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Música

Ouvimos as Afro-brasilidades do Goma-Laca e Soltamos uma Faixa e um Vídeo Exclusivos

Músicas do início do século XX cantadas por Juçara Marçal, Lucas Santtana, Russo Passapusso e Karina Buhr.

Enquanto Madame Satã, Beto Batuqueiro, Sete-Coroas, Miguelzinho, Edgar e Meia-Noite zanzavam com suas navalhas pela Lapa, Cais do Porto e Praça Onze, a música afro-brasileira ganhava corpo no país. A Pequena África de Tia Ciata, boteco no centro do Rio, era frequentado por gente da laia de Pixinguinha, Donga, Sinhô e João da Baiana. Numa esquina aqui e outra ali, o lundu, maxixe, embolada, cateretê, samba de roda, maracatu, chula, coco e outros batuques batiam e começavam a ser gravados. Nos sambas a macumba era lembrada, a goma-laca e a carnaúba eram usadas para fazer os discos e os orixás se tornavam personagens ativos.

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Para recortar este trecho da história da música brasileira, a dupla Ronaldo Evangelista e Biancamaria Binazzi esquentaram a moleira para produzir um álbum com clássicos da primeira metade do século XX, regravados pela nata da nova música brasileira. Mergulhados na Discoteca Oneyda Alvarenga, do Centro Cultural São Paulo, fuçaram boa parte da herança de Mário de Andrade para selecionar 11 canções clássicas feitas de 1920 a 1950. “Além de poeta e musicólogo, o Mário tinha um profundo compromisso com a formação de uma cultura verdadeiramente nacional, e chegou a ocupar o cargo de diretor do primeiro Departamento de Cultura da cidade de São Paulo. No pouco tempo em que atuou na política, conseguiu criar mecanismos geniais para a aproximação/apropriação do público e as manifestações culturais de diferentes regiões do país. É muita coisa, muito mais de 300, ou 350. Além da criação da Discoteca Pública Municipal, em 1935”, diz Biancamaria Binazzi.

Depois da pesquisa, veio a hora das regravações, com direção musical de Letieres Leite, da Orkestra Rumpilezz. “Letieres é o coração do álbum, a musicalidade sobre a qual tudo se construiu. Já admirávamos muito seu trabalho com a Orkestra Rumpilezz, entre tantas outras coisas em que se envolve. Conhecê-lo pessoalmente foi sentir que sua energia seria perfeita para o processo”, comenta Evangelista. Para as vozes, convidaram Russo Passapusso, Juçara Marçal, Karina Buhr e Lucas Santtana. A banda é formada por Serginho Machado na bateria, Marcos Paiva no contrabaixo acústico, Hercules Gomes no piano elétrico e Gabi Guedes, também da Rumpilezz, nos atabaques. “Convidamos a participar do Goma-Laca artistas que admiramos, em que víamos alguma relação (mesmo que não óbvia) com o universo e época que investigávamos, que desconfiávamos que se interessariam como nós por aquelas descobertas”, conclui.

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O show de lançamento será no dia 23 de agosto no teatro de arena do Centro Cultural São Paulo e abrirá os caminhos para a comemoração dos 80 anos da Discoteca Oneyda Alvarenga.

Se liga no som que eles tiraram em “Batuque”, originalmente gravada por Stefana de Macedo, em 1929, interpretada por Russo Passapusso:

E também no vídeo abaixo: