"Morte em Vida" é a mais nova gravação de estúdio que o Ação Direta revela ao mundo e um dos três sons que vão integrar o EP split com os grinders do Meant To Suffer. O lançamento, uma parceria entre os selos Equivokke Records e Karasu Killers, sairá em vinil e tudo, no Brasil, Estados Unidos, Europa e Japão. Só que, segundo apuramos, deve levar aí mais uns dois ou três meses pro esquema se materializar. Eles gravaram um álbum não faz muito tempo, o World Freak Show, mas as faixas em questão permanecem inéditas até o momento, sem um registro oficial. Então esse streaming que a banda liberou pra gente em primeira mão e com exclusividade nesta quinta (5) é puro ouro. A música traz o bom e velho crossover característico do grupo surgido no ABC paulista há 27 anos: uma incendiária fusão entre hardcore, crust, grind e death metal. Já a letra aborda o comportamento depressivo do homem contemporâneo - um zumbi cuja luta pela subsistência é a maior aventura que já pensou em desfrutar. Só para não perder o hábito, aproveitei o contato com o Gepeto, vocalista da banda, e emendei algumas perguntas:
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Gepeto: O Ação Direta me surpreende a cada ano. É um compromisso de fé, uma jornada de muitas batalhas, esforços, abdicações e tudo mais. Somos uma família, uma banda de amigos e esse tem sido um dos motivos da nossa longevidade. Musicalmente, evoluímos muito, e sempre procuramos misturar, agregar, experimentar e trazer elementos novos para o nosso trabalho. Nunca nos preocupamos com radicalismo ou com o policiamento por parte de subgrupos. No início fazíamos uma mistura de hardcore, punk rock e metal. Essa foi nossa base e, em cima disso, ensaio a ensaio, show a show, dia a dia, fomos evoluindo, moldamos nosso próprio estilo, e hoje somos muito respeitados por isso. Temos oito álbuns em nossa discografia e todos são diferentes entre si. Tentamos não repetir fórmulas. Nossas letras deixaram de ser panfletárias e ingênuas. Deixamos para trás as palavras de ordem e mergulhamos em pesquisas, informações, pontos de vista. O ser humano, o existencialismo, os questionamentos e a temática cotidiana fazem parte das questões abordadas em nossas músicas. Não temos compromisso com modismos ou imposições. Nosso estilo é AÇÃO DIRETA! Agregamos isso ao nosso dia a dia, às nossas vidas.
Não somos cobrados por posicionamentos, salvo pouquíssimas situações esporádicas. São anos de integridade, atitude e ótimas amizades conquistadas. Começamos com a banda em 1986-87, no ABC paulista. Foi uma época muito louca! Havia um certo esfriamento no movimento punk devido às brigas entre as diferentes tribos e uma total falta de espaços dedicados ao estilo. Estava rolando a explosão do trash metal nacional e do crossover, fundindo o punk e o metal. E ali estávamos nós, vindo do cenário punk e agregando todas essas novas possibilidades e influências. Sempre fomos uma banda que misturou os estilos e que navegou e navega pelos universos do hardcore e do metal.Como está a cena no ABC? A nova geração que curte som na região acompanha o legado do Ação Direta? Vocês acham que o hardcore feito no pedaço tem uma pegada própria?
A cena no ABC segue forte e ativa. Temos hoje alguns espaços menores rolando ótimos shows. As bandas têm muita coletividade, fazem parcerias, intercâmbios e se organizam. Algumas bandas gringas em tour pelo país têm mantido o ABC em suas rotas. O Ação Direta vem recebendo um feedeback muito forte dessa nova geração. Eles curtem, vão descobrindo nossa obra, se identificam com os álbuns e as letras e há um sólido respeito ao nosso legado. Sem dúvida alguma, viajando por tantos lugares, conhecendo tantas culturas diferentes, a gente aprende a enxergar e entender cada lugar, cada cidade, cada estado. Cada cena tem em suas bandas uma sonoridade própria. Elas refletem o meio em que vivem. Aqui, na cidade de São Bernardo do Campo, sempre tivemos a tradição de sons violentos, bandas de sonoridade agressiva. Alguns dos melhores exemplos incluem Passeatas, Ulster, Hino Mortal, Libertação Radical, Cova, Necromancia, F.D.S., War Hate , Negative Control, Molotov Attack, Chaos Lace, enfim, a cidade é HARDCORE METAL na veia.
Sem paradas! Temos orgulho em dizer isso! Poucas bandas atingiram ou atingirão essa marca. Hoje somos mais profissionais e experientes. Conseguimos dividir nosso tempo entre a banda e a vida pessoal de cada um. Ensaiamos só em períodos de shows e, quando decidimos iniciar um processo de composição, aí rolam ensaios focados. Tem sido assim por todos esses anos e tem funcionado. A gente costuma trabalhar nas ideias quando elas surgem, individualmente. Aí quando já temos as bases consolidadas e as ideias mais avançadas, nos juntamos para dar forma às músicas. Particularmente, gosto de escrever a letra em cima das bases já prontas. Raramente escrevo uma letra sem ter uma música. Nessa correria toda, períodos de shows e de composições costumam se misturar.