É assim que o paulistano volta pra casa de trem quando chove em SP
Plataforma de embarque abarrotada. Foto: Alfredo Henrique/ VICE

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É assim que o paulistano volta pra casa de trem quando chove em SP

“Não há condições de entrar no trem. Eu seria amassada, o pessoal não respeita nem grávida."

Uma parcela considerável de trabalhadores, estudantes e moradores de São Paulo e da região metropolitana precisa encarar diariamente a “via sacra” de tentar ir e voltar para casa nos horários de pico do transporte público. A situação que é ruim, quando “normal”, fica ainda pior em dias de chuva ou quando ocorrem problemas técnicos em veículos do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitana (CPTM). Quando o combo chuva e falhas estruturais acontece, aí o caos se instaura – como aconteceu no final da tarde, e durante a noite desta quarta (28) na estação Pinheiros, da Linha-Esmeralda da CPTM, para quem queria ir no sentido Grajaú.

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A VICE esteve no local e verificou que, segundo anúncio sonoro da própria CPTM, uma falha técnica de energia deixou inoperantes as estações Grajaú e Jurubatuba, em um primeiro momento, e depois Grajaú e Primavera-Interlagos. Até às 22h do mesmo dia, a circulação de trens nas duas últimas estações mencionadas estava interrompida.

Foto: Alfredo Henrique/ VICE

O resultado da falha técnica foi a aglomeração de milhares de pessoas na plataforma de embarque. Quando um trem chegava, já cheio, dezenas se espremiam para entrar nos vagões. A grande maioria dos que conseguiam entrar era de homens, que usaram da força bruta para abrir caminho e garantir espaço onde, aparentemente, não havia. A reportagem embarcou por poucos minutos em um vagão, não conseguindo movimentar um músculo sequer. Viu uma mulher desmaiar, sendo amparada por usuários que a colocaram em um banco do vagão. Outra também passou mal e, com muito custo – da mesma forma que a VICE – desembarcou do trem se valendo de empurrões e gritos de “preciso sair”.

“As pessoas não têm bom senso, nunca respeitam”

A falta de respeito, aliada à violência para se garantir centímetros quadrados nos vagões, fez com que a assistente de Recursos Humanos Milena Castelho Zaco, 24, aguardasse sentada, com o filho de um ano no colo, que a situação fosse minimamente amenizada. “Hoje a coisa está pior do que já é. Está impossível embarcar e, caso eu tentasse, as pessoas não têm bom senso, nunca respeitam, mesmo se eu estiver com uma criança de colo”. Ela aguardava a chegada da irmã, com a qual iria dividir uma corrida de Uber para voltarem para suas respectivas casas.

Encostado em um painel com o mapa das linhas da CPTM, o aposentado Jair Caetano, 60, também aguardava com esperança que o número de pessoas diminuísse um pouco para tentar voltar para casa. “O povo não respeita ninguém, nem pessoas de minha idade. Já tentei (em outras ocasiões) embarcar, mas me machucaram. Prefiro então esperar”. Caetano conversou com a VICE por volta das 18h30. Quando eram 19h10, a reportagem o encontrou subindo as escadarias da estação. “Vou pegar um metrô, e depois um ônibus. Não vai dar pra ir pra casa (na estação Primavera-Interlagos) de trem hoje não”.

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Na escadaria em que houve o encontro com o aposentado, a reportagem encontrou a assistente financeira Flaviana Dantas de Oliveira, 24, grávida de nove meses. Acariciando a barriga, ela repetiu os mesmos motivos usados por Milena e Caetano que a levaram a não embarcar. “Não há condições de entrar no trem. Eu seria amassada, o pessoal não respeita nem grávida”. Acrescentou que a filhinha que espera estava agitada dentro da barriga. “É muito movimento e tensão. A bebê sente”.

Problemas são corriqueiros na companhia

Em 2017, foram registrados ao menos 129 problemas nas linhas da CPTM e 145 no Metrô. Segundo balanço administrativo mais recente divulgado pela CPTM, de 2016, quase 820 milhões de pessoas usaram as linhas de trem, das quais 392 milhões foram pagantes. Ainda no mesmo ano, a média diária de passageiros que usaram o serviço foi de 2,7 milhões, o equivalente à população da Jamaica.

Saindo do inferno

A VICE permaneceu por cerca de uma hora e meia na estação e verificou que os trens, após chegarem ao local, demoravam entre 10 e 20 minutos para saírem de Pinheiros – estando apinhados de pessoas. Por fim, a reportagem seguiu o fluxo de passageiros que subia a escadaria e, lentamente, foi caminhando até chegar ao limite entre a CPTM e o Metrô. As plataformas da Linha-4 Amarela estavam com seu fluxo normal. Mas as escadas da estação eram usadas por uma grande massa de passageiros, que seguiam para o terminal de ônibus – local em que muita gente não precisaria ir, pois já haviam pagado para ir embora, de trem, para casa.

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