FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Discos: John Frusciante

Outro disco dentro do mesmo registo arriscaria ser insuportável.

Enclosure

AWDR/LR2

Há tanto para dizer sobre a capa de Enclosure, o mais recente álbum de John Frusciante, que vem fechar um ciclo iniciado com o EP Letur-Lefr e depois prolongado com PBX Funicular Intaglio Zone (LP) e Outsides (também esse um EP). Na capa de Enclosure, Frusciante encontra-se dentro de um círculo vermelho que ele próprio pintou à sua volta. Não me ocorre agora outra imagem que pudesse representar tão bem a posição artística do homem: ali está portanto aquele que um dia teve o mundo aos seus pés enquanto guitarrista dos Red Hot Chili Peppers, mas que mais tarde optou pelo isolamento e por gravar discos seguindo uma visão demasiado extravagante para funcionar num colectivo.

Publicidade

Frusciante desenha o círculo a partir de dentro porque este “estranho modo de vida” é uma decisão sua e não uma atitude imposta pela grande máquina dos estúdios e managers manipuladores. Está finalmente fechado o círculo vermelho para sinalizar também o propósito de Enclosure, como palavra final num manifesto de quatro discos, em que Frusciante procurou sempre, mesmo que com resultados variáveis, abrir o método das suas canções e atirar lá para dentro toda uma série de recursos electrónicos geralmente utilizados como breaks. Sobre os 11 temas incluídos nesta versão japonesa de Enclosure é difícil tecer considerações que não repisem o que já foi dito aqui sobre esta tetralogia: a sua voz continua geralmente a soar como se estivesse a comunicar com o divino ou o além; as guitarras “cantam” no jeito inimitável de sempre, embora tantas vezes sejam encobertas pela porrada de breaks que marca todo este último conjunto de canções.

Escutamos

Enclosure

 e é por demais natural sentirmos que Frusciante está a perder algumas bonitas canções com a chamada de tantos breaks, mas é esse mesma ousadia que rende dois ou três temas que não aconteceriam sem a mesma experimentação. “Fanfare”, por exemplo, deixa-nos espreitar o que poderia ser uma realidade alternativa em que Frusciante gravava, com Giorgio Moroder, aquelas super-baladas que passam na rádio, à meia-noite, para aquecer o sangue de quem está a badalar a essa hora. Se o vosso prato for esse, nunca esqueçam

Publicidade

“Midnight Blue”

, dos Dreamers, nas mixtapes do amor. Numa altura em que

Enclosure

 já nos tem algo fatigados, “Crowded” merece também ser destacada, nem que seja pela sua intensidade berrada, que não ouvíamos desde os discos de Ataxia (outro projecto de Frusciante).

Acabam por ser esses momentos mais curiosos aqueles que fazem valer a pena o desgaste imposto por um Enclosure que não modera nem carrega mais nos excessos deste “Frusciante breakado”. Outro disco dentro do mesmo registo arriscaria ser insuportável. John Frusciante acertou no momento em que decide fechar estas contas: voltamos a observá-lo na capa e lá está ele dentro de um círculo, tal como o Willem Dafoe, n’

A Última Tentação de Cristo

, à espera que uma voz maior (Deus ou a musa) lhe diga para onde deve ir a partir daqui.