: Ereção de Elefante

Entrevistando o Exhale The Sound: Herod

Entrevistando o Exhale The Sound: Chakal

Entrevistando o Exhale The Sound: ROT

Entrevistando o Exhale The Sound: Abske Fides

Entrevistando o Exhale The Sound: Expurgo

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Exhale The Sound 2014

Dia 10/10, a partir das 19h; 11/10, a partir das 15h.

Espaço CentoeQuatro. Pça Ruy Barbosa, 104, Centro, Belo Horizonte/MG.

Ingressos: R$ 20, para o dia 10; R$ 35, para o dia 11; R$ 45, para os dois dias.

À venda no Espaço Veg: R. Fernandes Tourinho, 441, Savassi, Belo Horizonte.

Pela internet: Sympla / Noise Stuff