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Música

O Replacements Está Pouco se Fodendo Para os Fãs

Enquanto Westerberg e companhia engatavam uma música incrível atrás da outra, o sucesso que lhe escapou em sua época dourada no Replacements finalmente pôde ser visto no espelho retrovisor.

Todas as fotos via Instagram

No mundo de Paul Westerberg – o compositor brilhante e angustiante, representante de todos nós, os perdedores desse mundo, em sua banda, The Replacements – somos todos manés. Nosso querido Paul não resmungou ou engrolou essas palavras lá do palco ("vocês pagaram, então a gente veio", consta que ele disse no show recente de retorno ao seu estado de origem, Minnesota), mas bem que poderia ter dito, enquanto ele e seus comparsas nessa carreira de foder com as coisas, o baixista do Guns 'n' Roses Tommy Stinson, o guitarrista Dave Minehan e o bateirista Josh Freese (o "Replacements" reconstituído) chamuscavam a clássica música de abertura dos shows, "Favorite Thing".

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"I don't give a single shit!" (estou pouco me fodendo) diz o refrão que Westerberg berra e vocifera em meio àquele flamejante riff do marco do rock underground/universitário lançado pelos Replacements em 1984, Let it Be. Nessa nova versão da banda, Paul realmente está cagando para tudo. Não está nem aí para os milhares e milhares de fãs anciões (incluindo esta múmia aqui) dos 'mats que foram até a porra de Forest Hills, no Queens, em Nova York, ansiosos por ouvir mais uma vez as faixas de punk rock insanas e feitas nas coxas, com suas arrogantes introspecções de lobo solitário – a trilha sonora de uma juventude patética que devia ter trazido fama e dinheiro a Paul.

Agora, vinte e três anos depois que os 'mats se despediram pela primeira vez, Westerberg finalmente está embolsando uma grana, e porra, esse filho da puta grisalho de 54 anos bem que merece. Para as multidões geriátricas que desembolsaram 60 contos por ingresso (mete aí mais 15 pilas por "taxas de serviço"), foi a realização do sonho de um aficcionado por indie rock já ficando velho. A falta do Deer Tick foi sentida (desculpem, entraram cedo demais), mas entramos no estádio caindo aos pedaços às 19:45, e o pessoal do Hold Steady já estava nos toques finais do seu set. Merda. Entram os Replacements: 20:25! Apesar do friozinho de setembro, da decrepitude de nossos ossos enquanto ficávamos ali de pé ou sentados em nossas bundas, com as obrigatórias cervejas a reboque, e dos minúsculos bolsões de gente pulando e surfando em cima da galera na frente do palco, Westerberg nos deu aquilo que viemos para receber. Depois de "Favorite Thing" veio "Takin a Ride" (tá captando o tema "tô pouco me fodendo" aqui?) e ah, Paul pôs a gente nas costas de cavalinho e foi embora.

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Diante dos que cantarolavam os hinos de Westerberg, proféticos e poéticos, os hinos do excluído olhando para o que não tem, palavra por palavra, punhos socando o ar para completar a glória, e diante dos que literalmente choravam (porra, gente, isso não é Neutral Milk Hotel) – o sempre pateta e bem-vestido Paul lindamente errou letra atrás de letra, classicamente estragou por completo "Left of the Dial" e murmurou de maneira indecifrável (e bêbada? Esperemos que não, ele largou a bebida anos atrás) o show inteiro. Se Paul estava tentando recapturar os lindos festivais de bebedeira e o implacável bombardeio de lendas a respeito dos shows dos Replacements, o show foi uma obra de arte.

Houve a diarreia explosiva de traquinices e a afinidade perfeita entre Paul e Tommy, enquanto o baixista palhaço e sempre enternecedor reclamava aleatoriamente sobre se estabacar e arrebentar o nariz no trem a caminho do show – antes que o estadista ancião fizesse calar seu discípulo a tempo de meter bala em uma porrada de clássicos dos 'mats, como "Love You In The Fall." Você sabe, o tema roqueiro, viciante e destrambelhado daquele desenho infantil, Open Season – o tipo de riff que Paul escreve dormindo. Westerberg impôs um fim abrupto àquela pauleira ("essa aqui é melhor", proclamou ele) antes de entrar de repente nas orgásmicas salvas de estocadas um-dois, "Can't Hardly Wait" e "Bastards of Young."

Enquanto milhares de fulanos de barba grisalha já ficando carecas e senhoras que idolatravam Paul e Tommy gritavam em uníssono o refrão monumental de solidão e falta de sentido de "Bastards of Young", convergiam cantando junto a versão abluesada da canção confessional de revolta contra papéis de gênero "Androgynous" e as arengas de solitário "If Only You Were Lonely" e "Nowhere Is My Home", nosso herói, sorrisinho na cara, garganta arranhando, dominou tudo sem perder a descompostura.

Antigamente, o palavreado arrogante de Westerberg era – e ainda é para uma certa facção – a linguagem dos perdedores da Terra do Rock Amerindie. Trinta e poucos anos se passaram desde que Westerberg colocou seu selo de Ente Supremo naquelas gravações seminais que viraram a salvação do nerd musical. Mas enquanto Westerberg e companhia passavam o trator, com uma música incrível atrás da outra – apropriadamente na frente de um público com mais de quinze mil fãs ensandecidos em uma casa de espetáculos improvável no Queens – o sucesso que lhe escapou em sua época dourada no Replacements finalmente pôde ser visto no espelho retrovisor. A hora de ele gozar da glória finalmente chegou, e pouco importa se ele está ou não pouco se fodendo.

Setlist:
Favorite Thing
Takin’ a Ride
I’m In Trouble
Don't Ask Why
I'll Be You
Valentine
Waitress in the Sky
Tommy Gets His Tonsils Out/ Third Stone From The Sun (Jimi Hendrix)
Take Me Down To The Hospital
I Want You Back (The Jackson 5)
Color Me Impressed
Nowhere is my Home
If I Only You Were Lonely
Achin’ to Be
Kiss me on the Bus
Androgynous
I Will Dare
Love You Til Friday/Maybelline (Chuck Berry)
Merry Go Round
All Shook Down
Swingin’ party
Love You In The Fall
Can't Hardly Wait
Bastards of Young
White and Lazy
Left of the Dial
Alex Chilton
Unsatisfied

Tradução: Marcio Stockler