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Música

Família Madá Mete um Ollie por Cima das Críticas de Apologia às Drogas

Apesar das tretas digitais no YouTube e até um emprego perdido, o grupo de rap paulistano segue seu enfumaçado caminho com rimas sagazes no estilo "moleque-ligeiro".

A banda na Praça Roosevelt, em São Paulo, onde gravaram o clipe de "Skatefamília". Todas as fotos por Guilherme Santana.

Desde que o Família Madá apareceu no Noisey pela primeira vez, ficamos abestalhados com o sucesso repentino que estes jovens conseguiram. O clipe de “Skatefamília” tem mais de um milhão de views no YouTube. “Sol” bate fácil a marca de três milhões. Coveiro, um dos mais espontâneos do grupo, justifica: “Os chapado se identifica!”. Realmente, com esses números, fica difícil questionar.

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Mas se o clipe trouxe fãs, também rendeu dor de cabeça para a banda. “Perdi meu trampo por causa de ‘Sol’! Depois que o clipe já tava com 700 mil visualizações, minha chefe me chamou e falou: “muito legal, mas tão falando de droga!”. Eu ainda falei que não usava no clipe, mas não adiantou”, conta Coveiro.

Esse foi apenas o primeiro perrengue. Desde o lançamento do clipe “Cristal”, em dezembro do ano passado, muita gente vem torcendo o nariz e acusando os caras de apologia à metanfetamina. Mesmo assim, o vídeo já ultrapassou as 600 mil visualizações. Chayco não enxerga seu trabalho sob esta ótica: “Não acho que alguém vai usar droga porque escutou uma música. E é sobre intepretação também, porque tem quem vai interpretar como apologia e tem quem não. É tudo muito relativo. A maioria que critica não entende. Não sabe o que é MDMA, não sabe o que é metanfetamina, acha que tudo é a mesma coisa. Mas ‘Cristal’ é sobre MD”.

A proposta dos meninos é simples: fazer um som sobre o que estiver passando pela cabeça, mas claro, sem deixar de encarar as consequências de suas palavras. Suas letras simples falam do cotidiano da noite, e seus clipes estilosos mostram tudo que muita gente dessa faixa etária anseia: rolês intermináveis, cenários paradisíacos, dar uns ollies, ondas e ocasionalmente uma desbaratinada nas ideias.

Eles seguem aquela linha sagaz do rap gringo atual, influenciados por Young Thug, A$AP Mob, Flatbush ZOMBiES, Schoolboy Q, Joey Badass e “tudo que tem base boa”, segundo Chayco.

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Da esquerda pra direita: Coveiro, Neg e LX

Quando pergunto sobre compor ao lado de uma gravadora, a resposta de Coveiro é direta e reta: “Dependendo do pataco!”. Todos riem, e ninguém discorda. Mas Chayco sabe que a liberdade de expressão que tanto defende pode estar comprometida: “Selo que chega e diz que não pode falar de droga, que não pode falar de qualquer coisa, eu já perco a vontade. Eu gosto de fazer rap porque eu valorizo muito a liberdade de expressão. Tem gente que fala de crime, de droga, de morte e por que não de coisas bonitas? A gente levou mó tempo pra fazer um barulho por causa disso, porque a gente sempre fala o que a gente quer falar.”

Como o pico é referência para os skatistas paulistanos, era obrigatório registrar o rolê sobre rodinhas.

Mas uma coisa é certa: mesmo as composições seguindo aquele estilo “moleque-ligeiro”, alguma maturidade deve ser considerada: “Nosso som é simples, a gente fala o que tá acontecendo, não o que é pra acontecer”, diz Chayco. Com aquela singela palavrinha mágica, Coveiro encerra o papo: “Você não tem que fazer música pra salvar o mundo. Você faz música sobre o que você quiser, mano. Foda-se!”

Chayco, malandro, não deve nada a ninguém.

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