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Música

A Insurgência Ópera de Protesto combinou o espírito punk ao rock setentão

Depois de uma série de inflamados shows em ocupações e espaços públicos, a banda que conta com integrantes d’O Inimigo e Jah-Hell na formação lança o ‘Ato 2’ de sua ópera-rock.
Foto: Tiago Queiroz/Divulgação

Desde janeiro de 2015, quando lançou o seu Ato 1, a banda paulistana Insurgência Ópera de Protesto não fez nenhuma apresentação em lugares convencionais, nem cobrou ingresso por elas. Para o quarteto, cujas letras são embebidas de manifestos anticapitalistas, o meio é a mensagem. Logo, se eles estão criticando o espetáculo, nada mais coerente que os shows rolem à parte de qualquer esquema envolvendo o mercado do entretenimento. Até aqui, o grupo formado pelo Juninho Sangiorgio (Ratos de Porão, O Inimigo; baixo), Alex (Jah-Hell; guitarra), Rodrigo Saldanha (Stiffs; bateria) e Celão Rodrigues (Dumblideaf; vocal), só tocou em espaços públicos ou ocupados. "Eu levo os equipamentos do meu estúdio", conta Juninho, "tenho batera, os amplis de guitarra e de baixo. O vocal comprou um par de PAs, e para ligar o equipo usamos um gerador igual aquele dos caras do Test. Dá pra transportar tudo em dois carros."

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Com essa infra, a Insurgência tem levado sua mensagem a endereços como a Avenida Paulista e ocupações de sem tetos. Numa delas, próxima à Radial Leste, a ocupação autônoma Alcântara Machado, eles se apresentaram duas vezes. "É uma ocupação antiga, só de morador de rua. A gente colou lá, trocou ideia, fez os shows, e, mano, é muito louco, porque os tiozinhos que estão lá comparam a nossa banda com Titãs, Camisa de Vênus. Então, a referência do som é um pouco diferente…", comenta o baixista. Os shows nas ocupações escolares recentes, segundo ele, estão entre os mais legais. "Certa vez, tocamos num evento organizado pelos ocupantes da escola José Lins do Rego, que fica no M'Boi Mirim, na zona sul. Houve uma mobilização bem forte lá. Fizemos o show de lançamento do fanzine que os próprios estudantes editaram sobre as ocupações."

Os integrantes da Insurgência Ópera de Protesto estão sempre nos rolês de manifestação, do Passe Livre, dos secundaristas, que estão rolando aí. A militância, há muito, é algo natural na vida deles. "É inevitável", diz Juninho em nossa conversa ao telefone, "todo ensaio a gente comenta os fatos políticos da semana". Desses bate-papos, saem temas como o da canção "Geraldo", sobre quando estourou o lance da merenda, junto com a reforma no ensino médio, e o Alckmin começou a apavorar geral, mandando a Polícia Militar para cima dos estudantes.

O som abraça a força das mensagens numa atmosfera bem climática. Seguindo a linha progressiva/ópera-rock, o instrumental reverbera Black Sabbath, Cream e Led Zeppelin, mas vem acrescido de uma pegada que, quando mais enérgica, aponta para algo meio Rollins Band. O Ato 2, que o Noisey disponibiliza nesta quarta (23), traz o repertório elaborado já com o Rodrigo na bateria — o Brandini, que formou e definiu a proposta da banda junto com o Celão, mudou-se para a Austrália depois de participar do Ato I. Enquanto no primeiro ato os interlúdios que costuram as faixas foram criados só depois, quando surgiu o conceito de ópera, neste, tudo já nascera dentro da dinâmica.

"No primeiro, pegamos certas notas das músicas, que batiam umas com as outras, e começamos a montar interlúdios. E nesses intervalos, sem pausa, começamos a criar comentários e discursos introdutórios para cada música. Neste segundo, já sabíamos o que queríamos baseados no primeiro. Foi um pouco mais fácil de construir os interlúdios, de pensar numas pontes", explica Juninho.

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