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Música

Chorei Largado no Show do Milionário & Marciano

Um repertório pra coração nenhum botar defeito, com o melhor de Milionário & José Rico e de João Mineiro & Marciano.

139 anos de música sertaneja. Foto: Guilherme Santana/VICE

A última quarta (11) foi dia de engraxar a botina, meter a flanela na fivela e ver a jiripoca piar. Nada disso literalmente aconteceu, claro, até porque jiripoca é um peixe e até onde se tem notícia peixes não piam em shows de música sertaneja. O Citibank Hall, aquela casa de shows longe de tudo, recebeu os ícones da música sertaneja Milionário, da dupla Milionário & José Rico, e Marciano, da dupla João Mineiro & Marciano, num encontro batizado de LENDAS, que segundo este teaser maravilhoso anuncia, é uma declaração de amor ao circo e o maior acontecimento dos últimos 100 anos da música popular brasileira.

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De fato, o circo estava lá. Palhaço, bailarina, trapezista, acrobata, só faltaram o mágico e os animais silvestres, proibidos nos circos do estado de São Paulo há dez anos. O apresentador do espetáculo era o ator Marcos Frota, eternamente confundido pelos populares com seu personagem mais famoso. Ao aparecer na plateia, foi logo saudado: "Olha o Tonho da Lua".

Uma playlist suave trazia a voz doce de Salgadinho do Katinguelê cantando "Lua Vai", seguida daquele som do Art Popular em que a mina reclama do apogeu do cara e se chama "Temporal", e de "Telegrama" do Exaltasamaba. Neste momento já dava vontade de sair pela tangente e procurar o pagodinho mais próximo. Aí tocou "Domingo de Manhã", do Marcos & Belutti, e tudo voltou ao normal.

O circo do Marcos Frota. Foto: Guilherme Santana/VICE

Depois das palhaçadas, das danças, dos malabares, das acrobacias pique Cirque du Soleil e dos convidados finalmente pararem de tirar selfies e se abraçarem, Milionário e Marciano entram no palco deitando o cabelo e mandando ver em "Ainda Ontem Chorei de Saudade". Deu até uma nostalgia da minha mãe fazendo o rango no domingo e ouvindo a Tupi FM.

Milionário, ou Seu Romeu Januário de Matos, é pequeno, mas elegante. Trajava, na primeira parte do show, um chapelão bonito, preto e bem discreto, um terno bem cortado, camisa branca e uma calça de couro de dar inveja ao Jon Bon Jovi. Sua bota bico fino, com um ligeiro saltinho na parte de trás, é um capítulo à parte de tão foda.

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José Marciano é de Bauru e nasceu no dia da mentira, em 1951. Sua aparência é uma simbiose do Roberto Carlos, mais style, com Joey Ramone com as pernas menos tortas. Sempre de branco, entrou na estica com uns fivelões no cinto e nas botinas, além de calça, camisa e ternos impecavelmente lavados com Vanish.

A fusão sayajin se deu depois das mortes de João Mineiro, em 2012, e de José Rico, em março deste ano. E foi tudo ideia do Sorocaba, da dupla Fernando & Sorocaba, que fez a produção executiva do espetáculo. Fernando ficou com a produção musical.

Tinha tanta informação e a coisa tava tão maravilhosa que demorei umas quatro músicas pra sacar que tava rolando um playbackzinho maroto que preferi relevar para manter a emoção. Os 19 músicos tocavam ao vivo mesmo e mandavam muito bem. Teve "Aline", "Viola Está Chorando" e até uma acusação de talaricagem de Marciano. Ele contou, ali com um monte de testemunhas, que Milionário furou o olho dele em tempos longínquos e ainda prometeu dar o troco.

Como eles já tão com o nitro mais baixinho, rolou uma pausa pro pessoal que tava filmando trocar os cartões de memória (eram pelo menos 14 câmeras registrando tudo para depois transformar num DVD ao vivo), pros beberrões calibrarem o fígado e para algumas senhoras reclamarem do adiantado da hora.

A galera do chapeú personalizado acompanha Marciano em tudo quanto é lugar. Foto: Guilherme Santana/VICE

Eles voltaram de roupa trocada. Marciano novamente de branco, mas num look mais despojado, e Milionário combinando camisa jeans com o terno jeans e outro chapelão style. e seguiram fazendo este coraçãozinho palpitar ainda mais. Eles tocaram dois sons novos, "Localizador" e Lágrimas de Amor", e ainda mandaram ver outros hits. Teve "Amor e Amizade (Dia Sim Dia Não)", "Decida" (que deve fazer muito sentido pra quem se casou em 1982), "Se Eu Não Puder te Esquecer", "Estrada da Vida". Neste momento eu já pensava em abraçar desconhecidos e chamar pra um boteco na saída dali. Aí veio "Seu Amor Ainda É Tudo", que trouxe uma discreta, mas muito sincera emoção. "Daquele momento até hoje esperei você. Daquele maldito momento até hoje só você. Eu sei que o culpado de não ter você sou eu. E esse medo terrível de amar outra vez é meu".

Eles jogaram rosas brancas ao público e se perderam naquele picadeiro hi tech. O show das LENDAS chegou ao fim num climão de bailão e de nostalgia. Sabe aquele trecho de "Ainda ontem chorei de saudade"? Ele tá fazendo muito sentido faz alguns dias.

Aquele apertão de mão pra sair bonito pros fotógrafos. Foto: Guilherme Santana/VICE