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Música

‘Stripped’, da Christina Aguilera, É um dos Álbuns mais Feministas dos Anos 00

Stripped veio carregado de girl power para qualquer um que quisesse escutá-lo sem preconceitos.

Concordem ou não, a música pop está diferente, pelo menos no espectro feminino do lance. Beyoncé fez um álbum declaradamente feminista, Rihanna faz todos os haters tremerem com seu Instagram (que voltou em novembro) cheio de festas e transparências e até mesmo a Miley Cyrus, com seu twerk polêmico, conseguiu colocar na roda discussões sobre a hipersexualização do corpo feminino. Tem que melhorar? Certamente. Mas devemos admitir que está melhor que antes.

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Antes, pra mim, são os anos 2000, quando eu era apenas uma piveta, fã incondicional de Bikini Kill, que detestava tudo que tinha a palavra “pop” no meio (ok, exceto pop punk). Na época eu boicotava a música pop com todas as minhas forças porque me parecia que as musas do gênero precisavam ser magras e lindas. Sem contar que nessa mesma década veio uma desgraça musical machona chamada new metal. Homens de dreads dominaram as paradas das rádios e da MTV. Seu amiguinho do colégio achava massa curtir SoulFly. Até eu achava mais legal ser o Chino Moreno do que a Britney Spears.

Só que uma coisa chamou atenção. A Christina Aguilera lançou o seu quarto álbum, Stripped, em 2002. Talvez você se lembre dele porque o look que ela assumiu era bastante controverso, especialmente no vídeo “Dirrty”. Uma coisa meio pré-Ke$ha. Além disso, foi na turnê desse mesmo álbum, durante a apresentação de um VMA Awards que Xtina deu um beijo na Madonna (que depois beijou a Britney).

Stripped veio carregado de girl power para qualquer um que quisesse escutá-lo sem preconceitos. Você pode não curtir a Christina Aguilera, mas vamos admitir que na época não tinha muita mulher famosa disposta a bancar a feminista mala (que é como somos chamadas até hoje) na MTV.

Não que Aguilera estivesse sozinha nessa parada de girl power. No mesmo ano, a Missy Elliot lançou o maravilhoso Under Construction, mostrando (de novo, como sempre) que rap não é um lugar exclusivo de homens. Inclusive, Missy fez uma participação na versão de “Lady Marmelade” gravada para a trilha de Moulin Rouge, junto com Christina, Lil’ Kim, Pink e Maya. Além disso, sempre temos uma Madonna da vida desafiando as leis sociais da idade e gênero, se reinventando a cada cinco anos.

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Poderia ser apenas mais um álbum estilo “eu não sou mais uma garotinha”, mas não é. É claro que, em Stripped, Xtina quis se livrar da imagem da loirinha angelical que canta “Genie In The Bottle” e parece uma fadinha que não peida. Vimos o mesmo padrão com o Justin Timberlake e com a Britney Spears (que lançou o hit “I’m a Slave 4 U”). Porém, na minha opinião, Christina foi a ex-Turma do Mickey que mais quis dar algum significado para sua carreira. E conseguiu: o álbum veio carregado de mensagens para todas as mulheres. É acolhedor e sexual, tudo ao mesmo tempo. É o disco pop feminista da década passada.

As intenções de Aguilera ficam bem claras assim que o álbum é colocado para tocar. Além da intro, que dá o papo reto do que o ouvinte vai encarar, a faixa “Can’t Hold Us Down” vem logo em seguida arrebentando. E nossa, que faixa.

Na real, esse artigo poderia ser só sobre essa música. O clipe também não deixou a desejar, com Xtina, de shortinhos e top, atravessando uma rua movimentada no gueto de NY e recebendo um belo de um beliscão na bunda de algum mano. Assim começa a discussão e música. “Por acaso não posso ter uma opinião?”, ela começa. Logo um monte de mulheres começam a se juntar e discutir com os caras.

A música não fala de estupro, mas o clipe passa a mensagem sem massagem, visto que não é de hoje (e nem do século XX) que o estupro e o assédio são justificados pelo fato da mulher usar roupas provocantes.

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Christina segue questionando os padrões duplos que existem em relação ao sexo. A velha história do homem que é endeusado se come 40 mulheres, mas a mulher que transou com 40 caras (ou até 5) é chamada de vadia. O que Christina propõe para combater isso? União.

All my ladies come together and make a change/Start a new beginning for us everybody sing. (“Minhas garotas, vamos chegar e mudar as coisas/ Um novo começo para todas cantarem”)

Ela repete isso no refrão. Tá pouco de sororidade pra vocês?

Take a deep breath and say it loud
Never can, never will, can't hold us down
Spread the word, can't hold us down

[“Respire fundo e diga em voz alta/ Nunca, nunca poderão nos deixar pra baixo/ Conte pra tudo mundo, não vão nos deixar pra baixo”]

Há quem diga que um dos versos da música foi para o Eminem, que deu uma zoada com a Christina em uma de suas músicas. (Inclusive, na mesma década ele resolveu fazer a mesma coisa com a Mariah Carey, que em resposta gravou a faixa “Obssessed”.)

That for sure is not a man to me
Slanderin' names for popularity
It's sad you only get your fame through controversy
But now it's time for me to come and give you more to say

[“Taí um cara que com certeza não é um homem pra mim/ Falando dos outros pra ganhar popularidade/ É triste que a sua fama venha só da controvérsia/ Mas agora é a hora de eu chegar e te dar algo mais a dizer”]

A faixa ainda conta com a participação da Lil’ Kim. Talvez seja uma tentativa de sair do ostracismo por parte da rapper, mas que ficou foda, ficou. Lembrando que a mesma escreveu o seguinte som:

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Outra faixa que chama atenção no álbum é uma velha conhecida de todos nós, ex-adolescentes renegados que em algum momento se identificaram com o refrão. Sim, “Beautiful” é uma música fofa, triste e encorajadora para todos nós. Acredito que ela deva ser um dos hinos dos movimentos de aceitação do corpo #bodypositive.

Inclusive me lembrou um pouco de “Unpretty”, do TLC, lançada em 1999. As duas músicas são ótimas, mas sempre fico um pouco melancólica quando escuto o som do TLC. Para quem não lembra, olha só:

Uma curiosidade sobre “Beautiful”. Ela foi escrita por Linda Perry, ex-4 Non Blondes e o Elvis Costello fez cover do som (?). Alguns também a consideram um hino de apoio à comunidade LGBTT. Além de tudo isso, é uma das canções interpretadas por Christina que mais fizeram sucesso na sua carreira que, convenhamos, não possui poucos hits.

Ela também foi relembrada em um dos melhores filmes adolescentes do mundo:

Não estou falando que essa música é um hino feminista, nem que a Christina é uma feminista mais legal que a Beyoncé. Mas pensem comigo: quantas meninas cresceram escutando Christina Aguilera? Numa época em que riot grrl e girl power estavam esquecidos e feminismo era uma palavra em desuso, a postura de Xtina foi algo realmente poderoso.